Um servidor de carreira do Legislativo Municipal denunciou, na semana passada, em sua página no Facebook, a existência de um suposto esquema de ‘rachadinha’ na Câmara de Governador Valadares.
Além disso, ele ameaçou formalizar uma denúncia em Belo Horizonte, já que, segundo disse, no município de Governador Valadares não teria um Ministério Público “confiável”.
Sem citar nomes, o funcionário insinuou que vereadores estariam empregando assessores em seus gabinetes, ou nos próprios cargos comissionados da Câmara – onde os salários são maiores -, e, em troca do emprego, um percentual dos salários estaria indo para o bolso de parlamentares.
“Não dão revisão anual a 5 anos para servidores efetivos, mas querem criar mais cargos comissionados para fazerem rachadinha. Vou a BH denunciar”, ameaçou em uma postagem na última quarta-feira (23).
Minutos antes, o servidor efetivo da Câmara Municipal havia postado o seguinte texto: “pronto para ir a BH denunciar, façam se tiverem coragem. Neste país existe uma constituição, pena que GV não tem um ministério público confiável“, constatou.
No dia seguinte, na manhã da última quinta-feira (24), fez uma nova manifestação:
“Se não fosse pelo Vereador Paulinho Costa, em seu último dia como presidente da Câmara, hj eu estaria ganhando metade do que ganho. Além de não ter um centavo de aumento nos últimos 5 anos, ainda vi meus vencimentos diminuírem. Perdi cargo, fui afastado de comissão e vi meu salário, ao invés de aumentar, diminuir nos últimos 2 anos. Estou farto de perdas, de saco cheio e não vou me calar diante de certos absurdos. Nunca tive e continuo não tendo nada contra servidores contratados, mas hj eles são a grande maioria na Câmara, quase 10 para cada efetivo. E parece que ainda acham pouco e querem mais. Ok, que contratem mais, desde que façam justiça com servidores que caminham para 6 anos sem nenhuma revisão salarial. Como disse: não vou permanecer calado enquanto sou constantemente prejudicado. Completo em poucos dias 16 anos de serviços prestados e exijo um mínimo de respeito por um servidor que suportou praticamente sozinho o “Mar de Lama”, a chefe entrou em licença maternidade por 6 meses e eu tive que me desdobrar para dar conta dos processos e do plenário durante as reuniões, sozinho praticamente, ao invés das 6 horas diárias regimentais, trabalhei cerca de 10 horas diárias durante cerca de 7 meses naquele mal fadado ano de 2016. Tanta dedicação hj é paga com diminuição de salário e desrespeito à minha graduação e pós-graduação em Administração Pública. Cheguei a um ponto que não dá mais para aguentar. Não tenho a intenção de ofender ninguém, mas exijo respeito enquanto servidor público.”, desabafou.
Boca no trombone
De acordo com informações, o servidor teria ficado inconformado com o arquivamento do projeto de lei 018/2022, que reajustava em 11% os salários do pessoal do quadro do Legislativo e resolveu ‘colocar a boca no trombone’.
O mesmo projeto previa também o aumento dos subsídios dos vereadores, no mesmo percentual, mas devido à polêmica criada na cidade, a matéria foi retirada da pauta e arquivada.
Como os vereadores atrelaram os dois reajustes em um mesmo projeto, numa tentativa de garantir a aprovação de seus próprios subsídios, conforme afirmou um parlamentar, os servidores da Câmara ficaram prejudicados, já que a última revisão salarial concedida foi em 2017.
Agora, o projeto de lei que trata da recomposição salarial dos servidores do Legislativo só poderá entrar na ordem do dia novamente no ano de 2023.
Silêncio
Na última sexta-feira (25), a reportagem do O Olhar questionou ao presidente Regino Cruz (Podemos), por meio de e-mail, quais procedimentos seriam adotados para apurar a denúncia de suposto esquema de ‘rachadinha’, bem como o número de cargos comissionados no órgão e se há previsão para realização de concurso público. No entanto, até agora não houve nenhuma resposta.