Durante muito tempo, o assédio moral no local de trabalho foi naturalizado a partir da premissa (explícita ou implícita) de que o alto desempenho está atrelado a uma espécie de pressão e desconforto. Muitas pessoas ainda não gostam de reconhecer as potenciais patologias nas relações de trabalho. A mesma lógica vale para aqueles que dizem “tudo hoje é bullyng e, na minha época, não tinha essa frescura”. Estes, no entanto, não se lembram dos colegas que ficaram para trás ou que carregaram feridas abertas por toda a vida.
O cidadão brasileiro, sempre com medo dos impactos da perda do emprego em um país como o nosso, não raras vezes, ignora as primeiras manifestações do assédio moral. O recorrente constrangimento abala, primeiramente, o espectro moral, a persistência pode, porém, materializar efeitos devastadores que passam pela depressão, burnout, vícios e até mesmo o suicídio.
Esqueça também o estereótipo do chefe agressivo. Claro, quase sempre ele é de fato um assediador, contudo, a pessoa transvestida de educada e paciente também pode causar grandes estragos. Metas inatingíveis e sobrecarga de trabalho chegam acompanhadas do cínico conselho “se não estiver aguentando ou se for muito para você, peça demissão”. Ora, escutar isso de forma recorrente significa, quase sempre, entregar mais do que o tempo programado de jornada, chegar em casa com medo e ansiedade e minar, gradativamente, a saúde emocional.
Portanto, não podemos entender como assédio moral apenas o escrutínio escancarado em frente aos colegas, pois este é um fenômeno que pode se manifestar de forma sutil, mas igualmente destrutiva.
Situações de estresse no trabalho são comuns e discussões acaloradas, mesmo além do limite, quando acompanhadas de uma reconciliação, não se configuram como assédio. O assediador é motivado pela dependência de um poder derivado das sequelas neoliberais, da tirania do vale-tudo, da extrema competitividade e, é claro, de profundos vícios de caráter.
É igualmente assustador observar a conivência de grande parte das empresas que protegem e/ou ignoram as ações de assediadores em cargos de chefia e negligenciam completamente as vítimas. Ainda pior, desconsideram os efeitos do vexame e do constrangimento no desempenho e na qualidade de vida do seu colaborador, outrossim, julgam a vítima como culpada por qualquer alteração na dinâmica do seu trabalho.
Via de regra, a empresa é cúmplice do esgotamento psicológico da pessoa e, posteriormente, ignorando todo o processo e a sua parcela de responsabilidade, passa a considerar como inapto um colaborador com depressão, por exemplo.
Essa reflexão pode ainda se estender à persistente estrutura patriarcal da nossa sociedade e ao assédio moral infringido contra as mulheres, muitas vezes desdobrando-se em assédio sexual. Sob um olhar muito mais crítico da sociedade, as mulheres, muitas vezes, precisam comprovar o óbvio, pois a misoginia, infelizmente tão corriqueira, é competente em transformar a vítima em culpada.
As empresas precisam compreender que o seu crescimento qualitativo está associado a uma responsabilidade social que engloba o bem-estar dos seus empregados. Empresas sérias promovem ações assertivas e não são reféns de funcionários que degeneram a saúde da instituição. O maior capital de uma empresa são as pessoas e é necessário que elas tenham voz para corrigir e denunciar.
É um assunto bem tenso. Por partes de minhas parentes, ouvimos coisas de pessoas que nem acreditaríamos que seriam capazes.
Por outro lado, quando a lei torna-se ferramenta para impor, pois também já li na internet sobre falsas acusações.
Nada é perfeito, e sempre haverá ambos extremos: a real vítima, e a vítima forjada.
Obviamente, o certo é pelo certo, e o erro deve ser mitigado pela força da lei, mesmo, sem sombras de dúvidas.
Essencial! Por mais textos como esse!