GRAFITE EM VALADARES QUER SER VALORIZADO PELO PODER PÚBLICO

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grafite valadares

Um grupo de grafiteiros pretende usar a arte para garantir na história de Governador Valadares o reconhecimento a homens e mulheres que contribuíram, muitas vezes de forma anônima, para o desenvolvimento da cidade.

São personalidades simples, muitas vezes da periferia, que exerceram influência na solução de problemas que afligem a comunidade e se dedicaram em frentes como assistência social, cultura, esporte, sem nenhum vínculo ou apoio do poder público.

“Há muitos personagens em Valadares que deram o sangue naquilo que faziam, gente que buscou algo diferente com dinheiro do próprio bolso para ajudar crianças, para ajudar morador de rua, ajudar idosos. Essas pessoas deixaram suas marcas e não são lembradas, não são reconhecidas, enquanto outras são colocadas em um pedestal. O que queremos é propagar seus feitos e nomes”, explicou o grafiteiro Pedro Henrique Paranha Martins, 27.

Uma oportunidade para tornar essa e outras propostas viáveis seria através de um evento específico do grafite. Dessa forma, a ideia saiu do papel, virou projeto e se tornou a lei municipal nº 6.828/2017 – que além de reconhecer o grafite como expressão artística e cultural do município, também instituiu a Semana Municipal do Grafite.

O projeto, no entanto, não estaria sendo aproveitado pelo atual governo, reclama o grafiteiro. “A Secretaria de Cultura planeja preencher as laterais do viaduto da avenida Minas Gerais, conhecido como ‘Mergulhão’, com pinturas de líderes da cidade sem nenhuma discussão com a sociedade”, diz ele.

“É uma situação de coronelismo essa: eu quero, vou fazer, a terra é minha. As lideranças foram escolhidas por um diretor da secretaria, não passou
pela população. Aí vai trabalhar arte assim, sem sequer explicar para o público porque tá fazendo?”, questionou .

Para ele, a decisão sobre quem foi ou é liderança não pode ser  pessoal e a escolha de quem merece ou não ser homenageado deve passar por uma discussão mais ampla. “A liderança apontada pelo diretor pode me representar ou não. Pode ser que represente apenas o grupo dele, por isso tem que abrir para o diálogo, para a discussão, pois não dá pra ser sempre as mesmas pessoas”, acentuou.

grafite arte na rua
Grafite usa espaços públicos para expressar a arte

Outra reclamação é a falta de remuneração dos artistas, que poderia ser contornada pela lei 6.828/2017, de acordo com Pedro Henrique. “Projetos que envolvem a participação dos grafiteiros devem ser feitos com base na lei municipal, e já que existe verba pra fazer de outro modo, então tem como fazer o projeto funcionar. O artista primeiro deve ser remunerado, e não apenas utilizar a arte dele em troca de divulgação”.

Quem também não concorda em não ser remunerado é o grafiteiro Jorge Luis de Oliveira, 30, que há 10 anos trabalha com essa linguagem artística. “O grafite é uma arte conceituada e como tal tem que ser valorizada. Além da arte em si, tem o tempo que disponibilizamos  ali e por isso não estamos de acordo em apenas trocar nosso serviço por divulgação. Até porque somos artistas de rua e já fazemos isso espontaneamente, agora, prestar um serviço para o município, teria que ter algum valor envolvido,  mas o que ouvimos sempre é ‘se quer fazer de graça, faz, ou arrumamos outra pessoa'”, contou.

O diretor do Departamento de Juventude, Clério Neves de Castro Júnior, esclareceu que desconhece a lei que faz referência ao grafite. Explicou que os  nomes dos homenageados foram indicados não por ele, mas por uma comissão formada por escritores valadarenses e que a maioria dos grafiteiros está apoiando e vai participar, gratuitamente, da proposta de pintar nas laterais do Mergulhão figuras representativas da cidade.

Foram indicados pela comissão os seguintes nomes:

Artur Forattini; Coronel Altino Machado; Coronel Pedro Ferreira dos Santos; Dilermando Rodrigues de Mello; Dona Zulmira Pereira da Silva; Dr. Arnóbio Pitanga; Euzébio Cabral; Gil Pacheco; Hermírio Gomes da Silva; Irmã Efigênia Queiroz; Ivo de Tassis; José Serra Lima; Mário Rocha e Silva;  Milton Amado; Pe. Eulálio; Rev. Otávio; Satulano; Siva; Soares da Cunha.

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