Na contramão da ciência, André Merlo reforça ‘tratamento precoce’ contra a Covid-19

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andré merlo reforça tratamento precoce em valadares
"A minha escolha foi feita! Que Deus abençoe nossa nação!", escreveu André Merlo ao declarar apoio ao presidente Bolsonaro na eleição 2018. Foto: Reprodução/Internet

 

No dia em que Governador Valadares completa 650 mortes por Covid-19, número proporcionalmente superior à maioria dos municípios mineiros (a cada 100 mil habitantes), o prefeito André Merlo (PSDB) “presenteia” a população com o anúncio de que está reforçando a oferta de exames para diagnóstico da doença e medicação para tratamento precoce, em 26 postos de saúde.

Entre os medicamentos que a prefeitura oferece, estão a hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e azitromicina, todos eles já contraindicados por dezenas de sociedades médicas e autoridades em saúde e criticados pela comunidade científica ao redor do mundo, principalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que refuta fortemente o uso de qualquer um deles para prevenir a doença.

O comunicado oficial do governo foi feito por volta das 20h desta segunda-feira (22), em suas redes sociais, e de imediato causou polêmica e vem dividindo a opinião dos internautas. Veja os comentários clicando aqui.

Apesar das evidências da ineficácia desses medicamentos, o grande defensor do “Kit Covid”, o presidente Jair Bolsonaro, ainda hoje atua na contramão do mundo no combate à Covid-19, com atitudes que contribuíram para que o país chegasse, hoje, à marca de 294.042 mortes.

Aliado de Bolsonaro, o prefeito André Merlo, também declaradamente contra as medidas de isolamento social, como o lockdown, agora reforça e investe em ações que não tiveram nenhum efeito também em Valadares.

Segundo comunicou nas redes sociais, sem detalhar o número de pacientes que já fizeram uso do tratamento precoce, a abordagem vem sendo oferecida à população desde julho do ano passado. Se tivesse alcançado algum êxito, Valadares não teria, provavelmente, passado de 53 mortes, em 1º de julho, para 650, na data de hoje.

“É difícil ter de ficar justificando algo tão básico como o fato de que não devemos usar ou prescrever remédios comprovadamente ineficazes”, declarou à Veja Saúde, na semana passada, o infectologista Celso Ramos, Membro da Academia Nacional de Medicina, que lida com epidemias desde os anos 1970.

Outro infectologista de renome, Gerson Salvador, da Universidade de São Paulo (USP), entrevistado pelo mesmo veículo, disse que “o Brasil é hoje o maior exemplo de estratégia equivocada no controle da pandemia”.

Além dos medicamentos que estão sendo oferecidos em Valadares não serem eficazes contra a Covid-19, também podem provocar diversos efeitos colaterais.

Confira a seguir

*Fonte: Uol/VivaBem

Cloroquina/Hidroxicloroquina

A cloroquina e hidroxicloroquina, remédios usados no tratamento de doenças como lúpus e artrite reumatoide, seguem sem eficácia comprovada para tratar a covid-19. Especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde), inclusive, aconselham “fortemente” contra o uso dos medicamentos para prevenir a doença.

Ambos remédios, de formulações diferentes, mas que levam a mesma substância, a cloroquina, também não devem ser usados como “tratamento precoce” contra covid-19 — não há nenhuma evidência científica que comprove seus benefícios contra a doença.

Pelo contrário, o medicamento de uso controlado pode ter efeitos colaterais, como distúrbio de visão, cefaleia e fadiga. Um estudo recente feito pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), inclusive, comprovou os efeitos tóxicos da cloroquina em células vasculares, por exemplo.

Antiparasitários

A ivermectina, antiparasitário capaz de combater vermes, parasitas e ácaros, também segue sem comprovação de eficácia para combater covid-19. Inclusive, a própria fabricante publicou um comunicado, em fevereiro deste ano, que não indica seu uso, pois não há evidências de que o medicamento traga benefícios ou seja eficaz no tratamento.

Além disso, a Ivermectina, a cloroquina e azitromicina têm potencial de evolução para hepatite aguda, apesar de ser uma ocorrência rara, segundo já afirmou o médico hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado e da Sociedade Brasileira de Hepatologia.

Azitromicina

O tratamento com o antibiótico azitromicina se mostrou ineficaz na melhora clínica de pacientes graves por covid-19, segundo um estudo publicado The Lancet, uma das principais revistas científicas do mundo.

O antibiótico possui um efeito antibacteriano, comumente usado para combater doenças do trato respiratório, como a bronquite, pneumonia, sinusite, faringite, IST, entre outros quadros. A azitromicina, por ser um antibiótico, não ataca o vírus, mas sim as bactérias.

 

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