A Cidade Sem Futuro

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A CIDADE SEM FUTURO
Antigo sobrado (já demolido) que ficava na rua Marechal Floriano, em frente ao Fórum. Foto: Reprodução/@valadaresantigamente

Como já dizia o sábio escritor Tristão de Athayde: “- O passado não é o que passou. É o que sobrou daquilo que passou!”

Se olharmos para a cidade de Governador Valadares, veremos um aglomerado de casas, prédios, ruas, pessoas e problemas! Muitos problemas!

Problemas políticos, administrativos, econômicos, sociais, buracos nas ruas, trânsito caótico, falta de espaços públicos para lazer e encontros. Falta de praças, falta de verde, falta de educação de boa parte da população, falta de caráter e de vergonha na cara por parte da maioria dos políticos locais, enfim, falta de quase tudo!

Após o vergonhoso anúncio, por parte da Prefeitura Municipal, da construção da sede definitiva do Museu da Cidade numa praça no bairro de Lourdes, cuja área construída será menor do que a da área alugada atualmente ocupada pelo Museu, vem outra notícia trágica: a solicitação ao Executivo para que se efetive a transferência do anexo da Câmara de Vereadores para o prédio do atual Fórum, visto que o mesmo deverá ser desocupado até agosto de 2024, quando o Fórum se instalará em sua nova sede no Vila Bretas.

Mas que mal haveria nisso? Qual é a tragédia de se instalar um anexo da Câmara Municipal no antigo prédio do Fórum? É que mais uma vez a cidade perde a oportunidade de  preservar de forma decente seu passado e a memória histórica de sua coletividade.

Uma árvore sem raízes cai! Uma cidade que não preserva sua história não tem futuro! E isso é uma realidade científica, não uma questão de retórica!

As cidades são como grandes ‘organismos vivos’! Precisam ter qualidade de vida para seus habitantes. Precisam de respeitar os seus antepassados e conhecer sua própria origem para fixar parâmetros que guiem seu crescimento seguro, ordeiro e definitivo!

Qualquer pesquisador pode verificar a inconstância da economia e qualidade de vida desfrutada pelos valadarenses. Esse ‘voo de galinha’ da economia local advém, quase totalmente, de escolhas políticas inadequadas, de uma previsibilidade baseada nos insucessos do passado e a repetição dos ciclos destes mesmos insucessos por pura ignorância e inobservância à história da cidade.

Se não se respeita o passado não se lançam bases sólidas para o futuro! É preciso urgentemente preservar o que sobrou daquilo que passou! Valadares não respeita a própria história! Isso é fato!

Há 10 anos foi-se o último sobrado histórico de Valadares! Sem dó nem piedade! O antigo sobrado construído pelo pioneiro farmacêutico Otávio Soares Ferreira, que ficava justamente em frente ao Fórum, na Rua Marechal Floriano, foi demolido implacavelmente num final de semana de outubro de 2013!

Um pouco antes, o casarão do primeiro Juiz de Direito da Comarca de Governador Valadares, Dr. Joaquim Martins de Assis da Costa, localizado na esquina das ruas Bárbara Heliodora com Dom Pedro II, também sucumbiu às marretadas e tratores no piscar de olhos de outro fim de semana!

A “Venda do Seu Margarido”, patrimônio histórico tombado, também sofreu e se desintegrou ante a omissão e o despreparo do Poder Público para lidar com a história do nosso povo.

Dizem que os museus são locais onde a História se refugia para escapar da fúria avassaladora do Tempo! Mas como escapar dessa fúria se o Museu da Cidade já está em seu quinto endereço e ainda funcionando numa casa alugada e inadequada?

Já haviam pedidos e solicitações, desde o início dos anos 2000, por parte da então Gerência do Patrimônio Histórico, para que em caso de mudança de endereço do Fórum (o que era absolutamente previsível em virtude da adequação do Judiciário naquele espaço já insuficiente ao bom atendimento), que o local fosse transformado na sede definitiva do Museu da Cidade, visto ter todas as qualidades de localização em sítio histórico e  acessibilidades.

Contudo, e mais uma vez, a História foi atropelada por um “anexo da Câmara Municipal”! Mais uma vez se condena a cidade a uma ‘colcha de remendos imediatistas’ de pessoas de pensamento raso e chucro que nada enxergam senão seus próprios umbigos!

E pensar que as locomotivas do passado paravam exatamente onde hoje se localiza o Fórum, bem defronte àquele sobrado imponente, de linhas clássicas e fachada ricamente rebuscada, que pertenceu ao rico farmacêutico Otávio Soares e que foi estupidamente derrubado a marretadas num único final de semana! Nada sobrou!

Nem casarão, nem a antiga Estação Ferroviária e, em breve também, no lugar do Fórum, funcionará um inexpressivo “anexo”! Perdemos todos!

Voltando à realidade, toda cidade tem que evoluir, porém há que se chegar a um consenso entre o que preservar e o que não. Num município tão pobre em registros arquitetônicos, culturais e históricos cabe urgência na questão da preservação da memória da coletividade.

Como já é previsível, não haverá urgência para a proteção histórica, não haverá recursos, não haverá culpados e dentro em breve também não haverá mais história, nem memória, nem mais nada…

Povo sem passado assemelha-se a árvores sem raízes: não tem futuro.

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