A Agonia da Seleção Brasileira de Futebol

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a agonia da seleção brasileira
Imagem: Nathalia Segato

Antes de falar um pouco sobre a seleção brasileira de futebol, é válido ressaltar que o jogo contra Marrocos foi o primeiro no pós-Copa do Mundo, contra uma seleção que, após surpreender a todos chegando entre os quatro finalistas do certame, continua com a mesma base de jogadores. Nada disso apaga o fato de que, no jogo deste sábado, a torcida marroquina, no dia 25 de março de 2023, chegou a gritar “olé” enquanto os seus atletas rodavam a bola no campo de defesa.

Também é importante destacar que o Brasil está com um técnico interino e uma seleção repleta de novas caras. Claro, isso é verdade, mas também serve para mostrar que o legado de Tite, após duas Copas, é inexistente.

Não há dúvida de que Adenor, o Tite, era o nome para a reta final do ciclo e chegada na Copa de 2018. É impossível ignorar a comoção em torno do técnico, dos primeiros resultados e até do “titequês” afetado. Deste início promissor até a convocação de Daniel Alves para a Copa de 2022, muita coisa mudou. Sobre a convocação de Dani, Tite enfatizou que ele “transcendia o futebol”, mas ainda não se manifestou sobre o protegido que hoje está preso acusado de estupro.

Entre a chegada de Tite e a derrota para a Croácia na prorrogação (com mais da metade do time se lançando ao ataque), muitas vitórias contra seleções pouco expressivas sustentaram a ilusão em grande parte dos torcedores. Isso somado aos interesses  econômicos da CBF, que sempre marca amistosos com seleções fracas em lugares distantes, distanciando o torcedor e evitando uma preparação mais coerente com aquilo que se encontra no campeonato mundial.

A torcida do Marrocos gritou “olé” contra o Brasil, mas o problema não está apenas nos últimos dois ciclos. Os torneios de 2006, 2010 e 2014, o do 7×1, deixaram o gosto do suco da bagunça do nosso futebol. Seleções pouco tradicionais evoluíram, jogadores de países antes sem expressão no futebol agora atuam nas grandes ligas, e houve avanço na preparação física e nos treinamentos técnicos e táticos. Todos os esportes evoluem.

Uma safra ruim e com conceitos ultrapassados desde a base (sem generalizar aqui, pois temos alguns ótimos profissionais). Além disso, sempre que estou numa mesa de bar, entre uma cerveja e outra, uso o exemplo dos campeões do mundo Andrea Pirlo e Bastian Schweinsteiger. O primeiro, com uma capacidade técnica acima de qualquer crítica, fez a sua carreira jogando como volante. O segundo, campeão com a Alemanha e presente no emblemático 7×1, iniciou a carreira profissional como meia ofensivo, mas foi convencido e treinado para também atuar como volante. A decisão, como qualquer pessoa que gosta de futebol sabe, foi muito acertada.

O ponto aqui é que, no Brasil, parece-me que o garoto, com o mínimo de qualidade, é alçado como um camisa 10, um ponta ou centroavante, seja por pressão do pai, do agente, do tio, de um potencial patrocinador ou pelo próprio clube que já pensa na venda de um jovem talento. Perde-se aí parte da essência do futebol brasileiro que caberia muito bem ao futebol moderno, mesmo com toda a velocidade e força dos tempos atuais.

Quando observo os torcedores e a mídia esperançosos de que Raphael Veiga possa ser um camisa 10 para o Brasil, isso fica claro. Trata-se de um ótimo jogador, ídolo do multicampeão Palmeiras, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, como dizem por aí. E não estou dizendo que ele não pode estar na seleção, a reflexão aqui é como o sarrafo está mais baixo.

Portanto, precisamos compreender que essa é a realidade, aceitar que a camisa amarela (tão violentada por questões políticas nos últimos anos) não enverga mais qualquer varal, que não temos uma oferta de jogadores tão talentosa como em outros tempos, mas que é possível fazer bem mais em termos de performance com o que se tem à disposição. Recentemente assisti a um trecho de uma entrevista do Cafu em que ele diz que treinar a seleção brasileira é a coisa mais fácil do mundo devido à qualidade dos jogadores. Se é que um dia foi assim, não é mais. O primeiro passo é abandonar a arrogância.

Lembre-se, a torcida do Marrocos gritou “olé” contra a seleção brasileira.

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