Amar Não Tem Explicação

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amar não tem explicação
Imagem: Reprodução

Começo este texto, a crônica de hoje ou do dia em que for me ler, sobre um sentimento que sempre estou a refletir sobre ele. Não é a primeira vez em que toco no assunto, seja em uma crônica, um conto, um romance, ou qualquer discurso de palavras pronunciadas ao ar e ao vento. Tal como a fluidez dos fonemas que se perdem ao encontrar as ondas sonoras que se faz compreender, a saudade é um sentimento fugaz, frágil e difícil de se controlar.

De início sempre faço as perguntas a mim mesmo sobre o que eu estou pensando. Neste momento, vendo as letras na tela do meu notebook, percebo o quanto de saudade ainda existe em mim, sejam elas do passado, do presente e daquilo que não vivi, um futuro que se espera construir. E indago qual a razão de sentir isso, de tentar reviver o que se foi, permanecer o que se é, e elaborar o que não se fez ainda presente. Advirto que sou canceriano, da constelação zodiacal das lembranças, das águas tempestuosas, quando existe a combinação de uma reminiscência e uma emoção forte. Pobre de mim, o tanto que já acomodei nos dicionários, a grafia de rios que são oceanos de lembranças. Te amo, Pai!

Mas não é sobre mim essa crônica e confesso que tenho a dificuldade de falar sobre mim mesmo, outra característica do canceriano, o caranguejo que recua sempre. O assunto é a saudade enquanto sentimento universal, seja de câncer, leão, áries, aquário, libra e peixes, ou qualquer outro signo da vida. A saudade vem sorrateira, em tardes chuvosas de inverno ela vem mais rápida, como também acelerada é quando no rádio, na internet, na playlist, ou no cantarolar solitário, ela insiste em dizer para a gente: lembra como foi?

E assim recordamos, tentamos reviver os “borrões em nossas mentes”, daquilo que marcou nossas vidas de forma especialmente eterna. Nesse instante, quando da recordação, a maestria da saudade faz você se levantar, buscar objetos que faziam sentido com aquele sentimento, uma tentativa de reconstruir o cenário de um dia…feliz. Saudade é assim, um missing you na mensagem de texto, no verso da música, no bombom serenata e, muitas vezes, guardado e escondido no coração. Quantas vezes fui lá e abri essa caixa e vi você? Muitas, diz a poesia.

Os seres humanos são definidos pelo ato de pensar. E nessa essencialidade que nos marca, confundimos pensamento com razão, uma matemática fria, a ciência que explica tudo, menos um acordar no meio da madrugada lembrando de alguém. E aqui a filosofia me ajuda, não a peripatética da academia, mas, sim, aquela “sofia” que me fez entender que o mundo é bem mais do que uma equação com diversas variáveis na lousa explicada. Claro, eu sei somar, pois, faço isso sempre, quando lembro às vezes em que senti a falta de um dia, de um momento, de alguém. É óbvio que sei subtrair, deixando de lado os arquétipos das tristezas, os momentos em que eu deveria ter feito diferente, não fechando uma porta e, simplesmente abrindo portas, derrubando muros. E, sim, eu sei que a ciência tem razões, mas, além disso, ela tem uma dúvida sobre o órgão pulsador das paixões: por que a saudade faz isso com a gente? Tenho minhas suspeitas e vou descortiná-las.

A primeira suspeita que tenho sobre o fato de termos saudades é porque elas são fotografias de nossa autenticidade. Aquele retrato o qual não foge de minha mente é um pouco de mim. O dia em que gritei mais alto por felicidade, sussurrei ao seu ouvido por mais amor, aquele dia em que propus a loucura de viver os dias sem agendas, somente rindo e saboreando chocolates, isso sou eu. Isso é a recordação do que se é. Isso é o sentimento que passa mil vezes no nosso pensamento na velocidade da luz e que, quando se repete, queremos sempre e um pouco mais. A chuva caí lá fora, o tempo é cinzento e frio, a música toca ao lado e você está prestes a romper a fronteira da saudade e viver o momento. Vai lá, te espero voltar…Melhor assim.

Enquanto isso, descortino a minha segunda suspeita sobre termos saudade. Aqui, talvez, não seja tão digno, porém, há solução para isso. É uma extensão da primeira hipótese, a qual se sobrepõe em um conjunto de evidências. Temos saudades porque temos medo. Sim, temos medo de ouvir um não, uma rejeição, um esquecimento definitivo. Temos medo de abandonar o orgulho, ser um pouco mais humilde, abandonando a razão e sendo feliz. A saudade habita o teu ser, insiste em ser, quando, na verdade, essa bolha de sabão poderia ser mais real e concreta.

Quando a imagem em tua mente ainda é um presente, o aqui e agora, não faz sentido esperar muito para vivê-la na realidade. Sabe, quando você está ali, ao lado do seu telefone, do aplicativo, de qualquer meio de comunicação (um levantar de mão que faz o aceno), e a hesitação vem? Entende que muitas vezes basta dizer: “sinto sua falta, e desculpe por não dizer isso antes.” Você se engradece por isso, liberta-se nesse sentido, e teu sentimento passa a ser uma pessoa ao teu lado, no que certamente irá ouvir desta: “por que demorou tanto tempo?” Saudade é teimosia quando a fotografia é a vida. A filosofia sempre me ajudou. A poesia muito, mas muito mais.

E, por fim, chego a minha terceira suspeita e hipótese. Venho dizendo assim, meio que ciência, pelo fato de estar aprendendo agora a como pesquisar as coisas. Quem ler e ver vai rir de mim. Que bom, uma saudade estou construindo agora. Mas não fugindo do assunto, disserto agora sobre a tese do meu objeto de pesquisa: sentimos saudades porque somos humanos. Sim, você é humano! Não te contaram? Então eu faço agora o favor de lhe advertir que és humano demais, daqueles que sonham, quixoteiam, drumondeiam e se amam além de Camões, um eterno enquanto dure.

A saudade é humana, porque somos teimosos em insistir em arquivar a coletânea de emoções que vivemos. A saudade é humana porque ela gruda na gente, faz de bobo a mente, mas não resiste a um sorriso seu quando faz assim. A saudade é humana porque ela também é gostosa, aqui nem me atrevo a fazer a anedota, porque posso ir além do que as letras conseguem escrever e fazer entender. A saudade é humana, porque não conseguimos registrar todas as manhãs, em que ouvimos um adeus assim. A saudade é humana porque queremos, e esperamos, compartilhar o melhor de nós com a pessoa que amamos. A saudade é humana porque eu não sei explicar, porque ela tem um pouco do apaixonar, sentimento este que não tem explicação. A saudade é humana, repito agora então, precisando ver de novo a ti para não arrepender jamais. A saudade é humana, mas segunda-feira não. A saudade é humana, o teu sorriso encanta, saudade que se faz mais uma vez, paixão. A saudade é humana, e ela mui bem reclama, a presença de você aqui, para confirmar a razão. A razão que se escreve assim, definitivamente, enfim, a solução da criação: que amar não tem explicação.

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