Ditadura nunca mais

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Uma data que precisa ser lembrada, mas nunca comemorada.

Neste 31 de março, completa 57 anos do golpe militar que destituiu do poder o presidente João Goulart. O regime militar durou 21 anos (1964-1985), estabeleceu a censura à imprensa, restrição aos direitos políticos e perseguição policial aos opositores do regime, sobretudo estudantes, artistas e intelectuais.

O pior ainda estava por vir; no dia 13 de dezembro de 1968 foi editado o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Esse foi o período mais duro do regime militar. O AI-5 deixou um saldo de cassações, direitos políticos suspensos, demissões e aposentadorias forçadas. Concedeu ao presidente poderes quase ilimitados, como fechar o Congresso Nacional e demais casas legislativas por tempo indeterminado e cassar mandatos. Além de instituir a tortura como método de interrogatório.

Durante esse período, a Igreja Católica desempenhou papéis contraditórios. O anticomunismo ferrenho das autoridades eclesiásticas e de algumas organizações civis de base católica foi um fator predominante para o apoio inicial ao golpe de Estado. De um lado, a igreja contribuiu para o clima de desestabilização nos meses que antecederam o golpe e apoiou os militares num primeiro momento, especialmente a cúpula da Igreja Católica. Por outro lado, é preciso destacar a postura de alguns setores dessa instituição religiosa na resistência ao regime autoritário.

A atuação dos freis dominicanos Betto, Tito, Ivo e Fernando foram mais notórias. Eles se aproximaram de Carlos Marighella e da Ação Libertadora Nacional (ALN), e contribuíram com informações e realizando tarefas de apoio. Exatamente por isso, se tornaram alvo da repressão, foram presos e torturados. Anos depois, Frei Tito se suicidou, em decorrência dos traumas sofridos.

O regime também pôs fim à vida da estilista Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel. Ela não cometeu crime algum, só lutou pelo direito sagrado de uma mãe de enterrar seu filho Stuart Edgar Angel Jones. Stuart, assim como a mãe, foi morto de forma brutal pelos militares. Essa é apenas uma história, que desmantelou uma família. E acabou virando filme com a estrela Patrícia Pilar no papel da estilista. Mas as histórias são muitas.

O mesmo aconteceu com o militar desertor Carlos Lamarca, que se recusou a compactuar com o regime e foi mais uma vítima cruel. Ou com o jornalista, professor e dramaturgo Vladimir Herzog, cuja foto icônica é divulgada até hoje como símbolo de resistência à ditadura militar.

No dia 10 de dezembro de 2014, a então presidenta Dilma Rousseff recebia o relatório final da Comissão Nacional da Verdade. A Comissão da Verdade foi criada para esclarecer as violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988 no Brasil.

O grupo identificou 434 mortos e desaparecidos, 273 religiosos cristãos presos e entre 800 e 1.000 pesquisadores perseguidos nas universidades. O documento relata ainda casos de prisões ilegais e tortura de trabalhadores e seus familiares. Além de casos de perseguição, prisão, tortura e morte de camponeses, indígenas e membros da igreja. Segundo o documento, foram assassinados 18 religiosos da Igreja Católica durante o regime militar. Porém, o número é apresentado como não-definitivo.

No 30 de março de 1964, aqui em Governador Valadares aconteceu um ato cruel antevendo o golpe militar. Um grupo de milicianos armados a mando de fazendeiros invadiu a sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (O Sindicado da Lavoura) atirando. O jornalista Carlos Olavo foi preso e no confronto morreu Paschoal de Souza Lima. Uma criança de cinco anos, filha de Chicão, foi baleada. Outra vítima foi o meu compadre e amigo Agnaldo Freitas, jornalista do jornal O Combate. Ele foi atingido no rosto, perdeu uma das vistas e teve a outra comprometida. Agnaldo Freitas fugiu para não ser preso e torturado.

Retornou pra Valadares depois e entre 1993 a 1996, voltou para a imprensa por meio do jornal Bom Dia Leste. Agnaldo foi vítima de um AVC e morreu na Bahia. Agnaldo Freitas é aqui o símbolo de uma história que não pode ser esquecida, mas nunca comemorada. Ditadura Nunca Mais.

 

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