Com algumas letras, números e traços específicos, ele consegue transformar o F em um cavalo, uma locomotiva e até em um tubarão. A letra E pode virar um robô, uma princesa ou uma onça. Tudo depende da criatividade do professor João Marcos Parreira Mendonça. E é esta criatividade que ele coloca à disposição em um canal no Youtube, com o objetivo de ensinar internautas mirins a desenhar.
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univale, João Marcos é o criador dos personagens Mendelévio e Telúria, e tem alguns livros lançados para o público infantil. Entre eles, ‘20.000 Léguas Submarinas’, em parceria com Will (Nemo), ‘Histórias Tão Pequenas de Nós Dois’ (Abacatte Editorial), ‘O Mundo Mendelévio e o Planeta Telúria‘, ‘Sete Histórias de Pescaria de Seu Vivinho’, em parceria com Fábio Sombra (Abacatte Editorial). No início de julho, ele lançou ‘Pra que tomar banho?’, segundo exemplar da coleção ‘Meu Primeiro Quadrinho’.
João Marcos também faz parte da equipe de roteiristas da Maurício de Sousa Produções, que produz os quadrinhos de uma das turmas preferidas das crianças (e também dos adultos, por que não?): a Turma da Mônica.
Nesta rápida entrevista feita por e-mail, ele conta um pouco sobre o projeto “Traça traço”, que tem um vídeo novo a cada terça-feira, e também sobre os trabalhos que desenvolve. Confira:
– Como surgiu a ideia de criar o canal ‘Traça Traço’, pra ensinar crianças a desenhar? Me trouxe à lembrança o Daniel Azulay. Eu vivia tentando aprender a desenhar com ele. O máximo que consegui foi aprender aqueles ‘bonecos palitos’ (risos)…
Durante um período eu consegui conciliar o meu trabalho com oficinas e cursos de desenho e histórias em quadrinhos para crianças. Mas, de um tempo pra cá, em função dos meus compromissos profissionais, eu acabei parando com esse trabalho. Vez ou outra, recebo algum pedido de pais que gostariam de matricular os filhos nos cursos que eu ministrava. Em dezembro do ano passado, recebi alguns pedidos e, a partir de então, comecei a pensar na possibilidade de fazer um canal onde pudesse trabalhar a prática do desenho para crianças.
Depois disso, durante um trabalho com o produtor de vídeos para eventos, Jhonatan Pires, ele compartilhou o desejo de trabalhar com conteúdos diferentes, principalmente no Youtube. Foi quando contei a ele a ideia que tinha para o canal. Ele aceitou imediatamente e, depois algumas reuniões, começamos a gravar os vídeos que já estão no ar no canal.
E é muito legal essa lembrança do Daniel Azulay… aqueles programas foram muito importantes na minha infância. Eu gostava demais e também ficava na frente da TV tentando fazer os desenhos que ele ensinava. Se eu conseguir passar um pouquinho daquela alegria que sentia às pessoas que assistem ao canal, me sentirei realizado!
– Como tem sido o retorno? Parece que você gosta muito de trabalhar com crianças…
Tem sido muito positivo. Realmente não imaginava que pudesse receber tantos depoimentos tão carinhosos. Das crianças, dos pais, professores… Vários relatos me deixaram muito emocionado. Pessoas que se identificaram com o vídeo onde conto minha história pessoal (tanto adultos quanto crianças), mães que enviaram mensagens, ligaram ou me falaram pessoalmente sobre o quanto os filhos se identificaram com o que aconteceu comigo, da possibilidade de se trabalhar com algo relacionado à arte. Uma mãe me contou, chorando, do quanto o filho tinha gostado e tinha ficado feliz em saber que o que ele gostava tanto (que é desenhar) pudesse ser uma profissão. Têm sido muitos retornos gratificantes.
Em relação aos vídeos que ensinam a desenhar, tenho recebido muitas mensagens de pais contando que o canal virou programa obrigatório em casa, da expectativa pelos vídeos novos, de crianças que se reúnem para desenhar juntas a partir dos vídeos e de pais que passaram a desenhar juntos com os filhos. Isso não tem preço. Temos recebido muitas fotos dos desenhos de crianças que, aos poucos, temos disponibilizado na página do canal no Facebook. E, sim… gosto muito de trabalhar com crianças! Tem uma frase do poeta Manoel de Barros que tenho como um objetivo na vida, como uma forma de não perder o olhar de encantamento e surpresa que elas têm pra vida: “quando crescer, quero continuar criança’.
– O que você espera com este canal?
O principal objetivo do canal é contribuir para que a criança tenha experiências em relação a sua percepção, imaginação e expressão através dos desenhos de cartum. O meu desejo é mostrar que desenhar pode ser muito mais fácil do que se imagina quando temos um olhar diferente para as coisas que nos rodeiam. A ideia é que, a partir dos exemplos mostrados nos vídeos, as crianças possam criar seus próprios desenhos a partir da metodologia apresentada no canal. Nas oficinas com crianças, não teve uma única vez em que eu não fosse surpreendido com um desenho diferente, criativo, inventado por elas. É só mostrar o caminho que elas apresentam novas possibilidades criativas.
Além disso, gostaria muito que a relação com os vídeos não fosse só a do espectador que recebe um conteúdo, mas que colocasse em prática esse mesmo conteúdo, tendo uma atitude mais participativa em relação a ele.
– Agora vamos falar um pouco de sua história. Como você começou a desenhar e o que te levou para este caminho?
Comecei por influência dos meus pais. Meu pai gostava muito de ler, inclusive histórias em quadrinhos. Quando minha mãe ficou grávida de mim, eles fizeram uma coleção de revistas em quadrinhos pro filho que estava pra nascer. Depois, essa coleção só foi aumentando. Já a minha mãe pintava camisas para crianças, e eu ficava horas ao lado dela vendo seus desenhos e pintura. Ficava encantado! Isso tudo serviu de inspiração e incentivo pra gostar de desenho e de quadrinhos. Quando fui alfabetizado, já fazia minhas próprias histórias e revistas, influenciado pelas histórias da Turma da Mônica. Com 14 anos comecei a trabalhar no jornal da minha cidade (Ipatinga) e, o que era brincadeira, acabou virando minha profissão.
– Você tem uns personagens já bem conhecidos do público mineiro, certo? Mendelévio e Telúria… Fale um pouco sobre o que você já criou. Quantos personagens, quantos livros você já editou?
Mendelévio e Telúria começaram a ser publicados na imprensa mineira, primeiro em Ipatinga e depois no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, por 14 anos. Antes de publicar por editoras, eu publiquei dois livros independentes, onde juntei alguns recursos para bancar a edição dos livros e contei com a ajuda de amigos nessa empreitada. Depois, os livros passaram a ser publicadas pela Abacatte editorial, que é do grupo da Editora Lê, de Belo Horizonte. Com Mendelévio e Telúria já são quatro livros publicados. O mais legal é que, com o trabalho e a distribuição feitos pela editora, os personagens saíram de Minas e conquistaram outros lugares também. Os livros com os personagens já foram adotados em escolas e programas governamentais de incentivo à leitura em estados como Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro entre outros. Além dos livros com os personagens, tenho mais oito livros publicados, por outras editoras.
– Agora, quero que você me fale um pouco do seu trabalho com o Maurício de Sousa. Ainda faz parte da equipe dele? Você também participou de alguns livros ilustrados da Turma da Mônica, certo? A Turma da Mônica tem alguns ‘graphic novels‘ sensacionais. Você chegou a fazer algum? Se não, quando vai fazer (risos)?
Faço parte da equipe de roteiristas da Mauricio de Sousa Produções, nas revistas infantis da Turma da Mônica. Desde o ano passado tenho feito também, além dos quadrinhos, alguns livros ilustrados da Turminha. Dois deles saíram, este ano, como brindes do McLanche Feliz, nas lojas do McDonald’s em todo o Brasil, em comemoração ao Dia Nacional do Livro Infantil, celebrado no dia 18 de abril. São ‘A Máquina que Copiava’ e “A Varinha Mágica’. Foi uma alegria participar desse projeto. Antes disso, participei com uma história em dois projetos especiais do estúdio, que foram os livros ‘MSP 50’ (em comemoração aos 50 anos de carreira do Mauricio de Sousa) e o livro ‘Ouro da Casa’, onde os profissionais do estúdio puderam dar a sua visão pessoal sobre os personagens do Maurício. Sobre as graphics MSP (que são realmente sensacionais) eu nunca participei… E é um sonho poder participar um dia!
No vídeo abaixo, Minha Vida nos Quadrinhos, você pode conhecer um pouco mais sobre o trabalho de João Marcos:
