Queria que meus pais me entendessem!
Queria que eu me compreendesse.
Queria continuar com a certeza de que meu pai é o meu herói!
Queria que ele me vesse para além da nota do colégio.
Queria que minha mãe não lesse o meu diário!
Queria que ela lesse meus olhos.
Queria que ela me desse um tempo!
Queria que ela me desse o seu tempo.
Queria a solidão.
Queria a multidão.
Queria voar.
Mais me deparo com a prisão…
Aquela que me colocaram, ou aquela que eu mesma criei… aceitei…
À noite, sentada no encosto do sofá, olho pela janela de grades, as estrelas e as luzes da cidade que reluzia lá longe. Sei que aqui não é o meu lugar.
Tenho na noite os sonhos, todos os sonhos do mundo…
Lá sou grande, gigante…
Mas sou pequena, frágil!
Será que tenho lugar? Ou sou de lugar nenhum?
Tenho dúvidas, muitas…
Mas de uma coisa, desde sempre eu já sei!
Sei que meu lugar é o das perguntas, da inquietação, da solitude…
Da introspecção!
Da música alta da Capital inicial…
Das baixas de Legião…
Do gosto peculiar por músicas que não são da minha geração.
Dos filmes de drama e romance que me levam as fantasias do amor e da paixão.
Eu sou adolescente…
Eu sonho com o mundo lá fora, da janela da sala dos meus pais.
Eu crio o meu mundo de dentro… no meu quarto, com as minhas arrumações.
Com minha escrita… com meus sonhos de menina quase mulher.
Construo minhas ideologias…
Sofro com as decepções da dor de nunca ser compreendida, de nunca poder ser ouvida, ou quem sabe correspondida?
Mas afinal, como poderei ser compreendida se nem mesmo sei quem sou?
Se ainda estou juntando os meus pedaços…
Escolhendo o que me pertence, e devolvendo o que dos outros não me cabe.
Sigo fazendo escolhas, ora conscientes… ora inconsequentes…
Sigo na estrada de mim mesma, a minha procura.
Às vezes me acho, as vezes me perco.
Me faço e desfaço como o dia e a noite.
Ah! Mas nas noites de estrelas… nas noites de estrelas me fortaleço! Me refaço de novo… elas sempre me dizem que posso sonhar com um outro amanhã.
Tenho na noite os sonhos, todos os sonhos do mundo…
