MORADORES PREJUDICADOS POR OBRA DE SUPERMERCADO NA ILHA ESPERAM POR JUSTIÇA

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forte rachadura na casa dona lúcia
A casa da moradora Lúcia Antão foi uma das mais atingidas em sua estrutura. Foto: O Olhar

As obras de construção de um supermercado na Ilha dos Araújos, em Governador Valadares, estremeceram a estrutura de pelo menos seis casas localizadas na rua Doze, na parte de trás do empreendimento do Grupo Coelho Diniz.

Em uma delas, de número 369, uma parede e o teto de uma cozinha desabaram, destruindo armários, geladeira, fogão, mesa. O estrago só não foi maior e não fez nenhuma vítima porque o desabamento aconteceu durante a madrugada, quando mãe e filho estavam dormindo.

Na casa ao lado, outra família vive o drama de ver a casa ‘envergando’ dia após dia, segundo disse o proprietário Almirez Simões Ramalho. Ele mostra um cômodo, onde várias barras de ferro escoram a laje, e aponta que duas delas caíram, devido ao afundamento do piso em 26 milímetros até o  momento.

Em mais dois outros imóveis, de números 331 e 359, a situação é a mesma. Fortes rachaduras, fissuras, trincas, desnível de paredes, afundamento do piso, infiltrações. A situação que as famílias vivem não é recente.

No final da madrugada do dia oito de março de 2018, às 5 horas, o muro que separava o terreno da construção das casas da rua Doze cedeu. “Foi uma tragédia anunciada. Na minha residência caiu quarto, cozinha e área de serviço. Caiu a cozinha da dona Rosa, trincou toda a casa da dona Lúcia, trincou a casa da Marilene”, conta o pedrista Almirez Simões.

Dezesseis meses depois, segundo ele, ainda não apareceu nenhum proprietário do empreendimento para conversar com as famílias. “A obra do supermercado já foi inaugurada, eles já estão vendendo e até hoje não apareceu ninguém”.

Barras de ferro contém a laje em um dos cômodos da casa de Almirez Simões

A saída, conta Almirez, foi recorrer à esfera judicial para buscar reparar os danos, mas o processo é demorado. Ainda assim, para os moradores, “a justiça e o tempo são nossos únicos aliados”, conforme acentuou Lúcia Antão de Barros Lima, outra proprietária de imóvel atingida pela construção.

A solidariedade também. Depois de ter a geladeira destruída junto com outros móveis e utensílios de cozinha, a moradora Rosane Rodrigues de Oliveira, a dona Rosa, sem condições de comprar outra, conseguiu com a vizinha Lúcia Antão uma geladeira emprestada.

Ela teve que improvisar uma cozinha na frente da casa para voltar a fazer sua comida.  “Eu peguei marmitex uns 20 dias, aí não aguentava mais comer marmita de rua e coloquei um fogão de uma boca e comecei a cozinhar em casa. Nem aqui perguntar que jeito a gente estava dando eles vieram, a gente teve que se virar”, lamenta dona Rosa.

Dona Rosa teve que improvisar uma cozinha na varanda da frente da casa

Para o advogado das vítimas, Ronaldo Duarte, os casos mais graves são dos imóveis de Almirez Simões e Lúcia Antão. O primeiro está com parte da casa escorada com barras de ferro. Um quarto teve que ser desocupado, por risco de desabamento, e todos os móveis estão embolados em um outro cômodo.

O imóvel ganhou trincas e rachaduras e vem declinando, segundo o proprietário. Ele também reclama que o supermercado invadiu o terreno das casas dos moradores.

“Quando fizeram o corte que gerou essa tragédia, gerou um buraco de 2 metros de profundidade por 2 metros de espessura e cerca de 50 centímetros pra dentro dos nossos terrenos, todo em concreto, e eles não querem nem saber”, desabafou Almirez.

A casa da moradora Lúcia Antão, um imóvel com três andares, tem trincas e rachaduras profundas em quase todas as paredes, no teto e no chão. A estrutura da casa está visivelmente danificada. Na sala, entre a parede e o piso, foi aberta uma fenda em toda a extensão do cômodo. Em vários cômodos, nos quartos, na sala, a cerâmica se desprendeu do piso.

Uma fenda se abriu no chão na extensão da parede na casa de Lúcia Antão

Lúcia é manicure e diz que a condição do imóvel, “de dar medo”, afastou a clientela. Ela falou também que não se sente segura na casa, mas que não tem para onde ir.

“Quiseram dar casa pra gente, mas pra alugar na condição deles, não na nossa condição, pra morar durante seis meses. E a gente que teria que alugar. Toda casa que escolhíamos eles achavam caro, falavam que não servia. Além disso, ninguém aluga imóvel só por seis meses”, alegou.

Na semana passada, O Olhar procurou o advogado Gustavo Fonseca, que nesta ação representa o Grupo Coelho Diniz. Ele disse apenas que “há uma ação judicial e lá será resolvido, não nos manifestaremos”.

Mas acrescentou que estava sendo programada uma visita para fazer vistoria nos imóveis danificados com a construção do Supermercado Coelho Diniz, na Ilha dos Araújos. Até a publicação desta matéria, a visita ainda não havia acontecido.

Impacto

O Olhar também perguntou para a Prefeitura de Governador Valadares se os responsáveis pelo empreendimento apresentaram estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter a licença de construção. A prefeitura não deu nenhum retorno, seis dias após o pedido de informação.

Os moradores das casas danificadas afirmam que a construtora não realizou vistoria cautelar nos imóveis que circundam o terreno onde foi edificado o supermercado. Eles dizem que a única vistoria se deu após a queda do muro, pela defesa civil e Corpo de Bombeiros.

O Relatório de Vistoria Técnica 77/2018, feito no dia que o muro caiu, aponta que as trincas observadas nos imóveis foram resultantes da retirada da terra das escavações para construção das fundações da obra.

A vistoria, realizada pelo coordenador Municipal de Defesa Civil, Adelson Ferreira Bento, orienta os moradores a se “manterem afastados dos locais atingidos”.

Quase 17 meses após o desabamento do muro, a situação dos moradores não mudou. “Parece que foi a gente que fez a tragédia, mas foram eles. E não deram atenção, não deram assistência, não houve nada da parte deles. Tenho certeza que todos nós aqui trabalhamos para adquirir nossas casas, não foi invasão, todo mundo aqui pagou, agora a pessoa chega e joga tudo no chão e vamos agradecer? Ou querem nos cobrar na justiça por nossa casa cair no terreno deles? Essa é a impressão que fica”, concluiu Almirez.

Veja abaixo mais imagens dos estragos nas casas:

As rachaduras comprometeram até o teto da casa de Lúcia Antão

 

A casa da moradora Lúcia é uma das mais danificadas, com rachaduras e trincas em quase todos os cômodos

 

Por segurança, na casa de Almirez todos os móveis de um dos quartos foram levados para outro cômodo 

 

As cerâmicas não foram poupadas dos danos na casa de Lúcia

 

O abalo na estrutura do imóvel de Almirez provocou espaçamento entre as placas de porcelanato

 

Duas barras de ferro que escoravam a laje cederam devido ao aumento da distância entre o teto e o piso

 

A estrutura em concreto das escadas do imóvel de Lúcia Antão também está com rachaduras

 

A estrutura em concreto das escadas do imóvel de Lúcia Antão também está com rachaduras

 

A cozinha da moradora Rosane ficou sem teto após o muro desabar 

 

O teto do banheiro do imóvel de Marilene Almeida também sofreu danos

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