Ato em Valadares protesta contra concessão do Saae e repactuação sem os atingidos

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ato em valadares protesta contra concessão do saae e repactuação sem atingidos
Manifestação ocorreu na manhã deste sábado (25) nas ruas centrais de Valadares. Foto: O Olhar

Movimentos sociais, sindicais e partidários participaram, na manhã deste sábado (25), de um protesto contra a decisão do prefeito André Merlo (sem partido) de conceder a uma empresa privada a gestão dos serviços de água e esgoto de Governador Valadares, que há mais de 70 anos é conduzida pelo Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto).

Liderado pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), a manifestação também  cobrava a participação dos atingidos pelo crime ambiental da Samarco (Vale/BHP) nas discussões sobre a repactuação do acordo judicial com a mineradora, que deverá movimentar 120 bilhões no processo de reparação à população e ao meio ambiente.

Além disso, o ato celebrava a conquista de uma antiga reivindicação: a contratação de  assessorias técnicas independentes para tratar das reparações aos atingidos, assunto até então conduzido pela Fundação Renova, criada pelas empresas autoras dos crimes ambientais.

A caminhada teve início na Caio Martins e percorreu parte das ruas Quintino Bocaiúva, Israel Pinheiro, Peçanha e finalizou na Praça dos Pioneiros, no Centro da cidade.

Participaram representantes da CPT (Comissão Pastoral da Terra), STR (Sindicato dos Trabalhadores Rurais), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Cebs (Comunidades Eclesiais de Base), MMC (Movimento de Mulheres Camponesas), MST, Cáritas GV, Aedas (Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social), CAT (Centro Agroecológico Tamanduá), Sinsem-GV (Sindicato dos Servidores Municipais), SindUte (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação), Comitê Lula Bretas, representantes dos deputados federais Leonardo Monteiro (PT) e Rogério Correia (PT) e estaduais Beatriz Cerqueira (PT) e Betão (PT).

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Foto: O Olhar

 O que dizem as lideranças

“Hoje aconteceu um importante movimento na nossa cidade, o Mab esteve conosco, pessoas de diferentes cidades da nossa região se somando aqui à luta contra a absurda  concessão do Saae. A representatividade de todas essas pessoas, de cidades vizinhas, reforça a importância de vencermos essa luta contra a privatização do saneamento. O Saae de Valadares é o primeiro do Brasil, tem 70 anos de história. Então Governador Valadares, ao vencer essa luta, estará também vencendo outras batalhas, porque a mercantilização da água em nosso país não para. Os grandes grupos de empresários estão se voltando para o nosso país para privatização da água, enquanto os países de primeiro mundo fazem o processo de reestatização, ou seja, o capital percebe que a água é o bem mais precioso, e por isso quer ser dono dela.” Sandra Perpétuo, presidente do Sinsem-GV.

“Tivemos a oportunidade de participar de uma belíssima caminhada com o Mab, o sindicato dos servidores, com os trabalhadores rurais sem terra, partidos políticos, diversos outros movimentos que estão apresentando temas para serem refletidos pela cidade, como a importância do Saae continuar sendo público e de avançar nas políticas públicas de saneamento com a atração de novos investimentos; o rio doce, que é nossa história, nosso rio, ter a lama retirada de seu leito e todos serem devidamente reparados pelos danos individuais e também coletivos; a repactuação contemplar a bacia com todos os recursos, projetos e programas que ela merece. Essas reflexões estão sendo colocadas e os movimentos, corajosamente, se manifestam nas ruas de Valadares.” Elisa Costa, ex-prefeita de Valadares.

“Valadares é o maior polo atingido pelos crimes ocorridos em Mariana e Brumadinho. E achando que não tá bom, o prefeito da cidade ainda quer privatizar a água do Saae, que é a água que a população de Valadares e distritos utiliza. Com a privatização, além da conta encarecer muito, ainda continuará faltando água e não teremos a quem recorrer, pois com empresa privada a gente não tem com quem dialogar, e quando a empresa é pública a gente sabe com quem conversar quando está passando dificuldade. Então estamos todos na luta em defesa dos nossos direitos e do patrimônio da  humanidade, principalmente da água.” Terezinha Sabino, direção estadual do MST.

“Esse movimento simboliza um ponto de luta, para nós da Ceb’s, pois não podemos nos  acomodar ao ver que a pessoa só quer o lucro acima de tudo, não importa o que a população vai sofrer, não importa o tanto que a gente vai pagar. Por isso estamos fazendo  essa defesa do Saae, a defesa da água e lutando também pelos atingidos. Já temos oito anos do crime da Samarco e até hoje a maioria dos atingidos diretamente não foi ressarcida, não teve seus danos reparados, então é muito difícil. A gente tem que lutar todos os dias, não podemos esmorecer.” Cláudia Mifarreg, coordenação da Cebs.

“A importância do ato é informar a população sobre a concessão, falar dos prejuízos que teremos, dizer que a água é um bem comum, que há necessidade de lutar, da sociedade se envolver e participar das discussões das políticas públicas, da garantia do direito essencial à vida, que é a água. Hoje também é um movimento para que a gente peça que as assessorias técnicas tenham efetividade em nossos territórios, nas cidades que foram atingidas pelo crime ambiental da Samarco, Vale e BHP, pra garantir que a gente tenha pessoas imparciais que ajudem a população a discutir frente as grande empresas. É um posicionamento conjunto com o Mab, com o comitê que luta contra a concessão do Saae, com os movimentos sociais que tratam e pensam a água como um bem e não como mercadoria. Hoje é pra dar o alerta que existe uma luta grande que a população precisa se envolver e participar.” Gilsa Santos, vereadora.

“Esse movimento nos traz uma grande reflexão e preparação para dizer não à privatização da água. A água é um bem comum, é um bem para todos e nos traz uma amplitude de vida, então por isso esse movimento com várias entidades vem aqui em Governador Valadares dizer não à privatização. Água não pode ser e não é mercadoria, vamos juntos que essa luta é de todos nós.” Usânia Gomes, coordenação da CMP.

“Hoje estivemos em Valadares com várias pautas, primeiro celebrar a conquista de sete anos de luta pela contratação das assessorias técnicas independentes que vão chegar no território. É um momento importante, porque até agora quem estava tocando a reparação era a Fundação Renova, uma fundação privada, que tem como dona a Vale e a BHP Billiton, ou seja, empresas criminosas estavam cuidando da reparação dos atingidos. Outro ponto é a denúncia da falta de participação na repactuação do rio doce, um dinheiro de cerca de 120 bilhões que está sendo discutido pra reparar esse crime cometido pela Samarco, Vale e BHP, sem a presença dos atingidos e atingidas da bacia. O acordo está passando pelos governos, pelas instituições de justiça e pelas próprias empresas criminosas, que costuram o acordo com os atingidos de fora. Então estamos aqui denunciando e cobrando que ‘reparação justa só com participação dos atingidos’. Também estamos somando à luta em defesa do Saae e em defesa do patrimônio público, colocando que a água é um bem público, água é vida, é direito, não deve ser tratada como mercadoria. Que é isso que a empresa quer, ela veio aqui e apresentou na audiência pública valores maiores de lucro do que de investimentos na cidade, então isso vai vir com cobrança de altas tarifas e precarização dos serviços, por isso não podemos permitir, pois vai afetar diretamente o bolso da população.” Pedro Gonzaga, coordenação MAB.

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