Ele era e é seu…

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ELE ERA E É SEU ...
Imagem: Reprodução/Internet

Hoje estou um pouco mais inquieto que os outros dias. De vez em quando isso me acomete, uma reflexão sobre o que fui até agora me percorre, e vejo o mundo ao redor para compreender se tudo ainda faz sentido. Vejo as pessoas tomando seu café e suspirando aspirações, leio anotações no planner de alguém, onde escrito está que a meta é sobreviver, e alunos me perguntando se deve existir um meio mais rápido de aprender. Não encontro as respostas para o que vejo, e me proponho a pensar sobre tudo isso, além do que está dentro de mim. Um Universo seria? Um multiverso de pensamentos e emoções, sobrepostos e concomitantes, talvez.

Quando estou assim, prefiro o silêncio do exterior, para ouvir direito a gritaria aqui dentro. As vozes dos meus anseios, e as ansiedades dos que me acompanham na jornada de ser, que é a vida, postulam seu lugar de fala para assim serem ouvidos e atendidos. Comer salgado em vez de doce, carregar toras de madeira ao invés do fardo do mundo, ouvir uma música ou aprender violão, escrever a frase no caderno em vez de verbalizá-la para quem se quer por perto, são os desafios de uma vivência, em que as escolhas podem definir destinos. Saborear um doce, enfrentar o mundo, tocar o violão e, na melodia, carregada e escondida, deixar alguém lá, é um caminho. Salgar a boca, carregar o peso de uma árvore, ouvir Let Her Go, de Passenger, inspirar-se com tudo isso e declarar-se para alguém, é outro caminho. Só não carreguei madeira até hoje, ao menos não me lembro disso. O resto eu suportei e levei, conduzindo-me ao meu destino. Este me levou a outros tantos. Infinitas possibilidades, matemática da vida.

Pensar tais coisas não aquietaram meu coração. Sei que o pulsador aguenta muita coisa, porém, nem sempre, paramos para ouvi-lo, e compreender o que ele diz sobre tudo. Seguimos a vida, com as batidas dele, sem saber qual o ritmo que ele queria para nós, no veículo do corpo, a realizar mais na vida do que, necessariamente, sobreviver. O motor de nós deve ter seus sentimentos, pois, caso não os tivesse, não seria o símbolo das paixões, dos amores, do romance esperado ao fim da tarde, lugar de todos os corações. Talvez, ao seguir o propulsor de nós, aquele que faz circular o sangue, o liquido vital, seríamos mais livres e autênticos, realizados, felizes, quem sabe.

Tem momentos em que ele grita a nós tantas coisas, que parece que ouvimos ele dizer. Em outras ocasiões, o coração apresenta um força que paralisa o tempo e nossas pernas. Sim, nossa força motriz vai paralisando, bem devagar, em uma dialética mística, a dizer a você a dúvida existencial: você vai embora mesmo ou vai voltar lá e dizer tudo o que está aí? Isso acontece quando sua cabeça vai para uma direção, e o peso de suas passadas tentam lhe comunicar para ir no sentido contrário. Seus pés fixam-se no lugar, um giro se faz, uma revolução se apresenta, e a volta ocorre, em uma marcha para a liberdade. Sim, dar razão ao que se sente, é um ato revolucionário e libertador. A coragem favorece os felizes, e aqui parafraseio a consagrada frase. Felicidade é um ato de bravura.

Todas essas reflexões agora postas, são considerações de nossas existências. A vida de um, minha vida e a vida de nós, são mistérios a serem resolvidos, dia após dia, nas manhãs, tardes e noites, do tempo que nos é oferecido, até o fim da festa. Entender por que se ama, por que não se ama, a razão de se perdoar, a negação do mesmo, o dar o mão, o negar o abraço, o voltar a casa, ou a despedida do ninho, o entregar a moeda, o furtar desta, tudo isso, são pequenos enigmas que dialogam conosco do momento em que saímos do ventre materno, até o desfecho de si, ao regresso ao ventre da Mãe Terra.

E fico me perguntando, dentro de mim, nas reflexões interiores, ouvindo Boyce Avenue, o que exatamente queria ou quer Deus de nós. Existiria um segredo guardado a sete chaves, herméticas e ocultas, protegidas no sagrado, ao qual não poderíamos acessar? Será que há algum código, um manuscrito celestial, na cabeceira do leito divino, um livro que não chegou por aqui, nem na sua edição mais simples de se ler, o qual revelaria tudo? Teria o Criador a senha primordial, a partir da qual, todos os mistérios humanos seriam resolvidos e explicados? Acredito que não. Deus não se ocuparia em se esconder tanto assim. Ele não se oculta. Talvez não observamos direito, o ouvimos, como não escutamos o coração. Ei, me dei a atenção agora, ao que acabei de escrever. Eureka, Deus foi revelado a mim! Explicarei.

Nada está oculto. Tudo está exposto. O sagrado está diante de nós e em nós. Esquecemos dele, ao dar tanta importância ao que não tem importância ou, ao menos, aquilo que não é essencial. Trabalhamos muito, sete dias por semana, para acumular coisas que o vento leva, bem como o tempo também. Ficamos diante dos holofotes, das câmeras, da vitrine do mundo e das redes sociais, mas um dia em que ficamos próximo a quem amamos, isto é um oásis no deserto do materialismo de agora. Uma tarde com amigos, uma conversa sem sentido, um riso solto a partir de uma frase absurda, é o sagrado misterioso manifestado. Abraçar, tocar as mãos de quem se ama, pronunciar-se a respeito, dizer eu te amo, é abrir as portas dos Céus. Deve ser por isso que sentimos mais leves ao ter esta conduta. Tirar do rosto sério um sorriso, é um milagre. Se isso acontece na segunda-feira, é obra de um arcanjo, penso. A partir disso, feriado deve ser declarado, então. Viver deve ser todo dia. Deixa para sobreviver apenas na segunda-feira, lei que se propõe.

Termino minha reflexão com mais inquietudes do que respostas. Ainda vejo as pessoas tomando seu café e suspirando aspirações, outras tantas escrevendo no planner que a meta é sobreviver, e meus alunos insistindo em aprender rápido. E eu continuo escrevendo, tentando trazer meus pensamentos para fora de mim, como forma de compreender o mundo lá fora e o que está aqui dentro. A nenhuma conclusão chego. Só sei que nada sei. Mas eu sei de uma coisa que possa lhe ajudar: a vida é breve. Eu sei que a vida é curta, que às vezes não dá tempo para fazer tantas perguntas, que rir é melhor que chorar. Eu sei que perdoar é libertador, que amar é avassalador, e os dois juntos, é divino. Sei que muitos não concordarão, dirão que é uma bobagem então, e assim seguirão rumo a mais uma segunda-feira.

Sei que um abraço é gostoso, que se olhar nos olhos dos outros é maravilhoso, que a poesia é linda, mas beijar é muito mais. Sei que boleto não é de Deus, que paixão é desassossego, um querer mais que benquerer. Sei que a festa um dia vai acabar, que tudo isso será uma lembrança a revigorar, as energias daqueles que virão depois de nós. Sei que isso não monetizará, o capital até rirá, forçando a nós a trabalhar por mais um dia que se esvairá então. Sei apenas isso, e nada mais me ocorre. A vida é curta, um hiato, uma fugacidade, bolha de sabão. Logo não se cobre, mas, sim, se socorre, da loucura de uma normalidade instituída, por aqueles que  insistem em ter razão. Seja você, enfim, o que se propõe a ser. Se houver dúvida, não me pergunte, sei de nada não. Mas ouça seu coração. Talvez, Deus esteja lá pronto para lhe falar, ouvir, acalentar. Talvez, durante todo esse tempo, Ele nunca parou de dizer. As batidas continuaram, não é?

Então, Ele nunca se escondeu. Ele era e é seu…

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