Vício em jogos eletrônicos já é considerado transtorno psicológico

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Você é do tipo que não vê a hora de jogar um videogame para desestressar? Brincar com o PlayStation, X-Box, PC ou até mesmo o celular deixa você relaxado a ponto de esquecer os problemas?

Jogos eletrônicos são realmente ótimos exercícios para a mente, porém, em excesso, podem desencadear alguns problemas sociais, intelectuais e até mentais.

Quem diz isso é a Organização Mundial de Saúde (OMS), que passou a considerar o vício em jogos eletrônicos um transtorno psicológico: o transtorno do jogo.

O adolescente Josué Fabrine Costa da Silva, 16, não concorda muito com a nova classificação e diz que acha um pouco exagerado a OMS considerar doença o vício em jogos.

Ele conta que sua rotina diária de jogar vídeo-game não atrapalha suas obrigações, como estudar e cumprir compromissos na igreja. Ainda assim, o adolescente reconhece que às vezes se sente um pouco mal quando fica tempo demais jogando.

Foi o que aconteceu dias atrás: após terminar todos os deveres, ele começou a jogar e só parou 20 horas depois, com exceção das pequenas pausas para comer e ir ao banheiro.

O vício demasiado em jogos era classificado como ludopatia. Porém, a patologia não levava em conta padrões exclusivos de jogos eletrônicos, colocando o videogame e o baralho, por exemplo, na mesma categoria.

A psicopedagoga Adelice Bicalho esclarece que a comunidade médica tende a tratar a patologia com ansiolíticos, pois a principal causa atribuída é o descontrole psicológico do paciente, que pode ser afetado socialmente, profissionalmente e até financeiramente (no caso dos jogos de azar).

No entanto, segundo a médica, há indícios de pessoas que desenvolveram uma desordem psicológica referente aos jogos digitais, como, por exemplo, a dificuldade de dissociar o universo fictício da realidade.

Quem concorda com a decisão da OMS é o autônomo Arthur Coimbra Campos, 24. Ele fala que já foi bastante viciado em jogos e acha que, realmente, tudo que pode afetar o raciocínio ou o humor, como era no caso dele, deve ser considerado como doença e precisa ser tratado.

Quanto ao transtorno do jogo, a decisão de separar os sintomas ajuda no tratamento e na prevenção. Segundo a neuropsicóloga Juliana Mendes Alves, o transtorno do jogo pode desencadear outras doenças psicológicas, como depressão, ansiedade, déficit de atenção ou hiperatividade. O contrário também pode ocorrer: quem possui o transtorno do jogo pode desenvolver as doenças psicológicas citadas.

A profissional, especialista em neurociências, terapia cognitivo-comportamental e reabilitação cognitiva pela UFMG, relata que as causas não são tão simples de serem apontadas e a maior parte dos casos ocorre com adolescentes do sexo masculino.

Entre os perfis mais propensos ao desenvolvimento da doença, estão os jovens mais introvertidos, desorganizados e menos persistentes na busca por objetivos. “É interessante que os pais, ao perceberem essas características em seus filhos, fiquem atentos, pois trabalhando nisso ajuda a evitar que o problema venha a ocorrer no futuro”, diz.

A médica informa que a cura é possível e o tratamento do transtorno não se dá com o uso de medicamentos (ainda não há a confirmação de efeitos positivos de medicamentos sobre os pacientes). Eles serão necessários, sim, caso o paciente venha a desenvolver outras doenças.

Diferente de vícios em álcool, tabaco ou outras drogas, o tratamento não interrompe por completo o uso dos jogos, mas faz uma diminuição gradativa, para que o paciente consiga se adaptar às novas condições.

De acordo com Juliana Alves, os jogos não são prejudiciais em todas as ocasiões, sendo até um estímulo mental importante se usados da maneira correta.

Veja as dicas da neuropsicóloga para saber quando o “gamer” pode se tornar um problema:

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Pais devem ficar atentos para evitar que o transtorno do jogo seja um problema para seus filhos (Foto: Jean Rossow)

Preocupação – o indivíduo passa a pensar nos jogos quando não está jogando, como senhas, golpes, táticas, armas e outras coisas referentes aos games;

Abstinência – o indivíduo fica, claramente, entediado ou desconfortável quando não está jogando:

Tolerância – o indivíduo passa a suportar intervalos de tempo cada vez maiores jogando:

Descontrole – o indivíduo passa a ter dificuldade de parar de jogar, o que afeta afazeres, sono e outros compromissos:

Antissocialidade – o indivíduo passa a perder o interesse em quaisquer outras atividades, mesmo com amigos, para ficar jogando:

Consciência do problema – o jogador passa a perceber seu vício, mas por descontrole ou indiferença, não tenta corrigir o problema:

Mentir sobre os jogos – os jogadores passam a mentir para jogar ou sobre o tempo que jogam. Isso é mais comum com os pais ou terapeutas:

Apoio emocional – os jogos se tornam um consolo emocional. Os indivíduos buscam conforto em games após términos de relacionamentos, problemas de saúde, demissões etc:

Perda de relacionamentos – os indivíduos passam a perder relacionamentos por causa do excesso de tempo dedicado a jogos e mesmo assim não param com o hábito.

Agora que você já sabe disso, fica mais fácil perceber se você ou alguém próximo está passando por problemas decorrentes do excesso de jogos digitais.

*Estagiário sob a supervisão da editora Andréa Costa

 

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