A estudante de direito e voluntária na Associação Habitacional Nova Terra de Governador Valadares, Júlia Fialho Marques, 20, registrou, no último dia 13, um boletim de ocorrência (BO) contra o vereador Weter Gonçalves dos Santos (PTC), que tem o nome parlamentar de ‘Careca do Santa Rita’, por agressão e abuso de autoridade.
Ela contou que na quarta-feira da semana passada, dia 13, chegou à sede da associação, no segundo pavimento do Mercado Municipal, por volta das 9h40 para organizar o local para o atendimento que se inicia sempre às 11 h, conforme cartazes afixados na área de espera. No entanto, antes desse horário, alguém bateu à porta.
Passados alguns segundos, houve novas batidas e a voluntária respondeu que começava a atender a partir das 11h. Ainda assim as batidas prosseguiram, já de forma bastante intensa, o que levou a jovem a abrir a porta para verificar a situação. Foi quando se deparou, segundo ela, com um senhor que foi logo dizendo que precisava de uma informação.
“Eu respondi: pois não!”, esclareceu ela. O senhor, então, teria avisado que era vereador e repetiu que queria uma informação. Como a voluntária estava posicionada entre a porta e a área de espera, o vereador chegou a empurrar seu braço para adentrar a sede, mas foi contido pela jovem. Inconformado, o vereador deu um novo empurrão, desta vez desestabilizando a voluntária que, conforme relatou, só não foi ao chão porque se amparou em uma mesa próxima da porta.
“Ele me empurrou pelo peito, e olha que ele é bem menor que eu, mas me desestabilizou, eu quase caí, apoiei em uma mesa de plástico que até chegou a abrir as pernas e por pouco eu não caio no chão. E quando ele fez isso o pessoal já segurou ele. Nesse meio tempo ele pegou uma caneta sobre a mesa .. parece que ele tava, assim, desnorteado, como se a gente já tivesse tido uma discussão antes de ele me empurrar”.
A universitária relata também que uma mulher “que parecia estar na companhia do vereador tentava acalmá-lo”, enquanto as pessoas que aguardavam o atendimento pediam que ela abaixasse a porta para evitar que o Careca do Santa Rita voltasse a tentar adentrar a associação.
“Eu fiquei na porta, olhando para ele, tentando identificar se o conhecia, se já o tinha atendido outro dia … e ele falava com o pessoal que estava segurando ele que podia soltá-lo, porque ele não iria fazer nada comigo naquele momento .. aí o pessoal soltou ele, e a caneta que ele havia pegado ele jogou no chão e disse pra mim: “pega aí” e foi embora”, enfatizou.
“Enquanto as pessoas o seguravam, ele me chamou de incompetente, de sem educação … Eu, no primeiro momento, quando ele ainda estava lá, eu peguei o celular e tentei ligar para a polícia, só que fiquei muito nervosa, acabei não conseguindo. Quando ele foi embora eu consegui ligar, mas me informaram que como eu não sabia quem era o senhor, a ocorrência seria sobre uma pessoa desconhecida, e o policial falou que não valia a pena”, narrou Júlia.
Passado o ocorrido, a voluntária deu início às atividades na associação, até que uma das pessoas atendidas identificou o ‘senhor’ como o Careca do Santa Rita. “Aí que eu fui saber quem era o tal vereador. Até então, na minha cabeça, só se passou o seguinte: é uma pessoa normal, um cidadão comum, como eu mesma, que veio aqui atrás de atendimento e se identificou como vereador pra ter preferência, ou sei lá, impor algum respeito sobre mim … mas depois essa senhora confirmou, disse que conhecia ele, que era o Careca do Santa Rita. Aí quando eu saí do serviço eu fiz o boletim de ocorrência”, informou.
“Fiquei nervosa e sem reação”
Júlia Fialho explicou também que durante o episódio ficou nervosa e sem reação. “O tempo todo fiquei calada, a única coisa que eu consegui falar com ele, foi quando eu abri a porta e perguntei o que ele queria. Aí ele já veio com agressividade pra cima de mim, querendo informação, mas ele não se deu a oportunidade de me falar qual informação ele queria”, desabafou.
“Foi tão rápido e foi tão assim, impressionante, que todo mundo que estava lá para ser atendido, mais de cem pessoas, ficaram sem entender. Ele não discutiu comigo antes pra acontecer essa agressão, ele já chegou fazendo isso como se a gente já tivesse tido algum problema anteriormente, ou algo assim. Por isso fui tentando identificar ele, no sentido de pensar assim: nossa, será que eu atendi ele aqui com grosseria, ou alguma coisa assim, pra ele estar vindo com essa raiva toda?”, questionou Júlia.
Depois de conferir e ter certeza de que se tratava mesmo do vereador Careca do Santa Rita, a estudante decidiu fazer um boletim de ocorrência. “Minha primeira reação foi correr atrás dos meus direitos, de fazer esse boletim, porque se eu deixasse passar eu estaria indo contra os meus princípios; eu estudo direito, eu acredito que todo mundo tem que conhecer os seu direitos, os seus deveres. E o abuso do poder que ele usou pra tentar ser atendido, ele não foi, no mínimo, educado”, revelou.
Ela considerou, ainda, que não houve nenhum motivo razoável que justificasse a atitude do vereador. “Se a gente tivesse tido uma discussão e ele tivesse se alterado, seria mais compreensível a reação dele né… seria tipo: ele discutiu comigo, ele é uma pessoa que é agressiva, ele me agrediu. Nessa linha de raciocínio é mais fácil compreender porque uma pessoa te agrediu. Mas ele não me deu a oportunidade nem de discutir com ele, já chegou tomando essas atitudes como se eu já tivesse o estressado anteriormente, ou como se a gente já tivesse discutido, ou tido algum problema, ou algo assim”, ponderou Júlia.
A voluntária na Associação Habitacional Nova Terra assegurou que também irá acionar o vereador na Justiça. “Só não entramos com representação um dia após o ocorrido, porque a minha mãe pediu pra aguardar pra ver se ele ia se manifestar de alguma forma, se ele iria nos procurar, pedir desculpas, se iria mandar algum assessor conversar com a gente, pra também explicar, esclarecer o lado dele, justificar porque ele agiu dessa forma. E desde o ocorrido até hoje, ninguém representando ele, ou ele próprio, nos procurou pra no mínimo pedir desculpas”, finalizou.
Careca nega agressão e pede desculpas
O vereador Careca do Santa Rita confirmou que esteve na Associação Habitacional Nova Terra, mas negou que tenha agredido ou desrespeitado a atendente Júlia Fialho. Ainda assim, ele pediu desculpas à universitária: “se ela entendeu que eu a tratei mal, que ela me desculpa, que não é meu feitio”, rogou o parlamentar de primeiro mandato.
Ele frisou que não teve nenhuma intenção de tumultuar o atendimento na associação, mas sim responder a uma dúvida das pessoas que esperavam atendimento e questionavam sobre a quantidade de senhas. “Eu não queria ser atendido na frente não, queria apenas dar um apoio pra ela, porque a vi sozinha lá. Eu sou um fiscalizador do povo e não desrespeitei ela em momento algum”.
O vereador também reforçou que “minha personalidade não é de agredir ninguém, eu não agredi ninguém, e de antemão peço desculpa à moça que eu nem conhecia. Então pode ter certeza, eu não fiz isso nada, eu não agredi ela, eu não empurrei porta, o que eu pedi foi uma informação e ela veio me agredindo”, afirmou ele.
Careca do Santa Rita lamentou a situação que, para ele, não precisava ter ocorrido, e lembrou que é uma autoridade no município. “Eu não sou melhor que ninguém, nós somos todos iguais, simplesmente eu sou autoridade, eu ia pedir informação e chegou onde chegou e não precisava disso”, concluiu.