Moradores da zona rural querem processar Cemig por falta de energia elétrica

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Sem energia: moradores da zona rural querem processar Cemig
Cemig deixa moradores de distritos uma semana sem energia elétrica. Foto: Fernando César Fortunato

Produtores rurais e moradores dos distritos de São José do Itapinoã, Nova Brasília e Alto Santa Helena, em Governador Valadares, vão acionar, na Justiça, a concessionária Cemig, por eventuais prejuízos causados com a falta de energia elétrica.

Eles afirmam que tiveram o fornecimento do serviço interrompido durante uma semana, entre os dias 1º a 8 de dezembro, após a queda de quatro postes e da rede principal, que abastecia os três distritos.

Apesar de o problema ter sido resolvido no último dia 8, pela Engelmig, empresa terceirizada da Cemig, produtores rurais dizem contabilizar prejuízos e a comunidade afirma ter ficado exposta a perigo e desconforto durante a noite, sobretudo na hora de dormir.

Perdas

Entre os prejuízos, milhares de litros de leite e seus derivados, além de centenas de quilos de carne de porco, boi e frango foram jogados fora ou dados para os porcos e houve ainda perdas de vacinas para o gado.

A gente acorda todos os dias às 4 horas, enfrenta frio e chuva para  ordenhar as vacas e o resultado é esse prejuízo todo, durante uma semana”, disse o produtor rural Geovane Paes Dias, que teve que jogar fora cerca de 250 litros de leite ao dia, uma vez que o tanque resfriador depende da energia elétrica para manter o leite resfriado.

“Sem resfriar o leite, o carro da Cooperativa Agropecuária não recolhe o produto. Aí quem fica com o prejuízo somos nós”, justifica, lembrando que teve desfalque de cerca de R$ 500/dia, com as perdas do leite.

Além do leite, o produtor rural afirma ainda que perdeu vários quilos de carne que estragaram pela falta da energia no congelador. “Aqui a gente abate animais e estoca a carne para consumo. Então, passamos uma semana jogando carne fora”, relata.

Ele conta que o momento mais desconfortável era à noite, na hora de dormir. Além de escorpiões, ele temia a presença de cobras em casa, “sem falar nos pernilongos que perturbam ainda mais sem ao menos um ventilador no quarto”, diz Geovane.

“Vamos lutar para sermos ressarcidos pela Cemig. Não podemos arcar com esses prejuízos porque a culpa não é nossa”, enfatiza.

sem energia: moradores da zona rural querem processar Cemig
Geovane Paes: “Não podemos arcar com esses prejuízos”. Foto: Fernando Cesar Fortunato

Geovane não está sozinho nessa situação. Junto com ele, centenas de pessoas, entre elas o produtor rural José Francisco de Souza, mais conhecido como senhor Juca, que apesar dos seus 84 anos, ainda administra suas fazendas em São José de Itapinoã e Alto Santa Helena.

Um dos mais antigos produtores rurais também lamenta os prejuízos que teve com a falta de energia elétrica durante essa semana. “Foram em torno de mil litros de leite jogados fora e prejuízo de R$ 2 mil, durante esse período, além das carnes”, reclama, afirmando que quer ser ressarcido por esses prejuízos. “É nosso direito”, cobra.

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José Francisco de Souza (Sr. Juca): “Queremos ser ressarcidos por esses prejuízos”. Foto: Fernando César Fortunato

Já a trabalhadora rural Maria de Jesus (Baixinha), de Nova Brasília, reclama a perda da feira do mês, incluindo carnes, leite e derivados. “A gente trabalha duro para ter alimentos em casa, aí acontece isso. Estou passando aperto porque tive que jogar muita coisa fora que estragou por falta da energia elétrica”, desabafa.

Na mesma situação ficou o vaqueiro José Carlos de Souza que também perdeu toda a carne estocada em seu congelador. “É muito triste isso. Tivemos esses prejuízos e ninguém faz nada”, alfineta.

Sem energia: moradores da zona rural querem processar Cemig
Maria de Jesus: “Tive que jogar muita coisa fora”. Foto: Fernando César Fortunato
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José Carlos: “Tivemos esses prejuízos e ninguém faz nada”. Foto: Fernando César Fortunato

Mais danos

O líder da Igreja Católica Nossa Senhora da Penha, Geraldo Luiz da Silva, comenta que não teve perdas, mas aponta como inconvenientes a falta de água puxada pela bomba elétrica e falta de comunicação com os parentes, porque não tinha como recarregar os aparelhos de celular.

“Fiquei uma semana sem poder falar com os parentes espalhados por várias partes do país”, enfatiza. Motorista de uma Van Escolar, ele conta que ficou uma semana sem poder transportar os alunos, já que a escola da comunidade precisou suspender as aulas devido ao problema da falta de energia elétrica. “Foi terrível”, recorda.

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Geraldo Luiz reclamou de ficar sem falar com os parentes. Foto: Fernando César Fortunato

Triste com a situação que viveu nos últimos dias, o produtor rural Rivaldo Gomes da Silva mostra o tanque de leite azedo que já foi jogado fora. “Não dá para reaproveitar em nada, nem para coalhada e muito menos fazer queijo”, lamenta.

Segundo ele, o prejuízo financeiro é algo em torno de R$ 600 reais/dia. Além disso, ele acrescenta as perda de 25 quilos de carne de porco e a falta de água que é tirada na bomba que dependia de eletricidade. “Isso, sem contar as noites maldormidas por causa dos pernilongos. Espero não passar por uma situação assim nunca mais”, deseja.

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Rivaldo Gomes mostra o tanque de leite que ele precisou descartar. Foto: Fernando César Fortunato

Quem não teve prejuízos materiais com leite e carnes, com a falta de energia elétrica, no mínimo entrou em desespero para cuidar de filhos ou pais acamados. É o caso da aposentada Adilza Gonçalves, que tem uma filha adulta portadora de necessidades especiais desde que nasceu e precisa de cuidados 24 horas.

A mãe relata a sua angústia durante a semana em que o distrito de Alto Santa Helena ficou sem energia elétrica. “A minha filha depende de alimentação batida no liquidificador, além de ventilador em dias e noites de muito calor, entre outras atenções especiais. Imagina o que passamos nesse período, principalmente à noite e no escuro. Foi angustiante”, dispara.

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Adilsa Gonçalves relatou a angústia que viveu por causa da filha que tem necessidades especiais. Foto: Fernando César Fortunato

Queda de postes

O encarregado da Engelmig (empresa terceirizada da Cemig e responsável pela manutenção das redes elétricas), Márcio Antônio Papaline, justificou que a falta de energia nos distritos foi causada pela queda dos postes que, consequentemente, arrebentou a rede de distribuição.

Segundo ele, a queda dos postes deve-se às fortes chuvas que aconteceram no início deste mês, com ventanias que causaram muitos transtornos em diversos municípios da região Leste.

Tentamos vir o mais rápido possível sanar o problema nos distritos. Mas a péssima condições das estradas, tomadas por lamas, impedia os veículos de passarem pelo local”, ameniza. “Mas agora o problema já está resolvido, graças a Deus”, comemora o encarregado.

Foto – 08 – Márcio Papaline – Chuvas fortes e ventania causaram danos em diversos municípios”.

O que diz a Cemig

Procurada pela reportagem do O Olhar, a Cemig informou que a falta de energia nos distritos de São José do Itapinoã, Nova Brasília e Alto Santa Helena foi causada pelas fortes chuvas que atingiram a região, danificando a rede elétrica que atende a esses distritos em diversos pontos, derrubando vários postes.

Disse também que muitos dos postes danificados estavam distantes da estrada, em locais de difícil acesso. “Em alguns pontos só foi possível chegar a pé e a longa extensão dos circuitos que precisavam ser inspecionados, as chuvas fortes dos últimos dias, que fizeram com que um córrego transbordasse, impedindo passagem das equipes, são fatores que atrasaram os trabalhos da empresa, prejudicando o restabelecimento de energia”.

A empresa também respondeu que na manhã de quarta-feira (8), cerca de 20 empregados da Cemig, entre engenheiros, técnicos e eletricistas, estiveram no local para resolver o problema de forma definitiva.

Ainda segundo a nota, a Cemig garante que os consumidores que tiveram perdas de materiais perecíveis podem solicitar o ressarcimento na agência da Cemig, após  agendamento feito no site da companhia ou pelo telefone 116, informando a data e horário da ocorrência e a relação do material perdido.

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