Os cortes de 30% para as universidades federais do país, anunciado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, colocam em sério risco o funcionamento do campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em Governador Valadares.
Além dos custos comuns a outras instituições, na cidade a universidade ainda precisa arcar com despesas de imóveis alugados, já que não tem um campus próprio.
De acordo com o reitor Marcus Vinícius David, as universidades já perderam parte do orçamento com cortes nos últimos anos e mais um corte, de 30%, pode inviabilizar o funcionamento, principalmente do campus avançado de Valadares. Para a UFJF, o corte significa R$ 23 milhões a menos no orçamento.
O reitor explica que o Conselho Superior da universidade vai se reunir para tentar avaliar o que poderia ser cortado para minimizar os prejuízos, mas, segundo ele, é certo que projetos e bolsas serão reduzidos.
No entanto, Marcus Vinícius afirma que a universidade está analisando duas estratégias para tentar reverter o quadro.
“A primeira é no âmbito político, fazendo uma forte mobilização, não apenas dentro da universidade, mas nas comunidades em que ela está instalada para que elas a defendam. Depois, estamos analisando a esfera judicial. Na nossa avaliação, está ocorrendo um descumprimento da lei orçamentária, uma ameaça à autonomia universitária quando o corte é anunciado vinculado a ações que o ministro não concorda dentro da universidade”, afirma o reitor.
Greve Nacional da Educação
A preocupação do reitor ecoou na manifestação realizada por estudantes, servidores e até pais de alunos na manhã desta quarta-feira (15). Estudantes de todo país estão protestando contra os cortes anunciados pelo governo. Em Valadares, o movimento reuniu alunos e servidores da UFJF-GV, do IFMG e também de algumas escolas particulares da cidade.
A estudante do quarto período de nutrição da UFJF-GV, Letícia Pereira, lembrou que a estrutura da universidade em Valadares já é pequena e um corte no orçamento pode até inviabilizar a continuação das aulas.
Letícia também comentou sobre o que ela chama de demonização das universidades, que é a campanha baseada em notícias falsas, ou fake news, tentando mostrar que os estudantes destas instituições vivem na “balbúrdia”, termo usado pelo ministro da Educação.
“A universidade é um espaço de pluralidade de ideias, de diversidade e este governo não apoia esse tipo de coisa”, disse.
Pais e mães de alunos também estiveram presentes na manifestação, como a dona de casa Nilzinha Nunes Gouveia, mãe de dois alunos do ensino público federal.
“Tenho um filho no ensino médio, no IFMG, e uma filha que faz Direito na UFJF. Estamos todos preocupados com estes cortes. Não podemos ficar sem o ensino público. Eu não teria condições de pagar para meus filhos frequentarem instituições de qualidade como a UFJF”, afirmou.
A filha de Nilzinha, a estudante do 8º período de Direito, Críscila Cristina Ramos, também reclamou da divulgação de notícias falsas sobre os estudantes das universidades federais. “É uma forma de desmerecer a instituição e nós, os alunos. Nunca presenciei esse tipo de coisa por aqui e sei que meus colegas também não”, concluiu.
O professor Henrique Queiróz, também da UFJF, ratificou a fala do reitor e frisou ainda que a mobilização, neste momento, é uma defesa do ensino público federal.
Segundo ele, as universidades estão com restrição financeira até maior que a UFJF, mas o fato do campus de Valadares não possuir prédio aumenta o risco em relação às outras. “Não estamos buscando nenhum privilégio, nenhum ganho, apenas manter a universidade no seu funcionamento adequado”, disse.
O professor ressaltou também que é de se espantar que os ataques contra a educação partam do Governo. “Logo ele, que disse que iria resolver os problemas do país. Todo mundo sabe que num processo de crise, a educação é uma das saídas primordiais para que consigamos recuperar a economia. O governo desinforma a população sobre a realidade universitária e aí a universidade tem que entrar nessa questão pra fazer uma contrainformação, apresentando dados para comprovar que lá não é lugar de balbúrdia. Universidade é lugar de educação, ciência, arte, tecnologia e desenvolvimento econômico e social do país”, finalizou.
“Tira a mão do meu IF”
Os alunos do IFMG, campus Governador Valadares, também tiveram presença maciça na manifestação. O Instituto tem campus próprio mas, mesmo assim, corre riscos com o corte orçamentário.
O técnico administrativo do IFMG, Virgílio Chagas Resende, ressaltou que existem duas preocupações. Uma, segundo ele, é já para 2019, quando o contingenciamento atinge fortemente o funcionamento do campus.
Ele explica que para garantir água, luz, telefone, papel e serviços terceirizados, cortes deverão acontecer em áreas importantes que podem prejudicar, inclusive, a qualidade do ensino.
“Mas, há uma preocupação muito grande também com o futuro. Não só pela manutenção, mas pela construção de um orçamento melhor, mais justo e democrático para o ensino de um modo geral. Essa luta é pelo avançar de um ensino público gratuito e de qualidade”, concluiu Virgílio.
A aluna do 3º ano do ensino médio, integrado em Segurança do Trabalho, Steffany Oliveira, concordou com o técnico e também reclamou do sensacionalismo do Governo Federal que se baseia em situações isoladas para generalizar todo o ensino público federal.
“Na nossa escola não tem balbúrdia, assim como na maioria das escolas pelo Brasil também não. Nós fazemos pesquisas para ajudar até mesmo a nossa região. Repudiamos o corte de verbas e estamos na luta para a greve geral do dia 14 de junho”, afirmou.
Reforma da Previdência
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE), Waender Soares, lembrou que a manifestação também é contra a reforma da Previdência.
“Estamos todos contra a reforma da previdência, que tem uma proposta de capitalização nada agradável. Imagina um professor ter que trabalhar 40 anos para receber aposentadoria integral. Estamos empenhados em barrar esta reforma e os cortes na educação”, disse ele.