SANTA VERDE: TUDO TEM LIMITES

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Essa semana a população de Valadares percebeu uma mudança nas cores da iluminação cênica de um dos seus principais símbolos religiosos, Cartão Postal e Patrimônio Histórico e Cultural da cidade: a Santa da Ibituruna.

A imagem de Nossa Senhora das Graças recebeu uma iluminação de coloração verde para, segundo informações divulgadas nas redes sociais da Prefeitura Municipal, celebrar o Dia da Defensoria Pública, cuja data se comemora em 19 de maio. Mas de onde partiu essa iniciativa? Quem é o responsável por modificar a cor da iluminação da Santa? Quem fez essa intervenção mudando a cor da iluminação original teve a devida autorização para isto?

Para início de conversa, é importante saber que a Santa da Ibituruna, como é conhecida a colossal imagem de Nossa Senhora das Graças, instalada no Pico da Ibituruna, é um Patrimônio Histórico do Município de Governador Valadares, tombado, e, portanto, regido por normas e regras determinadas por lei de proteção especial desde o mês de julho de 2001.

A Imagem pertence à Diocese de Governador Valadares, responsável pela posse, propriedade e manutenção do Bem Tombado.

Por ser um Patrimônio Histórico e Cultural, não pode sofrer nenhuma intervenção, seja até mesmo para sua manutenção, como pintura, alteração em seu entorno, restauro ou modificações em sua iluminação original sem a prévia autorização do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município e também do seu proprietário, no caso, a Mitra Diocesana de Governador Valadares, entidade jurídica legalmente constituída para representar a Igreja Católica local a qual é responsável direta pelo bem em questão.

A iluminação original da imagem foi fruto de intensa campanha feita pelo pesquisador Harley Cândido Nogueira que, devidamente autorizado pela Diocese de Governador Valadares, conseguiu, junto à empresa Philips do Brasil, a inclusão de um projeto de iluminação cênica com projetores de lâmpadas de Vapor Metálico (as mesmas que são utilizadas na iluminação da Estátua da Liberdade, nos Estados Unidos e do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro).

Inaugurada no dia 4 de julho de 2000, a Santa teve parte de sua iluminação vandalizada tendo sido destruídos três gigantescos projetores de luz que ficavam na base do monumento, junto à grade de proteção do mirante do Pico. Somente restaram as lâmpadas que hoje podem ser vistas acesas ao redor da imagem no seu pedestal.

No ano seguinte, em 2001, a Santa foi o segundo Bem Tombado do Município e em 2012, com a devida autorização do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural, foi realizada a restauração total do monumento, finalizada e entregue na missa festiva celebrada pelo então Bispo Diocesano, Dom Werner Siebenbrock, em 27 janeiro de 2013, quando da comemoração dos 50 anos do monumento.

Eventualmente, e sem nenhuma autorização por parte da Diocese, campanhas de conscientização como “Outubro Rosa” e “Novembro Azul” já alteraram as cores da iluminação original da imagem. Agora, a coisa parece ter se vulgarizado. Em comemoração ao “Dia da Defensoria Pública” mudaram a iluminação para a a cor verde. Como assim?

A imagem, além de ser um Patrimônio Histórico e Cultural do Município, tombado e protegido por legislação específica, também é um símbolo religioso e não pode e nem deve ter sua iluminação original desvirtuada para prestar homenagem a uma categoria funcional específica!

A Santa da Ibituruna é uma imagem reverenciada pelo culto católico e não pode ter seu sentido desvirtuado ao bel prazer de administradores públicos, mesmo porque é uma Propriedade Particular. É um símbolo de fé!

Se querem homenagear a categoria dos Defensores Públicos, muito mais lógico seria iluminar com cores festivas o Fórum e o belo prédio do Ministério Público, bem no Centro da cidade, visto que estes entes judiciários têm muito mais afinidades com a Defensoria Pública do que uma imagem de Nossa Senhora das Graças.

Onde está o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, que tem a obrigação legal de fiscalizar e proteger os bens culturais do município?

Tudo tem limites. Mas ao que parece, a criatividade reversa e o desrespeito aos patrimônios históricos e à propriedade particular, são práticas correntes na atual Gestão Municipal!

Que “Nossa Senhora das Verduras” nos proteja!

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