É disso que o povo gosta!

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    Mexerico, bisbilhotice, fuxico, futrica, trica, injúria, boato, zun-zum, falatório, diz-que-diz.

    Difamação, cochicho, intriga, calúnia, murmúrio, ruge-ruge, ouvi dizer, disse me disse, escândalo, maledicência.

    Voz do povo, chocalhice, novidades (news), indiscrição, tabaquear o caso, apedrejamento, depreciação, aviltamento, desonra, enxovalho, vilipêndio.

    Isso, só pra citar alguns dos sinônimos da palavra “fofoca”, tirados do dicionário. Tamanho repertório léxico, talvez demonstre a relevância desse substantivo em nossas vidas.

    Interessar-se pelos problemas de fulano ou beltrano, ao invés de se ater aos próprios, é atividade corriqueira em qualquer lugar do mundo. Apontar o dedo pro erro alheio é quase instintivo. Assim como se defender quando metem o bedelho em algum vacilo nosso.

    Uma prova disso é o sucesso do Big Brother Brasil, que, com poucas semanas de duração, e já repleto de intrigas, gerou uma vilã capaz de provocar angústias e indignações que só o Bolsonaro vinha sendo capaz de causar.

    Karol Conká – que já era uma cantora famosa antes de entrar no programa – vem roubando a possibilidade dos brasileiros se alienarem em paz, por causar náuseas com seu deboche doentio.

    O ti-ti-ti espalhado é que, quando finalmente sair batendo recorde de rejeição,Karol deve virar cantora gospel pra tentar salvar a carreira.  Dizem que o projeto já tem nome: “Carol Concê de Cristo”.

    Segundo o bafafá, a assessoria da (ex) sister pretende adaptar seu maior sucesso ao gosto do novo público: “Se é pra louvar, louvei!”, tentando alcançar o nicho bolsonarista que ela ainda não cativou com sua perversidade gratuita na casa.

    O lado bom, no caso da Karol, é que ela está com seus minutos contados, pois será obliterada pelo júri popular, depois de ser indicada na última votação.

    Já o outro vilão nacional, que moveu melhor as peças do tabuleiro, garantiu o apoio que precisava pra fugir do “paredão”, escapando de se tornar o terceiro eliminado em nossa edição mais recente de democracia.

    Diante das fofocas da política e dos brothers confinados, não falta quem critique o reality da Rede Globo por tomar de assalto o interesse do brasileiro pelos acontecimentos da república.

    No entanto, há os defensores. Como o “tuiteiro” que digitou: “Se me garantirem que o Arthur Lira perde a eleição, caso eu mude de canal pra TV Câmara, nunca mais assisto bbb”. Hashtag: Karol é pior que Lira!

    Na terça passada, uma coincidência causou confusão entre os internautas. O deputado “bombadão” foi preso bem na hora de anunciarem o eliminado da semana.

    Com isso, fiquei sem saber se o STF teria tirado o Nego Di com 98,76% dos votos ou se o Tiago Leifert é quem decidiu monocraticamente sobre a prisão do “Daniel de quê?” – como bem indagado por Fux, ressaltando a insignificância do parlamentar.

    ***

    Ainda que a fofoca tenha dominado Brasília e os estúdios do Projac, aqui em Minas Gerais, ela é quase um patrimônio cultural, junto com o pão de queijo e dos quatrocentos e quarenta e nove primos que cada mineiro tem.

    Nosso código de ética tem um preceito fundamental para o convívio civilizado entre faladores de “uai” e “sô”: “não fale mal do próximo, quando o próximo estiver próximo da gente!”.

    Numa mesa de bar, os mais desconfiados sempre ficam até o último ir embora, só pra não virar assunto entre os que permaneceram. Ou, caso tenha mesmo que sair mais cedo do boteco, faz logo um agrado ao pagar sua parte na conta, tentando atenuar os adjetivos maledicentes.

    Contudo, o velho e tradicional uso da hipocrisia mineira ganhou um tempero perigoso com a popularização das redes sociais. Muita gente, pra evitar as represálias, recorre a perfis anônimos com o intuito de atacar os desafetos.

    Em Governador Valadares, uma conta no Instagram vem alternando difamações e merchandising. Enquanto joga no ventilador os podres de “blogueirinhas” e frequentadores do Joá, garante patrocínios graças aos milhares de curiosos que seguem a página.

    O tal perfil não identificado – dentre outras revelações – vem dando um exposed num esquema de prostituição que acontece há muito tempo na cidade, apontando o dedo para os cafetões e as meretrizes. Mesmo que, pra muita gente, isso não seja nenhuma novidade.

    Ao saber desse fuxico, acabei me lembrando de outro, bem mais antigo e que também já causou certo reboliço em Valadares. Porém, só conto se o leitor prometer guardar segredo. Olha lá, hein…

    Trata-se de um boato literário, coisa à toa, contada por Carlos Olavo da Cunha Pereira, em seu romance, “Nas Terras do Rio Sem Dono”.

    Segundo o tal Carlos, em 1964, pouco antes do golpe militar, uma comitiva de coronéis partiu daqui com destino a Belo Horizonte, pra tratar de assuntos com políticos que comungavam de seus interesses.

    No episódio – nomeado provocativamente pelo autor, de: “Viagem proveitosa e amena” –, os militares da comitiva, depois de cumprirem a missão que lhes foi dada, partiram pra comemorar em companhias muito bem selecionadas.

    Acontece que, um deles – sem precisar de “agenciadores” ou das redes sociais de hoje em dia – conseguiu montar um verdadeiro harém na capital mineira, pra onde mandava toda menina que se despontava por aqui, nas beiras do Rio Doce, transformando jovens bonitas e pobres em playgrounds pra gente velha e endinheirada.

    Na página 111, o próprio milico metido a Sheik é quem explica a dinâmica de seu empreendimento:

    “Se Dona Zulmira protege os pobres de Governador Valadares, eu cá prefiro proteger as moças bonitas da perdição da Figueirinha.”.

    (…)

    “Quando vejo que alguma por aí já se está tornando por demais conhecida e na bica de ir esbarrar lá no cabaré da Rosinha, intervenho e mando a bichinha para o nosso apartamento em Belo Horizonte…”.

    Embora seja ficção, esse relato já deixou muita gente na cidade de boca aberta.

    Assim, caro leitor, se a língua coçar e quiser passar essa fofoca adiante, sugiro a leitura inteira desse livrinho, pra saber logo do babado completo.

     

    ** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do O Olhar.

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