“Não sou hipócrita de dizer que no nosso governo não existe corrupção”, diz André Merlo 

“Eu não sou hipócrita de dizer que no nosso governo não existe corrupção”. É o que diz o prefeito de Governador Valadares, André Merlo (União Brasil), ao lamentar as acusações feitas pelo deputado federal Hercílio Coelho Diniz (MDB), de que a atual administração estaria “extremamente enraizada na corrupção”. A confissão do prefeito está em um vídeo publicado nesta quarta-feira (31), em sua conta pessoal no Instagram.

No vídeo gravado ontem (30), quando discursou em um dos eventos do Aniversário da Cidade, André Merlo voltou a reclamar do áudio vazado por Hercílio Diniz, em que o parlamentar faz graves queixas de suposta corrupção e malversação do dinheiro público em seu governo. Ele não cita o nome do deputado.

O chefe do Executivo também tenta insinuar que possíveis desvirtuamentos na máquina pública estariam associados aos servidores. “Conseguimos desviar muitos mal feitos dentro da nossa administração. Estou aqui de peito aberto falando com vocês, nós temos 9 mil servidores, qualquer ato irregular é corrupção”, assegura.

Ele comenta ainda que em sete anos de gestão, o município não teria sido processado uma única vez por malversação de recurso público. “Nunca tivemos uma ação do Ministério Público ou dos tribunais de contas [da União e do Estado] em relação à corrupção”, garante.

“Falta é investigação”, diz sindicalista

Para a presidente do Sinsem-GV (Sindicato dos Servidores Municipais), Sandra Perpétuo, a fala do prefeito André Merlo “é absurda e indigna”. “De forma audaciosa o prefeito vai a público afirmar que há, sim, corrupção em seu governo, e descaradamente atribui processos de corrupção aos servidores públicos”, critica.

Ela completa: “Pode não ter tido ação dos tribunais de conta ou do Ministério Público, mas denúncias não faltaram. O sindicato fez e encaminhou para os responsáveis, com as devidas provas, mas ainda assim não tivemos retorno de nenhum deles. Fica parecendo que o prefeito tem tentáculos para estender sobre esses órgãos, já que nenhuma investigação foi aberta. Agora, ele mesmo está assumindo que seu governo é corrupto, então é hora da justiça começar a agir”, enfatiza Sandra Perpétuo.

Notícia-crime

O prefeito André Merlo aproveitou seu discurso e antecipou para a população a possibilidade de ocorrência de uma ação de agentes da polícia para apurar denúncia feita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Ministério Público Estadual (MPMG) e Federal (MPF), de possíveis atos de corrupção no atual governo.

Ele considerou a notícia-crime protocolada pelo PT como uma tentativa de manchar a reputação da atual administração, e fez várias críticas ao governo anterior. “Nós não vamos aceitar rotular o nosso governo [de corrupto], principalmente por que respeitamos os eleitores que votaram e confiaram na gente”.

Em nota, o presidente do PT de Valadares, Edson Menezes, disse que as declarações do prefeito “são de desespero” e informou que o governo da ex-prefeita Elisa Costa, do PT, teve as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) e pela legislatura atual da Câmara de Vereadores, por unanimidade.

“O prefeito podia ter aproveitado o Aniversário da Cidade para justificar e esclarecer para a população as graves acusações feitas pelo deputado Hercílio Diniz. Ao contrário, assumiu que há corrupção em seu governo”, frisa Menezes.

Prefeito apaga comentários negativos

Diversos internautas se manifestaram no perfil pessoal do prefeito André Merlo, no Instagram, mas quase todos os comentários negativos foram apagados. “Comentei e fui bloqueado. Aí fiz um perfil fake, comentei e também fizeram a mesma coisa”, disse um deles à reportagem do O Olhar.

Um comentário feito pelo perfil @senhorhater avisa ao prefeito que existe uma denúncia no MPF, na 5ª Câmara – Combate à corrupção. Trata-se do desvio de parte dos salários de ACSs (agentes comunitários de saúde) e ACEs (agente de combate à endemias).

O valor do piso salarial é de R$ 2.640, mas a prefeitura vinha pagando aos agentes apenas R$ 1.550. Os recursos são integralmente repassados pela União e a verba é carimbada, ou seja, não poderia ser desviada para outro fim.