A iniciativa do prefeito de Governador Valadares, André Luiz Merlo (PSDB), de apresentar o projeto de reforma do Teatro Atiaia, mesmo sem saber de onde sairão os recursos para iniciar as obras, pode ter sido não só uma luz no fim do túnel, como uma boa jogada de marketing.
Na noite desta quinta-feira (3), o anúncio foi feito na Galeria Monhangara, após apresentação da peça “Procura-se um amor que goste de Chico Buarque”, do grupo valadarense Libre Théâtre – que na semana passada voltou da cidade mineira de Ubá, onde participou do 8º Festival de Teatro, com três premiações, inclusive de melhor espetáculo.
A repercussão da notícia pode ser a oportunidade que faltava para a prefeitura montar um pacote e enviar para as empresas de Valadares e região, ou seja, passar o chapéu na expectativa de obter os recursos necessários para reabrir o teatro.
A empreitada contou com o apoio do arquiteto Adolpho Campos, que projetou o novo Teatro Atiaia, projeto que foi exibido em maquete na noite de ontem. Pela doação do projeto arquitetônico, ou contrato de risco com o município, o arquiteto levou para casa uma placa de homenagem entregue pelo prefeito.
Em seu pronunciamento, André Merlo explicou que o teatro foi fechado pelo Corpo de Bombeiros, em 2015, por questões de segurança. “Nós poderíamos simplesmente ter solucionado os problemas apontados e reaberto o teatro. Mas nos posicionamos da seguinte maneira: se for para reabrir o teatro ainda danificado e ser alvo de críticas, é melhor não fazer. Então preferimos dar um passo atrás e buscar o projeto”.
Em seguida, ele anunciou que o projeto estava lançado e que o próximo passo seria encontrar parceiros. “Nós precisamos de parceria, a prefeitura pode ajudar com contrapartidas. Mas gostaríamos que a iniciativa privada abraçasse esse projeto junto com a prefeitura e os artistas para que a reforma aconteça”.
Ao final, o prefeito informou que o valor da reforma é em torno de R$ 1,2 milhão. “É o necessário para deixar esse teatro completamente reformado, com tudo novo: som, cadeiras etc. Não é para fazer ‘meia-boca’ não; é pouco dinheiro para uma cidade como Valadares. Infelizmente, a prefeitura tem suas limitações, mas vamos conseguir, com a ajuda de vocês, viabilizar esse projeto”, concluiu.
Opinião
Albenez Carvalho é guitarrista da Pilsen Blues e tem uma história com o Teatro Atiaia. Foi lá que a banda que ele integrava, a Silent Cry, que fez sucesso também fora do Brasil, em meados dos anos 2000, gravou o DVD chamado Dark’n Live. A Pilsen Blues também escolheu o palco do Atiaia para gravar o Programa Identidade Cultural da Univale.
“Acho um descaso o teatro ficar tanto tempo parado, literalmente entregue às traças. Valadares já teve uma cena cultural muito forte, é reduto de várias bandas que foram muito importantes no estado e no Brasil, mas hoje já não tem muito espaço para bandas”.
Ele diz ainda que a questão do teatro é um ciclo. “Se não há espaço para o artista se apresentar, ele desanima e assim a comunidade vai produzir menos cultura. Produzindo menos cultura, ela perde a importância aos olhos de investidores e assim vai. Acho que a cidade merece um teatro bem estruturado e mais: que esse espaço seja aberto para todos os artistas, sejam eles consagrados ou iniciantes”.
Referência
A conselheira do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC), Sandra Elizabeth de Oliveira, lembra que Valadares tem como referência cultural o Teatro Atiaia, para onde sempre são direcionados grupos e apresentações teatrais.
“Com o espaço fechado, a impressão que dá é que a cultura não está andando, não tem nada acontecendo, e isso acaba incomodando muito. Se as pessoas já não tinham muito hábito de prestigiar o teatro, ele fechado compromete inclusive a frequência em outros espaços”.
Segundo ela, ainda não há nada definido quanto a abertura do teatro. “Foi feita uma apresentação, mostrando que o projeto de reforma está lá, à espera de um apoiador. O Atiaia faz muita falta para a nossa cultura e vamos continuar esperando que ele abra as portas”, disse.
Ocupação
O promotor cultural, idealizador e organizador do Valadares Jazz Festival e da Festa Literária de Governador Valadares (FLIGV), Tim Filho, ressaltou que mesmo sem ter os recursos financeiros garantidos para a reforma, a atitude do prefeito pode ser uma forma de sensibilizar empresas e instituições a investir no projeto.
“Grande parte do público interessado em cultura anseia pela execução desse projeto, aplaudiu a iniciativa, mas é preciso que depois de concluído todos se envolvam nas propostas de ocupação do teatro, patrocinando ou pagando ingresso para ver os espetáculos, pois a produção cultural tem um custo”.
Tim Filho acrescentou ainda que o desafio inicial do prefeito em entregar ao público um teatro novinho e adequado às exigências legais de segurança e acessibilidade é grandioso.
“Da mesma forma, também será grandioso o desafio daqueles que darão vida ao teatro, com espetáculos de música, dança e peças teatrais, em um segundo momento. Precisamos vencer esse desafio de produzir eventos culturais à altura do novo espaço e à altura de um público tão exigente e que merece o melhor”, destacou.