No mundo todo existem campanhas para substituir o canudo plástico por materiais de fácil decomposição. Vários municípios brasileiros já transformaram a medida em lei, como a vizinha cidade de Ipatinga, onde a Câmara Municipal baniu o fornecimento do utensílio em dezembro do ano passado.
Projeto de lei com o mesmo teor tramita no Senado Federal, sugerido a partir de iniciativa popular, e a proibição poderá valer para todo território nacional.
Em Governador Valadares, na contramão deste movimento estão os vereadores Marcion da Fusobras (PR), Geremias Brito (PSL), Coronel Wagner (PMN), Juninho da Farmácia (PDT), Rosemary Mafra (PCdoB), Paulinho Costa (PDT), Regino Cruz (PTB), Juarez Gomes (DEM).
Na reunião ordinária desta segunda-feira (2), a primeira do mês, eles se manifestaram contra o projeto de lei nº 32/2019, que visa proibir o fornecimento de canudos plásticos em bares, restaurantes, lanchonetes, hotéis e outros no município.
Proposto pelo vereador Robinho Mifarreg (Pros), o projeto caminhava para ser derrotada em plenário, e caso isso acontecesse, só poderia retornar no próximo ano. Sem votos, o parlamentar decidiu retirar o projeto para tentar convencer os colegas antes de uma nova votação.
Segundo ele, a finalidade é despertar a consciência da população para os danos causados ao meio ambiente e à saúde de quem faz uso do canudo. “Eles têm vida útil extremamente pequena e trazem prejuízos quase irreparáveis. Assim como os copos plásticos, a matéria-prima deles não é biodegradável e podem levar até mil anos para se decomporem”.
Mifarreg explicou ainda que o plástico do canudo contém Bisfenol A (BPA), um produto químico que pode levar a distúrbios reprodutivos, câncer de mama e próstata, diabetes, doenças cardíacas e outros”, relatou.
O parlamentar lembrou que uma grande quantidade desse material acaba nos oceanos e acarreta na morte de diversas espécies marinhas. Também mostrou opções de canudos que não degradam o meio ambiente e demoram pouco tempo para se decompor, cerca de dois anos e meio, como os de vidro, aço inox, silicone, papel alumínio, palha, macarrão, bambu e outros comestíveis e até reutilizáveis.
“Não podemos nos acomodar com o canudo de plástico, que vem embalado em outro plástico, que imediatamente é jogado no chão. Se não estivermos no plenário para mudar o futuro, de nada nos adianta estar aqui”, ponderou ele.
Robinho lembrou também do vídeo gravado na Costa Rica, mostrando uma tartaruga marinha com um canudo preso na narina, cuja imagem incentivou vários países a adotarem a proibição.
Apenas três vereadores se manifestaram favoráveis ao projeto. Um deles foi o vereador Alessandro Ferraz (PHS), que lembrou que em Valadares já existem alguns estabelecimentos com foco na sustentabilidade e defesa do meio ambiente. Para o parlamentar, esse deveria ser o caminho: “o próprio comércio deveria se conscientizar e adquirir essa prática, sem necessidade de aprovação de leis”, frisou.
O vereador Marcílio Alves (MDB) defendeu a proposta de Mifarreg e disse que é responsabilidade de todos proteger a natureza e não permitir que materiais plásticos acabem no mar. Ele também apresentou um projeto que determina ao estabelecimento público utilizar copo plástico produzido com produto biodegradável.
Já a vereadora Iracy de Matos (Solidariedade) questionou a necessidade do uso do canudo: “por que ao invés do canudo, não toma no copo?”.
Ela argumentou ainda que não há como cuidar do ser humano sem cuidar do meio ambiente. “Todo dia a gente vê na televisão animais marinhos que sofreram as consequências da falta de cuidado do ser humano. Temos que criar novos critérios para proteger o meio ambiente, temos que começar a pensar nas gerações futuras”, falou.
Quem se manifestou contra o projeto alegou, entre outros, que o fim do uso do canudo poderia atingir em especial os pequenos comerciantes, como vendedores de coco ou sanduíche, que teriam dificuldades financeiras em comprar materiais biodegradáveis.
O valor da multa de 50 ufirs para quem infringir a lei também foi uma das justificativas de quem se posicionou contra a proposta e até um possível aumento do desemprego com o fechamento de fábricas de canudos foi citado por vereadores.