O município de Governador Valadares está em situação de enfrentamento ao novo coronavírus desde o dia 13 de março, quando o prefeito André Luiz Merlo (PSDB) assinou o primeiro decreto estabelecendo as primeiras medidas restritivas.
Quando o município somou 37 casos suspeitos por coronavírus, no dia 18 de março, foram decretadas novas medidas, dentre elas a suspensão, por prazo indeterminado, das viagens de servidores a serviço do município.
Na Câmara Municipal, no entanto, alguns vereadores não abriram mão de fazer uso das diárias aprovadas nas reuniões do mês passado e viajaram para a capital mineira, em meio à pandemia de Covid-19.
O relatório de viagens lido na reunião desta quarta-feira (1) mostra que pelo menos quatro vereadores teriam ido a Belo Horizonte e lá permanecido por um período entre três a cinco dias, no mês de março.
Entre eles, o presidente do Legislativo, Júlio Tebas de Avelar (PV), que no mesmo dia da publicação do primeiro decreto municipal, em 13 de março, fechou a Câmara e o anexo onde funcionam os gabinetes, como forma de evitar a circulação do vírus.
Três dias depois, ignorando o surto do novo coronavírus, o presidente fez as malas e partiu para Belo Horizonte, onde teria ficado até o dia 20, segundo o relatório lido nesta quarta. Foram cinco diárias que somam o valor R$ 2.871,15.
Procurado pela reportagem do O Olhar, Júlio Avelar não deu detalhes da sua ida em BH. Ele também não respondeu se ficou preocupado com uma eventual contaminação, já que pertence ao grupo de risco e, dessa forma, estaria expondo não só a sua saúde, mas a de moradores de Valadares.
Avelar não comentou também se pretende suspender as diárias de viagens, a exemplo do Executivo, como forma de enfrentamento à propagação da doença e incentivo ao isolamento social.
Além dele, os vereadores Jacob do Salão (PSB), Pastor Elias de Jesus (PSB) e Juninho da Farmácia (PDT) também viajaram após a publicação do primeiro decreto do prefeito.
O que eles dizem
Júlio Avelar – Em resposta ao questionamento do O Olhar sobre sua estadia de cinco dias em Belo Horizonte (16 a 20 de março), em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente da Câmara se limitou a dizer que “foi resolver coisas do PV local”.
Jacob do Salão – Respondeu ao O Olhar que sua ida a Belo Horizonte, onde ficou entre os dias 23 a 27 de março, já estava agendada e que “tinha que resolver coisas do partido, junto com o vereador Pastor Elias de Jesus”. Ele ressalvou, porém, que usou máscara de proteção e que cuidou da saúde “para não prejudicar nossa família e cidade”.
Pastor Elias de Jesus – A reportagem do O Olhar ligou e enviou mensagem via WhatsApp, mas não conseguiu contato com o vereador, que esteve em BH no período de 23 a 27 de março, junto com o correligionário de partido Jacob do Salão.
Juninho da Farmácia – O pedetista respondeu ao O Olhar que tinha agenda marcada em BH e Brasília e na ocasião da viagem não havia paralisações de órgãos públicos “e mesmo nada concreto quanto ao vírus, apenas muita incerteza”.
Explicou que participou de reuniões no gabinete do deputado federal Mário Heringer e no comando geral da Polícia militar. Logo depois, disse ele, “a situação relativa à Covid-19 tomou uma proporção muito maior, quando decidimos não chegar em Brasília e sim regressar a Valadares”.
Ele informou que ficou em BH nos dias 16 a 18 de março, juntamente com o vereador Betinho Detetive (PDT), e que ambos devolveram duas diárias do total de cinco.
O vereador ainda enviou cópia de uma emenda parlamentar destinada pelo deputado Mário Heringer ao município de Valadares, atestando o retorno conseguido com as viagens.
“É importante lembrar que nos últimos dois anos, Valadares foi contemplada com mais de 7 milhões de emendas parlamentares, de autoria do deputado. Essas emendas foram alocadas na saúde e na infraestrutura. Essas emendas precisam continuar chegando, e por isso, precisamos continuar cobrando ativamente”, escreveu.
Pandemia
A pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), foi declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11 de fevereiro. No Brasil, a emergência sanitária foi decreta no dia 4 de fevereiro, antes da confirmação do primeiro caso no país, dia 26.
Em Governador Valadares, os primeiros casos suspeitos foram considerados importados, ou seja, envolvendo pacientes que estavam em viagem e retornaram para Valadares.
Desde o início do surto do novo coronavírus, autoridades têm reforçado a necessidade do isolamento social como principal medida de enfrentamento à doença. Ou seja, a recomendação é para que as pessoas fiquem em casa. E não viajem.