Está causando protestos de movimentos sociais o Projeto de Lei 1.904/2024, chamado de PL do Estupro ou PL do Estuprador, que equipara aborto a homicídio e prevê que meninas e mulheres que vierem a fazer o procedimento após 22 semanas de gestação, inclusive quando vítimas de estupro, terão penas de seis a vinte anos de reclusão – punição maior do que a prevista para quem comete crime de estupro de vulnerável (de oito a quinze anos de reclusão).
Um caso divulgado pelo programa Profissão Repórter, da TV Globo, no último dia 11, exemplifica a inversão de penalidade proposta no projeto de lei: um homem foi preso por suspeita de abusar sexualmente da filha de 17 anos, que estava internada na UTI de um hospital em São Bernardo do Campo (SP); se condenado por abusar da filha, poderá ficar até 15 anos preso por abuso de vulnerável, mas, caso ela fique grávida e aborte, poderá ficar presa até 20 anos
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Denúncias
Entre 1º de janeiro e 13 de maio deste ano, o serviço Disque Direitos Humanos (Disque 100) recebeu 7.887 denúncias de estupro de vulnerável. A média de denúncias nos primeiros 134 dias do ano foi de cerca de 60 casos por dia ou de dois registros por hora.
Os números, agora, poderão ser ainda piores em eventual aprovação do projeto – assinado por 32 deputados federais – e poderá aumentar também o volume de casos de gravidez indesejável entre crianças e adolescentes, especialmente as meninas vítimas de estupro e que vivem em situações de vulnerabilidade social. O alerta é de movimentos sociais e de instituições que vieram a público repudiar a proposta que altera o Código Penal Brasileiro.
Retrocesso inconstitucional
De acordo com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), o PL é inconstitucional, viola o Estatuto da Criança e do Adolescente e contraria normas internacionais que o Brasil é signatário.
“Representa um retrocesso aos direitos de crianças e adolescentes, aos direitos reprodutivos e à proteção das vítimas de violência sexual”, assinala nota do Conanda.
Também em nota, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, lembra que “as principais vítimas de estupro no Brasil são meninas menores de 14 anos, abusadas por seus familiares, como pais, avôs e tios. São essas meninas que mais precisam do serviço do aborto legal, e as que menos têm acesso a esse direito garantido desde 1940 pela legislação brasileira”.