Aurora – Diálogo Rafael e Isabela

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Isabela - Céu Pequeno

Semana passada, apresentei por aqui, na minha coluna, um pouco do que se trata o romance Aurora. Expliquei que tem diversos elementos no texto, como a política, a história, seja do Brasil ou do mundo. Mas também tem alguns gêneros literários. Além da prosa, Aurora apresenta contos e poesia. Hoje lhes trago, leitores e leitoras, um pouco mais do Aurora, livro que será publicado ainda este ano. Curtam mais um trecho, um recorte, do diálogo Rafael e Isabela, os protagonistas da trama.

 

Eis o pequeno trecho:

 

– E vou escolher você, Coroada! Sempre escolherei você. Eu te amo! – disse Rafael para Isabela e essa não conseguiu segurar e chorou.

– Não brinque! Não brinque! – disse Isabela com olhos carregados de tempestade.

– Jamais eu brincaria com meus sentimentos e, especialmente, com os seus. Vou proteger você! Vou lutar com você. Irei ao inferno com você. Onde estiver, ali eu estarei. E sabe por que? Porque sou seu. – disse Rafael olhando para Isabela, que enxugou as lágrimas, arrumou seus cabelos além da alça e percebeu que o Padre Marcos acabara de chegar. Respirou, tomou o fôlego e olhou fixamente para Rafael, como que reunindo coragem para pronunciar algo. A coragem veio, sua alma lhe deu forças e todos ali ouviram a Coroada dizer. Melhor, declarar-se:

 

“Sou de Céu Pequeno, minha mãe, minha terra

Cresci por esses lados cujos passos me deram alegria e festa

Conheci de perto as dores e as injustiças de uma política

E coroei a minha vida com um discurso ativista

 

No chão de minha casa formei-me duramente nas leis do povo

Criei os artifícios que me distanciaram do pseudo novo

Fui cicatrizando as feridas de falaciosas retóricas vindas do parlamento

Fui chamada de Senadora no instante em que mais precisei de alento

 

A política em mim me fez uma Mulher forte

Minha vestimenta vermelha afastou os descuidados sem sorte

Tive no coração a morada de alguns amores frios

Mas você fez a revolução que honrou meu governo e meu brio

 

Nas leituras de Marx sonhei com a foice e o martelo

Nas batalhas contra os czares inspirei o meu sucesso

Mas em Austen lembrei-me que um dia iria amar

E esse dia começou quando você começou a me levar

 

Tenho a sensualidade e a voracidade das mulheres determinadas

Grito contra os injustos, olhos duros, a luta obstinada

Mas você toca a minha pele, desnuda minha razão, fico louca

E rendo-me facilmente, oratórias que se perdem, paixão que me rouba

 

A minha esquerda tem bandeiras que ainda não mortificaram

A minha braveza é uma esperteza contra aqueles que se calam

Rejeito todos os atos, vaticínios e promessas de cruéis burocratas

Mas vivo a sua democracia, a minha epifania, o sonho de ser Coroada

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