Rafael, ao conhecer Isabela, desperta nele o mistério feminino, tomado de uma força estranha, na direção da menina de pele alva, de cabelos além da alça, um sutil movimento e perfume natural. Porém, A Coroada, como depois é chamada pelo jovem estudante de Direito, é além do que se pode ver, pois esconde a mulher na menina e, também, a menina na mulher.
A estudante de Letras, diante do quadro político brasileiro em 1964, planeja um movimento de guerrilha, com o aval de Havana, contra a ditadura militar. Mas Isabela vive entre a razão política e a emoção de seu amor por Rafael, que a eterniza. Nisso, descortina-se a Aurora, a escolha que o destino nos oferece a cada dia, ao nascer do sol, de fazermos algo diferente em nossas vidas. Seguir a Razão? Seguir o Coração? Vida autêntica ou inautêntica? Esse conflito (equilíbrio) do mundo dialoga diariamente conosco, e não será diferente com os nossos heróis.
Durante a jornada, Rafael e Isabela terão a ajuda espiritual de Padre Marcos, um pároco niilista, e Marília, a Comunista, a melhor amiga da Coroada. E essa história será contada pelo Professor, o narrador que se emociona a cada letra escrita narrada por ele e que, de certo modo, o faz sentir a similitude com sua própria história, ou melhor, seu romance com a Menina. Os momentos de despedida, de desencontros, de amores repentinos de Rafael e Isabela fazem lembrar ao Professor seus instantes com a Menina, a quem ele devota um amor incondicional.
Aurora é um livro em que se fala sobre a política do mundo, com recortes de vários períodos, como o século XIX, a guerra fria, o mundo pós-moderno e, claro, a ditadura militar brasileira de 1964 e sua tragédia. Também tem elementos da cultura brasileira, de nossa história, de nossos povos, como os Pataxós, os primeiros a receber os portugueses, no ato do descobrimento, em 1500, em Coroa Vermelha, Bahia. Também tem cidades, como o Rio de Janeiro, Porto Seguro, Belo Horizonte, Praga, a capital Tcheca e, claro, a cidade fictícia de Isabela, Céu Pequeno.
Porém, o livro é um romance, em que o amor surge e se apresenta de diversas formas e tons, sem pudores ou convenções, apenas permitindo-se amar. E, nisso, as reflexões filosóficas sobre o ser humano, como deveríamos ser, atendendo à nossa própria natureza, oferece ao leitor a chance de se autoanalisar, e compreender que a vida é mais que o dia a dia. A Aurora é a chance de nos reencontrarmos, pois temos tempo, ainda, para sermos felizes! O destino pode ser, muitas vezes, nosso amigo, a depender da leitura que realizamos dele.
Assim, Aurora, com todos esses elementos, cultura, história e filosofia, ao final, com o único objetivo, ele nos falará do amor. Vai nos mostrar que nossa ânsia de buscar outras coisas, como carreira, jornada, uma vitória ou um conflito, é menor que a força do oculto, Deus ou universo, como queira denominar. Demonstrará este romance a convergência de uma energia que nos reposiciona na vida, no caminho ou, ao menos, nas reflexões sobre tais temas. E isso mostra como somos nós, seres humanos: perdemos de nossa natureza, mas esta, de algum modo, convida-nos a voltar para nós. Amai uns aos outros como vos amei. Aurora é sobre amor, enfim.
