PROFESSORES EM GV OPINAM SOBRE ATITUDE DA DEPUTADA QUE MANDOU ESTUDANTES FILMAREM AULAS “DOUTRINÁRIAS”

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Deputada bolsonarista Ana Carolina (PSL) incitou alunos a coagir professores (Foto: Divulgação)

Causou polêmica a mensagem publicada nas redes sociais pela deputada estadual eleita pelo PSL de Itajaí (SC), Ana Carolina Campagnolo, incitando estudantes a filmarem, gravarem e denunciarem “professores doutrinadores” dentro das salas de aula.

A mensagem foi publicada pela deputada em sua página no facebook no domingo (28), logo após o anúncio da vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na corrida presidencial.

O texto dizia o seguinte: “Segunda-feira, 29 de outubro, é o dia em que os professores doutrinadores estarão inconformados e revoltados. Muitos deles não conterão sua ira e farão da sala de aula um auditório cativo para suas queixas político-partidárias em virtude da vitória de Bolsonaro. Filme ou grave todas as manifestações político-partidárias ou ideológicas.”

A deputada repassou o número do celular para o envio dos materiais e deu as orientações “descreva o nome do professor, o nome da escola e a cidade. Garantimos o anonimado dos denunciantes”, concluiu.

O que dizem os professores de Valadares:

Rafael Toledo, professor de física – rede estadual de educação

rafael toledo

“É com grande preocupação e muito desconforto que enquanto profissional da educação recebemos esta informação. Os representantes da ‘Escola com Mordaça’, que se intitulam ‘Escola sem Partido’, na verdade são um grupo internacionalmente organizado que aceitam apenas suas convicções filosóficas sendo difundidas. Não toleram a discussão das diferenças entre os pensamentos. Apresentam muitas vezes ideias esdrúxulas e difíceis de compreender do ponto de vista científico, como a planificação da Terra e o Criacionismo, combatem os filósofos da teoria econômica que defendem a presença do Estado na economia, atacam a diversidade religiosa, sexual e comportamental. Para impor suas ideias, agem em Câmaras Municipais, Escolas, Assembleias Legislativas, Câmara Federal, Senado através do exercício de lobbye. Na eleição de 2018, acabam de eleger representantes nos poderes legislativo e executivo. Não têm apreço pelos valores democráticos, acreditam firmemente que podem descumprir as leis vigentes ou mesmo modificar as atuais leis para impor suas crenças religiosas e comportamentais. A ascensão desse grupo ao poder significa o crescimento de valores retrógrados impostos em sociedades que usaram do suposto combate à corrupção para espalhar ódio, violência e guerra, especialmente na primeira metade do século XX, na Europa, e que causaram muita decadência humana e milhões de mortes em duas guerras mundiais.”

Andreia Germana, professora de história – rede estadual de educação

andreia germana

“Fiquei extremamente preocupada ao ver essa reportagem, como professora de história acaba doendo na alma, pois temos conhecimento um pouco mais profundo sobre a ditadura. Pesa muito reviver isso, uma época em que professores foram perseguidos, mortos e exilados. Essa lei da mordaça que foi colocada, utilizando o nome escola sem partido, é um perigo imenso para nossa democracia. Nessas eleições em particular, pessoas acusaram as escolas de doutrinação, mas vimos isso sendo praticado por algumas igrejas. Escolas e universidades sofreram até ações policiais, quando na verdade igrejas foram utilizadas como palanque para candidatos de cunho fascista. Não vivenciei a ditadura, só através de estudos, e estou horrorizada com o que aconteceu e principalmente com essa deputada, que teve uma atitude que devemos repudiar. Precisamos construir nas escolas sujeitos com pensamentos críticos e não simplesmente alunos robôs do sistema.”

Jamir Calili Ribeiro, professor universitário – UFJF/GV

jamir calili

“O Macartismo é doutrina superada nos EUA e não acrescenta nada ao debate político nacional. Eu, sendo um professor de centro-direita, fico assustado com manifestações como essa. Primeiro, porque o fato das eleições terem se encerrado, não significa que as ordens legal e constitucional mudaram. Ou seja, a eleição de A ou B não autorizou ninguém a tomar para si qualquer justiciamento. Segundo que ela (a deputada) não é autoridade competente para fiscalizar trabalho de professores ou seus excessos doutrinários. As universidades possuem colegiados, departamentos, corregedorias para apurar o excesso dos docentes. Precisamos vencer os coitadismos da direita também. O embate de ideias no ambiente universitário precisa ser travado dentro da arena universitária e não nas redes sociais por meio de acusações, exposições e ameaças. Isso vale para esquerda e para direita. Pros professores e alunos.”

Rosemary Mafra, professora universitária – Univale

ROSEMARY MAFRA PCDOB

“A deputada não tem clareza das finalidades da educação, dos objetivos que deverão nortear o conteúdo ministrado em sala de aula. Portanto, ela não deveria emitir opinião, pois o professor é o gestor da sala de aula e essa gestão deve ser democrática, ao mesmo tempo em que deve refletir a oposição ao centralismo e autoritarismo e envolver os alunos nas definições das regras que regularão o cotidiano da sala de aula. Propagar esse autoritarismo não tem sentido, uma vez que a educação não é um processo que deve ser avaliado e discutido por atores que não estejam envolvidos nessa área.”

Comentário

Nos comentários da publicação feita pela deputada eleita Ana Carolina, um internauta rebateu dizendo que o uso de celular em sala de aula é crime e reforçou que isso seria ir contra as leis “e os bolsominions são contra isso. Ou era apenas discurso?”, questionou.

Em resposta, Ana Carolina disse que “não é preciso ter medo, é só se comportar direitinho que não precisa ter medo, cidadão”. Ela também mandou um recado ao professorado: “professores éticos e competentes não precisam se preocupar”.

Numa reação à coação incentivada pela parlamentar do PSL, nesta segunda-feira (29) um grupo de docentes pediu a impugnação da deputada estadual, por meio de uma petição online iniciada no site de assinaturas coletivas Avaaz, que já conta com mais de 180 mil assinaturas. Para assinar, acesse aqui.

Constituição

A Constituição Federal de 1988 garante a chamada liberdade de cátedra, ou acadêmica, que assegura aos professores a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, e o pluralismo de ideias.

(Com informações da Revista Fórum)

 

4 COMENTÁRIOS

  1. Infelizmente uma matéria tendenciosa, mostrando através de seus opinadores um lado da história. Uma dica para o “ O olhar”, é não ficar somente com “um lado” sobre o assunto, e buscar pessoas que também são professores que pensam de forma diferente, dando ao leitor a oportunidade (a partir da pluralidade do ponto de vista) de ter um pensamento crítico melhor sobre o assunto.

  2. É evidente que o “pensamento crítico” que tanto buscam não é observado, sendo uma matéria tendenciosa, pois somente tem “opiniões” de pessoas que tem a mesma visão. “O olhar” deveria dar espaço para aqueles que tem ponto de vista diferente, dando oportunidade para ao leitor que não compreende o assunto, a opção de ler outras posições, e a partir daí poder ter um posicionamento.

    • Sr. Leonardo,

      Agradecemos pela sua crítica e informamos que O Olhar sempre busca, sim, os dois lados da questão.
      Enviamos o questionamento para sete professores de ideologias diversas, infelizmente, somente os três,
      da matéria, nos retornaram. Apesar desses três não terem a mesma ideologia, ainda assim apresentaram
      o mesmo posicionamento sobre a atitude da deputada. Portanto, não concordamos que a matéria tenha
      sido tendenciosa, mas respeitamos a sua opinião.

  3. É preocupante tal atitude. O ato de aprender exige formação de consciência crítica. Sou totalmente contra o patrulhamento e denuncismo…isso é fascismo.

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