A Câmara de Vereadores perdeu a oportunidade de cumprir seu papel de representante do povo inaugurando, em Governador Valadares, o debate sobre a concessão da administração do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). O assunto é de interesse de todos.
No início deste mês, o plenário rejeitou o requerimento 5/2023 que solicitava a realização de audiência pública justamente para discutir, esclarecer, informar e dar voz ao sentimento dos moradores sobre a pretensão do Executivo de entregar para a iniciativa privada, durante os próximos 30 anos, a gestão dos serviços realizados pela autarquia desde a década de 50.
Acharam melhor, os parlamentares governistas, deixar tudo nas mãos do poder concedente, no caso, o Executivo Municipal, e dentro das regras determinadas por ele.
A surpresa é zero. Ao negar debater com servidores efetivos e contratados e com a sociedade valadarense o destino da autarquia e de seus funcionários, o Legislativo parece passar a mensagem de que vai fazer coro à decisão unilateral do governo de abrir mão da administração do órgão municipal de saneamento básico.
Dessa forma, o prefeito André Merlo (sem partido) não deverá enfrentar dificuldades para aprovar a proposta na Câmara, onde tem maioria folgada, composta por vereadores que não se incomodam de se comportar como um bando de apaniguados.
Não é segredo que o Saae tornou-se, nos últimos anos, um gigantesco cabide de empregos. É lá que vários parlamentares, em especial os mais ‘experientes’, como Paulinho Costa (PDT) e Regino Cruz (Podemos), acomodam seus inúmeros apadrinhados, segundo afirmam servidores efetivos.
Também não é à toa que o órgão tem, atualmente, o número de contratados quase igual ao do quadro de pessoal de carreira – que é de cerca de 370 servidores, ao passo que a folha de pagamento de janeiro acusou um total de 739 funcionários, entre efetivos, temporários e comissionados.
A pergunta é: o que receberão, em troca, os vereadores de Valadares, para abrir mão de centenas de indicados que acolhem na autarquia?