Tudo fica mais fácil quando ao lhe ver consigo aprender e ensinar

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Tudo fica mais fácil quando ao lhe ver consigo aprender e ensinar
Imagem: Reprodução/Internet

Em um dia qualquer, sem quaisquer pretensões eu era, ouvi de um Mestre sobre o amor ser. Escutei ele discorrer sobre o que seria essa arte, de deixar nenhuma parte, para o outro viver. Parei um pouco para concentrar, aos meus sentidos captar, ao que necessário foi pensar sobre isso uma vez. Todas às vezes, lembrei. E fiquei a dilatar, pupilas que queriam olhar, a performance do Professor ensinando que amar era dor, a escravizar o outro no sentimento. Um tormento. Alento que não viria depois, concluiu, ora pois. A cátedra ocupava o lugar do coração. E eu, quixotesco de novo, disse um pouco para dentro de mim. Errado ele estava, dizia. E repetia a mim: errado eu fui também.

De Coimbra era, disse o Mestre a todos ali, enquanto sobre o romantismo discorria. Nos seus olhos eu vi a agonia de, quem sabe, um coração partido talvez viveu. Sofro eu disso também, ao olhar para alguém, as lembranças de amores platônicos que colecionei. Ah, como eu figurei, entre tantas personagens, a cada imagem que se fazia, na minha nostalgia de uma lembrança estar. Não é para rir, ela fez assim, ao me notar, enfim, ao que a gargalhada se mostrou um conforto. O Mestre olhou de novo, apertou seus olhos, e os dois meninos na sala não se seguraram do riso solto ao ver a careta dele, falando do amor não ser. Sei que esse sentimento é pra valer. É o que todos esperam viver.

A aula continuava, e eu pensava, no que é o sentimento de pertencimento acolhido dentro do outro. Fiquei a recordar, todos momentos em que em mim formigava, aquela coisa que faz a gente viver. O olhar enviesado, de ficar insuspeitado, sem chance de o segredo revelar. Esse jogo gostoso, de aproximar sem muito pouco, para um tanto compartilhar da vida que milagre é. Quando se ama é. Esqueci do dogmatismo, de todos os ismos, que o Mestre enfileirava a cada discurso seu. E eu vi que ele sofreu, por não permitir deixar, o sentimento aflorar, quando a sua porta alguém bateu. Ah, claro que bateu, como bate agora aqui, ao ver a essa hora, a nitidez do formigamento dentro de mim, sinapses divinas de um Deus louco que amou muito ao escrever a poesia do mundo, que é a vida. Muita alegria eu direcionei a ela, ao apontar a querela, do Mestre ser um coração partido, escondido nos livros intelectuais dos outros, desejando em seu íntimo, ser o amor de alguém. E nisso nada tem a perder. É só ganhar. Poesia de um amor correspondido é o que esperamos encontrar.

E o riso dela não se controlava, minhas sensações só aumentava, e o Mestre não entendia o que acontecia. Menos eu ainda, na ânsia de experimentar, a paixão indescoberta expressar, toda a beleza do mundo como deveria ser. Pensei rápido como o raio, veloz como a luz, e choroso como um menino que só quer um abraço. O abraço dela… Esse laço esperei tanto, ao que o Mestre suspeito também, a vontade de unir sua alma a outra e dois serem um. Não é pra qualquer um, sentimento que bate forte na gente e acalma de tanto desespero. Eita sô, como é esse medo de apaixonar assim? Indescoberto, enfim, aqueles olhos me vendo sim. Melhor que pão de queijo é só um b… e aí deixo vocês terminarem. Sou besta não, sô, de falar de uma só vez. Aos poucos é melhor. Suavidade da vida que exige assim.

O Mestre não sabia que a paixão é o amor que ele sentia, ao se recolher longe de si o que ele era de verdade. Em qualquer idade isso vem, de acometer a gente, de uma revolução que faz o tempo parar. Quem nunca fitou de olhar, para um rosto admirar, sem os ponteiros observar, as mil voltas que foram? Duvido que não se ofereceu, a mais de minutos em rotações circulares que se deu, bobear desse modo nada sutil. Tenho a certeza que foi isso que se viu. O mundo inteiro percebeu. E ela também compreendeu. Indescoberto eu não era mais. Terras invadidas foram sem um passo no chão pisar. Ela assim olhou para mim. E eu nada fiz além de me doar. Pode passear por mim, sim. Eu quero é admirar! Apaixonar…

Os tempos de agora exigem demais da gente. A cada dia que se vai, é menos uma Aurora para encontrar, o que vale a pena ser e viver. Menos ter, mais entregar, para dois compartilharem, a bobeira da vida da gente. Fim de tarde com café quente, coração batendo na frente, ela sem qualquer definição precisa para conceituar. A poesia deveria falar, o Mestre ensinar, como quebrar as correntes que nos prendem ao desumano que nos aprisiona. Humanos somos demais, ao amar sem propriedade, só de olhar de vez em quando para saber se é de verdade. Ah, ela era de verdade. E como amei cada imagem que se fotografava para na saudade ser um álbum de coleções dos sentimentos meus. Como bobo sou eu. Drummond já disse isso uma vez. E do Itabirano eu não vou duvidar. Do coração dele não se pode teimar. E nem eu do meu também.

A aula acabou, materiais e pessoas se movimentaram, e o Mestre pediu mais lições para se atividar. Ela se levantou, e o tempo passou, mais um dia para aprender como as coisas correm da gente. Dinheiro que não sobra, palavras que não vem na hora, coragem que timida quando guerreiro deveríamos ser. Fiquei ali parado, ouvindo muito fortemente desse lado, um brado para todos despertar. Um aceno fiz, não suficiente enfim, no que a voz pôs a se falar. Os discentes voltaram, o Mestre auscultou contrariado, e ela ficou muito perto do meu olfato, ao que inspirado, falei de uma só vez: amor não é para explicar… é para experimentar!

Uma loucura então se fez, como planejado no Éden, o arquétipo da vida plena. E sem escassez, indescoberto amores se foram. Dois viraram um, um virou três, quatro foram mais que isso, e a matemática não deu conta daquilo. O Mestre foi roubado, por um beijo não planejado, de alguém que pulou nos seus braços, no que ele indescoberto não foi mais. Todos se resolveram, dogmatismos que se quedaram e paixões que se elevaram, em revoluções por minuto. Fiquei então de um jeito, como herói de um fim de crônica, rindo disso tudo aí, aliviado por ter dito o que disse. Mas ela ainda estava ali, no sorriso discreto sim, aproximando de mim, e eu sem saber o que fazer. Sem ao menos entender, vi seu gesto, seu modo singelo de dizer, o quanto foi importante o meu expressar. E eu sem pensar, caminhando feito menino no meu apaixonar, disse a ela de uma só vez, o que era para ser dito por todos quando assim se encontrar. Coragem que me veio ao fim de uma crônica narrar, a felicidade instada a reinar. Eu diante dela, enfim, me pus a declarar assim…

Tudo fica mais fácil quando ao lhe ver consigo aprender e ensinar.”

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