O Hospital São Vicente de Paulo, o mais antigo de Governador Valadares, se tornou alvo de reclamações e ações na justiça trabalhista. Sem receber há vários meses, parte dos funcionários ingressou com pedido de rescisão indireta e pagamento dos salários atrasados.
A outra parte, cerca de 45 trabalhadores, continua prestando serviços no hospital e tenta um acordo para voltar a receber e colocar a vida em ordem.
Segundo o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Sindes-GV), enfermeiros, técnicos em enfermagem, atendentes e funcionários de serviços gerais teriam recebido seus salários em apenas três meses durante todo este ano.
A maioria são mulheres que sustentam a casa e hoje muitas delas estão com o nome negativado. A preocupação sobre como arcar com as despesas pessoais, como aluguel, água, luz, telefone tem gerado ansiedade e adoecido os profissionais de saúde, conta o presidente do Sindes, Edilson Moreira Crispim.
Ele alega que a situação se agravou com a redução pela metade do quadro de pessoal do hospital, sobrecarregando os serviços, o que pode, na avaliação do sindicalista, “induzir ao erro no atendimento ao paciente”.
Para aguentar a pressão, muitos funcionários têm trabalhado sob o efeito de medicamentos antidepressivos. “Chegamos num momento em que o trabalhador não aguenta mais, ele passou a ser um paciente cuidando de outro paciente. Estão tomando remédio pra ansiedade, pra depressão. Então é uma situação muito ruim pra todos”, diz.
Acordo
Não é de hoje que funcionários, sindicato e a administração do hospital São Vicente tentam um acordo. A falta de regularidade nos pagamentos se arrasta a cerca de cinco anos.
Vários acordos foram feitos, desde então, mas não houve cumprimento, na maioria das vezes. Nos últimos meses, a situação se complicou. “Por último, tínhamos uma negociação, em setembro, para o hospital pagar um salário atual e um atrasado, mas não avançou”, conta Edilson Crispim.
Além disso, segundo o sindicalista, funcionários teriam comentado que o hospital vem realizando o pagamento dos médicos que realizam procedimentos particulares, mas não dos outros profissionais da saúde.
“O trabalhador está lá no bloco cirúrgico e não tem pagamento, mas o médico tem o pagamento, o que é justo, mas isso adoece, pois o médico recebe e o outro profissional de saúde não. Ah, se não pagar o médico, ele não opera. Mas, se não tem o outro profissional, também não tem cirurgia”, pondera.
Hospital
O Hospital São Vicente de Paulo, administrado pelos médicos Marcílio Alves, vereador, e Luciano de Oliveira, vice-prefeito de Governador Valadares, nega que apenas os médicos têm recebido os salários.
De acordo com Marcílio Alves, o hospital passa por dificuldades desde que ficou um período impedido de prestar atendimento, devido a demora no processo de renovação do alvará de funcionamento. “Eu e Luciano chegamos a pagar funcionários do nosso bolso”, comenta.
Ele explica que quando as atividades retornaram e começou a entrar dinheiro, “começamos a faturar para pagar os funcionários”. Porém, segundo o médico, devido à ação movida por parte dos funcionários, a justiça bloqueou os valores recebidos pelo São Vicente, impossibilitando o pagamento dos salários.
“Perdem os dois lados, pois com os recursos bloqueados, a situação só se agrava, e se o hospital fechar vai demorar ainda mais para os trabalhadores receberem”, ressalta Alves.
O administrador lembra ainda que o São Vicente de Paulo é importante dentro do sistema de saúde em Valadares, já que 90% dos atendimentos são realizados por meio do SUS. “São 200 cirurgias cesarianas no mês, portanto, perde também a cidade”.
Mediação
Na quinta-feira (28), a direção do Sindes participou de uma audiência de mediação no Ministério Público do Trabalho. Mas como não compareceu ninguém da administração do hospital, o advogado que representa o São Vicente de Paulo não pode garantir nenhum acordo.
O presidente do Sindes, Edilson Crispim, disse que a direção do hospital informou que está tentando a liberação de uma parte do dinheiro bloqueado “pra dar uma respirada”.
Ele ressalta, no entanto, que o funcionário do hospital está desanimado. “Eles não querem mais trabalhar, querem parar. Não querem mais saber se o recurso está bloqueado ou não, ele quer o seu salário no final do mês”, finaliza o sindicalista.