Procurador-Geral de Justiça não fica para encontro e movimentos sociais criticam

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Procurador-Geral de Justiça não fica para encontro e movimentos sociais criticam
Cerca de 600 integrantes de movimentos sociais participaram do encontro promobido pelo MPMG nesta quinta-feira (17). Foto: O Olhar

O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, jogou um balde de água fria no encontro promovido pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) nesta quinta-feira (17), em Governador Valadares, ao deixar a reunião logo após a abertura, que começou por volta das 10h30.

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O auditório estava lotado de pessoas vindas de todo canto, de Mariana a Aimorés, e muitas delas saíram de suas casas na madrugada de quinta-feira para chegar a tempo. Por volta das 12h, o procurador comunicou seu retorno para a capital mineira, alegando outras agendas institucionais.

O anúncio frustrou as expectativas de indígenas, ribeirinhos, ilheiros, sindicalistas,  pescadores, pequenos agricultores, quilombolas, sem casa, sem terra e dezenas de outros  ativistas de movimentos sociais, que contavam com a presença do procurador de Justiça durante todo o encontro.

A reação mais contundente foi da professora Simone Silva, integrante da Comissão dos Atingidos de Barra Longa: “é uma pena, de verdade, todos nós aqui temos esse  sentimento. Você aparece, a gente achou que você ficaria para ouvir todos nós (…). Sabe, a gente vai ficar com sentimento, todos nós que estamos aqui, que você está indo embora. E a gente costuma dizer, nós atingidos, que nós temos uns representantes que são midiáticos, só aparecem naquele momento e vão embora. Mas nós temos desconfiança, sim [no Ministério Público], é um direito nosso, enquanto atingido, de falar: se vocês assinarem novamente um acordo sem nós estarmos sentados nessa mesa, é crime novamente; se nós não sentamos nessa mesa, não ouvimos nada que está sendo acordado, nós não estamos participando. Nós viemos para esse reunião hoje com um sentimento, com uma preocupação, porque o atingido, ele não tem canudo, ele não tem doutorado, mas ele sabe premeditar o que vai acontecer. E nós temos medo que essa reunião aqui sirva pra dizer lá ‘olha, nós ouvimos os atingidos, os atingidos participaram’, mas nós não participamos em nenhum momento”, esclareceu Silva.

Outros participantes também criticaram a atitude do procurador, que chegou em Valadares na quarta-feira (16) e cumpriu agenda com o prefeito André Merlo (sem partido), com os deputados Hercílio Diniz (MDB), Enes Cândido (MDB) e empresários e participou de outras  atividades relacionadas ao MP.

Na quinta-feira, porém, não  disponibilizou tempo para ouvir os movimentos sociais, como era esperado por cerca de 600 pessoas que estavam na reunião a convite do Ministério Público, que tem dito que tais encontros “fazem parte dos esforços da instituição em aprimorar seus canais de escuta para atender às demandas relacionadas aos direitos fundamentais desses grupos”.

Atingidos

O encontro foi comandado pelo coordenador regional de Mobilização e Inclusão Social do MPMG, promotor de Justiça Evandro Ventura. A pauta foi dominada pelos atingidos pelo crime ambiental e social cometido pelas empresas Vale/Samarco/BHP, responsáveis pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana.

“O Rio, para a gente, é tudo. A água é o que temos de mais importante”. Com essa manifestação, o cacique Baiara, da aldeia Pataxó Geru Tucunã, no município de Açucena, abriu as falas de representantes da população do Vale do Rio Doce.

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Cacique Baiara, da aldeia Pataxó Geru Tucunã. Foto: MPMG

Durante toda a tarde dezenas de lideranças se revezaram nas falas direcionadas aos danos ambientais e sociais causados pelo rompimento da barragem e cobraram agilidade para solucionar os problemas. Foram feitas as mais variadas críticas, muitas direcionadas ao próprio Ministério Público.

Somente no finalzinho do evento, programado para encerrar às 17h, o promotor Evandro Ventura abriu espaço para manifestações referentes a outros temas. Com o auditório já bastante esvaziado, foram relatados problemas sobre direitos da população de rua, de catadores de materiais recicláveis, violência no campo, violência contra a mulher, sobre a saúde e a educação e ainda exposta a atuação de alguns promotores de Governador Valadares.

A integrante do assentamento Oziel Alves Pereira, em Valadares, e do Fórum Regional de Combate à Violência no Campo e na Cidade, Martinha Jorge Moreira, pediu apoio do MP no combate à violência no campo. “A região do Vale do Rio Doce é muito marcada por esse tipo de violência, porque a concentração de terras é grande demais”, disse.

Ela também reivindicou empenho da justiça no caso do assassinato de José Silva do Nascimento, conhecido como Zé dos Peixes. “Em junho desse ano, um companheiro nosso foi assassinado dentro de sua própria casa. Não sabemos ainda o que motivou o crime. Pedimos empenho nas investigações para punir os responsáveis e ajudar a solucionar a questão da violência na nossa região”.

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