Desastre de Mariana: MP questiona cobrança de escritório inglês após desistência

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Desastre de Mariana: MP questiona cobrança de escritório inglês após desistência
Distrito de Bento Rodrigues, Mariana, MG. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), em conjunto com o Ministério Público Federal, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e as Defensorias Públicas do Espírito Santo, de Minas Gerais e da União, ajuizou uma Ação Civil Pública com pedido de tutela de urgência contra os escritórios de advocacia Pogust Goodhead Law LTD (PGMBM), com sede em Londres, e Felipe Hotta Sociedade Individual de Advocacia.

A ação aponta a existência de cláusulas abusivas nos contratos firmados com vítimas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015. O escritório Pogust Goodhead representa mais de 700 mil brasileiros em ação coletiva movida contra a mineradora BHP Billiton no Reino Unido.

Entre os pontos mais graves destacados pelo MP está a previsão contratual de que os atingidos devem pagar honorários ao escritório mesmo em caso de desistência da ação inglesa. A cláusula, segundo os autores da ação, fere o princípio da livre escolha e impõe um ônus excessivo às vítimas, a maioria de baixa renda e com limitado acesso à informação jurídica.

Outras cláusulas consideradas abusivas:

  • Cobrança de honorários sobre indenizações recebidas no Brasil, mesmo em acordos nos quais o escritório não teve participação.
  • Restrições à rescisão contratual por parte dos atingidos.
  • Campanhas publicitárias que desencorajam a adesão das vítimas aos programas de indenização existentes no Brasil.
  • Imposição de foro exclusivo na Inglaterra, com arbitragem em Londres, em inglês e sob a legislação britânica.

A Ação Civil Pública pede o reconhecimento da nulidade dessas cláusulas, a garantia de que os atingidos possam receber indenizações no Brasil sem penalizações, e o pagamento de danos morais coletivos. O objetivo é assegurar a proteção jurídica dos atingidos, o direito à autodeterminação e maior transparência na relação contratual.

Nota do Pogust Goodhead

Em nota oficial, o escritório Pogust Goodhead afirmou que ainda não foi notificado oficialmente da ação, tendo conhecimento apenas pelas reportagens divulgadas na imprensa. Segundo o escritório:

  • A iniciativa do MP seria parte de uma “campanha de lawfare”, que tem por objetivo prejudicar o direito dos atingidos – já reconhecido pela Justiça inglesa – de buscar uma indenização integral, e forçá-los a aceitar acordos que considera incompatíveis com os danos sofridos.
  • Os contratos em questão, firmados desde 2018 e regidos pela lei inglesa, estariam sendo contestados apenas agora porque o Programa de Indenização (PID) não obteve a adesão esperada, e centenas de milhares de pessoas optaram por seguir litigando no Reino Unido.
  • O escritório alega que atua para informar seus clientes sobre as implicações da adesão ao acordo no Brasil, que, segundo os termos impostos pelas mineradoras, exige a renúncia a ações judiciais no Brasil e no exterior.
  • Em fevereiro de 2024, o Comitê representativo dos clientes aprovou por unanimidade uma resolução recomendando a não adesão ao PID.
  • O escritório também afirmou que sua atuação no exterior foi essencial para pressionar as mineradoras e viabilizar o acordo de repactuação no Brasil, segundo reconhecido por autoridades públicas, inclusive o presidente do STF.
  • Segundo o Pogust Goodhead, mais de 400 mil autores da ação na Inglaterra foram excluídos dos critérios de elegibilidade do acordo no Brasil e dependem exclusivamente do processo inglês para buscar reparação.
  • Por fim, a nota afirma que não houve mudanças materiais nos contratos ou nos percentuais cobrados, e que o escritório só recebe honorários em caso de êxito, atuando pro bono no caso de indígenas e quilombolas.
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