Alô? Alô?… O FIM DO “TRIM TRIM”!

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Algumas recordações ficarão para sempre entre as nossas mais amadas.
Uma delas me acompanhou desde o nascimento até bem pouco tempo: o “Trimtrim” da campainha do nosso telefone preto.
Instalado em minha casa bem antes de eu sequer sonhar em existir, em Janeiro de 1961, o nosso telefone era o retrato de uma época em que ter um telefone em casa era algo para poucos, bem poucos mesmo!
A aquisição de um telefone era motivo de comemoração para toda a família. Uma linha telefônica era caríssima! Precisava ser declarada no Imposto de Renda, pasmem!
Lembro-me de ter ouvido muitas vezes minha mãe dizer: _”Fico sem água e sem luz, mas sem telefone, nunca!”
Bem, minha mãe tinha lá suas razões!
Há 60 anos, Valadares era uma cidade em construção. Um lugar no meio do nada! Burburinho, movimento e agitação de toda ordem davam a tônica daqueles dias empoeirados e calorentos.
Minha mãe esperava seu segundo bebê, e meu pai, viajando a trabalho, quase sempre a deixava só, em casa, com uma empregada doméstica e o bendito telefone, recém-instalado e já idolatrado por mamãe!
Aquele aparelho, fabricado em baquelite preto pela empresa alemã Siemens, tornou-se o seu companheiro inseparável!
Quantas notícias nos chegaram através dele ao longo deste mais de meio século: alegres, tristes, trágicas ou maravilhosas!
E quantas declarações de afeto… segredos… partilhas…
Cada vez que ele soava o seu “Trimtrim” característico algo sempre nos inquietava: quem seria? O que seria? E um “alô” punha logo o fim à dúvida.
Hoje em dia, quando podemos carregar conosco um pequeno telefone multimídia, multifuncional, “multi-tudo”, é difícil imaginar que aquele velho aparelho preto, pesando mais de 3 quilos, que funcionava com um disco seletor de números, acionado com o dedo indicador foi durante décadas, o mais eficaz meio de comunicação à distância da humanidade!
Recentemente o velho cedeu ao novo.
Com a partida de minha mãe para a eternidade, o antigo telefone foi desligado. Não tem mais função.
Se a nossa memória guarda a nossa história, aquela campainha tão expressiva dos antigos telefones ecoará indefinidamente enquanto existirmos! E pensar que aquele som centenário, talvez jamais será ouvido pelas novas gerações. De certa forma é nostálgico.
Quem ouviu, ouviu!
Trim…trim… Trim…trim…

** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do O Olhar.

 

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