Escassez de água em Valadares: uma estratégia política e quiçá criminosa

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Escassez de água em Valadares: uma estratégia política e quiçá criminosa
Moradores do Trevo, Santa Paula e Palmeiras protestam contra 22 dias sem água em casa. Foto: Divulgação/internet.

Como nunca ocorrido antes, Governador Valadares agora se vê envolta em uma crise inédita de escassez de água. Ao contrário do que se imaginaria, essa crise não é resultado de anos de problemas estruturais decorrentes da seca ou de estiagem prolongada, mas sim uma consequência direta das políticas adotadas pelo prefeito André Merlo (União Brasil). Ou melhor, da falta delas.

O que era para ser um recurso abundante na região do rio Doce, principalmente a partir de uma nova fonte de captação de água – que não se tornou realidade até hoje, embora prefeitura e Fundação Renova tenham feito todo um espetáculo midiático de uma inauguração fake -, transformou-se, nos últimos anos, em um instrumento de manipulação política sem precedentes na história de Valadares. E covarde!

Nos últimos tempos – e esse tempo tem data: a partir de 2017 -, a população de diversos bairros vem sofrendo na pele e na alma com a interrupção do fornecimento de água, semana sim, semana também, algo até então incomum no município. Não que não houvesse episódios de falta d’água na cidade, mas nunca tão recorrentes e nunca tão prolongados como agora.

As desculpas da prefeitura: “devido à manutenção da ETA tal… por conta de rompimentos da rede tal…” nunca convenceram os moradores afetados ou não e apenas deixam mais que evidente o desinteresse desse governo com a prestação e a entrega de um serviço de qualidade mínima à população.

Não por mera vontade que nesse calor infernal, moradores dos bairros Trevo, Santa Paula e Palmeiras tiveram que deixar suas casas – mais uma vez, como aconteceu ontem (20) -, sem água há dias, muitos sem tomar banho também há dias, para participar de manifestação na BR-116, suar mais um pouco a camisa, impedir o livre trânsito de veículos (muitas vezes sem concordar com isso), serem ameaçados por policiais, criticados por internautas que nunca passaram ou passarão por situação semelhante, tudo para tentar chamar a atenção das autoridades para um direito básico: o de ter água dentro de suas casas.

Por acaso, seria querer demais?

“Ficar sem água tudo para; não tem como as crianças irem para a escola, não tem comida, não tem como arrumar a casa, ela fica com mau cheiro, as pessoas [no condomínio] começam um atacar o outro. Eu não concordei com a manifestação que teve aqui de fechar o bairro, de não deixar os moradores entrar e nem sair; hoje eles vão fazer outra, fechando a BR, atingindo moradores, mas não vem ninguém conversar com a gente, não vem ninguém ajudar. Se você conseguisse pedir, em nome da comunidade Sertão do Rio Doce, caminhão pipa pra abastecer casa por casa, seria muito humano fazer isso, porque as caixas de todo mundo está seca, seca, seca”, desabafa moradora do Sertão do Rio Doce.

É importante que os moradores de Governador Valadares entendam que essa situação calamitosa não é um acaso, mas sim parte de uma estratégia questionável e talvez criminosa por parte do governo André Merlo. Servidores efetivos da autarquia já colocaram a boca no trombone, mais de uma vez, dando conta da deterioração deliberada de maquinários e veículos, por meio de cortes de investimentos e negligência na manutenção de equipamentos.

Se nada disso já não tivesse sido exposto pelos trabalhadores do Saae, ainda restariam nossos próprios olhos, que nos deixam alarmados pela quantidade de esgotos correndo em ruas, becos e avenidas, em qualquer região ou canto dessa cidade, o que agrava ainda mais a situação. Não apenas pela crise sentenciada no abastecimento de água, mas também pela definitiva ausência de políticas efetivas de saneamento básico, colocando em risco a saúde pública.

Diante desse quadro, surgem a indignação e a pergunta inevitável: a conduta do prefeito André Merlo constitui um crime contra a população? Negligenciar o fornecimento de um recurso tão vital como a água, com o intuito de promover uma agenda política, teria consequências éticas e legais? Quais seriam essas consequências? Quem deveria ser a voz dessa população contra um eventual crime?

Talvez o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)?

Notoriamente, enquanto defensor dos interesses da sociedade, deveria, esse órgão, agir com diligência para investigar e responsabilizar os responsáveis por essa calamidade artificial. A omissão diante de um problema tão grave, de caráter político e moral, é inaceitável e compromete a credibilidade dessa instituição. Credibilidade essa que, afinal, já vem sendo inquirida nas redes sociais com indagações do tipo: “existe Ministério Público em Valadares?”

Fato é que o atual governo tem feito tudo e mais um pouco para convencer a todos de que a escolha de entregar para a iniciativa privada a gestão do abastecimento de água e tratamento de esgoto foi a mais acertada. Portanto, não se iludam, não haverá decepções imediatas: a Aegea vai assumir, amanhã (22), o saneamento básico do município e, num piscar de olhos, não veremos mais esgotos fétidos jorrando rua afora, e os dias terríveis de falta de água cairão no esquecimento. E será, sim, ótimo!

Por agora, essa é a estratégia do Executivo Municipal. No entanto, o que virá pela frente, as possíveis cobranças abusivas, o eventual acesso limitado à água e ao esgoto poderão ser pano para manga.

O mais importante: não podemos perder de vista que amanhã (Dia Mundial da Água) cairão nos cofres de Governador Valadares R$ 385.000.000,00. Temos que fazer um esforço coletivo para ter o direito de opinar onde serão aplicados esses recursos e muito mais: fiscalizar centavo por centavo desse dinheiro que pertence à história do Saae, à história de Governador Valadares.

 

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