O que era para ser um momento de despedida em paz para a esposa e filhos acabou se transformando em uma situação dramática para todos.
Familiares e amigos precisaram cavar uma sepultura para poder enterrar um parente no Cemitério da Paz, no bairro Altinópolis, em Governador Valadares, na última sexta-feira (2).
De acordo com familiares, ao chegar ao local do enterro de Nelson Ferreira Dimas, 68, a cova era rasa e ainda estava coberta de água. A família, então, decidiu procurar outra sepultura, no entanto, nenhuma delas tinha a profundidade e nem a largura adequada.
Foi aí que amigos e familiares começaram a cavar uma cova para aprofundar e alargar o espaço o suficiente para oferecer um enterro digno ao aposentado Nelson Ferreira Dimas. Apenas um coveiro do município se dispôs a ajudar a fazer o trabalho que já deveria estar pronto.
Revoltados com a situação, a família gravou um vídeo para mostrar o descaso da direção do Cemitério da Paz e da Prefeitura de Valadares.
“Olha o que a direção do cemitério está proporcionando pra gente. A família, o filho, amigos do seu Nelson terminando de cavar o buraco pra enterrar de forma digna … isso é pra mostrar como somos discriminados, jogados como bicho … tudo culpa da direção do cemitério … pagamos caro por isso aqui, é água, é luz, é IPTU, é taxa de lixo, pra depois um homem que trabalhou a vida toda, 68 anos, ser enterrado dessa forma aí…”, diz, em um dos vídeos, familiares.
Em outro trecho, mais desabafo: “direção do cemitério da paz, quero que vejam a fundura digna pra uma pessoa ser enterrada. André Merlo, tá aí pra você tomar a devida providência, veja aí seu Nelson Ferreira sendo enterrado…onde estão seus coveiros? Aqui só estão amigos e familiares … tem um coveiro aqui, mas sozinho, não dava conta. Então tem amigos e familiares aqui cavando a cova pra enterrar ele”.
Esclarecimento
A Prefeitura de Valadares usou as redes sociais neste sábado (3) para divulgar nota de esclarecimento sobre o ocorrido. No texto, a Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos (Smosu) diz lamentar os fatos relatados em vídeo, já que o serviço funerário tem como principal objetivo “dar dignidade à população até mesmo em sua hora derradeira, de luto para as famílias”.
A nota afirma que a sepultura disponibilizada para a família seguiu o tamanho padrão de 2,10 m de comprimento por 1 metro de profundidade e 80 cm de largura, igual às demais que se encontram abertas na mesma quadra.
Apesar da clareza das imagens gravadas pela família, a Prefeitura levantou dúvidas sobre a veracidade do fato, ao afirmar que o vídeo “mostra familiares supostamente abrindo uma cova para enterrar o ente querido”.
O genro do falecido, Wemerson Almeida Costa, disse que espera que outras famílias não passem pelo sofrimento que mãe e filhos foram submetidos. “Foi um momento traumático para eles, imagina só, os próprios familiares e amigos sendo obrigados a abrir uma cova para enterrar o corpo. Ninguém quer isso”, lamenta.
Ele afirmou também que a profundidade da cova era de menos de 1 metro e frisou que a família vai processar o município. “Não visamos ganhar dinheiro, mas não podemos simplesmente deixar isso pra lá, pois queremos evitar que outras pessoas passem por essa situação. Qualquer dinheiro que for obtido disso, a família irá doar para investimento no próprio Cemitério da Paz”, garantiu.
Tamanho
É antiga a expressão que diz que todo corpo deve ser enterrado a sete palmos do chão, algo em torno de 1,80 m.
No Brasil, as regras funerárias são fixadas por leis municipais, devido a isso, as dimensões de covas variam muito.
O Olhar fez uma pesquisa em algumas cidades brasileiras e encontrou as seguintes medidas:
Em Belo Horizonte, em Minas Gerais, as covas devem ter o comprimento de 2,00 m, a largura de 0,75 m e a profundidade de 1,70 m; em São Paulo, no Estado de São Paulo, as covas devem ter o comprimento de 2,20 m e a largura deve ser de 0,80 m, enquanto que a profundidade fica com 1,55 m; na cidade de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, a cova tem o comprimento de 2,10 m e largura de 0,80 m, com profundidade de 1,55 m; em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, a cova tem comprimento de 2,50 m, largura de 0,90 m e profundidade de 0,90 m; em Cuiabá, no Mato Grosso, o comprimento é de 2,20 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,55 m; já em Foz do Iguaçú, no Estado do Paraná, o comprimento da cova é de 2,20 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,55 m; na Cidade de Joinville em Santa Catarina, o comprimento da cova fica estipulado em 2,00 m de comprimento, 0,80 m de largura e 2,00 m de profundidade; a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, tem como medidas para as covas o comprimento de 2,20 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,55 m; a cidade de Vitória, no Espirito Santo, tem suas covas com o comprimento de 2,10 m, a largura de 0,80 m e a profundidade de 1,50 m.