Renova ignora moradores e confirma construção de museu na praça Getúlio Vargas

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Renova propõe espaço menor para novo museu; local continua alvo de críticas
Reunião ocorrida na última quinta-feira, 30, foi a primeira para ouvir a comunidade. Imagem: Divulgação

Foi em vão a tentativa da Fundação Renova de convencer moradores do Lourdes e Vila Bretas a aderirem à proposta de construção do ‘novo museu da cidade’, na Praça Getúlio Vargas, em Governador Valadares. A comunidade não quer.

A reunião, realizada na semana passada pela Renova, em uma igreja no bairro de Lourdes, foi a primeira para tratar do projeto imposto de cima para baixo, anunciado pelo prefeito André Merlo (sem partido) sem qualquer comunicado ou consulta à população.

Nem ele, nem o secretário Municipal de Cultura, nem qualquer outro representante do Executivo compareceu, como se o tema em discussão não tivesse vínculo algum com a administração municipal.

Os moradores são contra o projeto, mas isso parece não importar para a Fundação Renova, que na tarde desta quarta-feira (5) confirmou para a reportagem do O Olhar que a edificação para abrigar o CIT (Centro de Informações Tecnológicas) e o museu fará parte do conjunto da praça Getúlio Vargas, no Lourdes.

“O acordo de instalação do CIT prevê a implementação de um local destinado a comunicar e informar a população valadarense quanto aos aspectos ambientais, sociais e culturais do rompimento da barragem de Fundão e do trabalho de reparação conduzido pela Fundação Renova. A edificação fará parte do conjunto da praça Getúlio Vargas, no bairro de Lourdes. O novo espaço acolherá, também, modernas instalações que receberão o museu da cidade de Governador Valadares. A praça foi indicada pela Prefeitura por ser um espaço consolidado de uso da população e uma boa localização no contexto urbano.”, diz a nota.

Além do projeto consumir parte da praça, local amplamente utilizado por moradores do Vila Bretas e Lourdes para atividades física e de entretenimento, funcionários da empresa informaram que as novas instalações do Museu Histórico, mais conhecido como Museu da Cidade, terá apenas 299 metros quadrados.

O espaço é bem menor do que a atual sede alugada na rua Prudente de Morais, no Centro, com área aproximada de 480 metros quadrados, e ainda terá que ser compartilhado com o CIT, unidade que, por ordem de acordo judicial, terá que ser construída pela Fundação Renova.

Vários moradores se manifestaram durante a reunião, todos unânimes na defesa de não abrir mão de nem um metro quadrado da praça.

Um dos participantes, inclusive, quis saber se a Renova levaria em consideração a opinião da comunidade, ou se a reunião seria apenas um protocolo a cumprir, com tudo já definido para a construção do museu.

Ao que tudo indica, a reunião teria sido, sim, apenas protocolar e a opinião ou desejo dos moradores não serão levados em consideração pela empresa que representa as mineradoras Vale-Samarco-BHP. No rodapé do site citdoriodoce.org, da Renova, a praça Getúlio Vargas já aparece como endereço de uma das unidades do CIT.

Projeto vergonhoso

O projeto do novo Museu da Cidade, exibido pela Fundação Renova durante a reunião, no último dia 30, desagradou a comunidade não apenas por apresentar área destinada a abrigar o acervo histórico e cultural da cidade menor que a atual, mas também pelo próprio visual. “Parece mais um caixote”, comentou um dos presentes.

“Além da proposta do novo museu ter espaço menor do que é hoje em lugar alugado, o projeto é feio, pobre e vergonhoso de se propor para uma cidade do tamanho de Governador Valadares”, destacou o morador Nídio Porto, que já foi gerente do Museu.

O servidor municipal Harley Cândido, pesquisador, primeiro gerente de Patrimônio Histórico da cidade e também ex-gerente do Museu contou que a instituição foi transferida para o atual endereço, na rua Prudente de Morais, no ano de 2002.

“Não era o melhor local, pois estava numa casa alugada e ainda não cumpria todos os critérios para o bom funcionamento de um museu. Contudo, o acervo estava seguro, numa localização histórica, na primeira rua da cidade, e de fácil acesso”, lembrou.

 Renova propõe espaço menor para novo museu; local continua alvo de críticas
Harley Cândido fez explanação sobre a história do Museu de Valadares. Imagem: Divulgação

Para ele, o projeto da Renova é “pequeno e impróprio” e o espaço inviável para guardar a memória da cidade, sendo o ideal, na opinião do ex-gerente do museu, uma área de no  mínimo 1.000 metros quadrados. “Como farão para caber tudo num espaço diminuto e, ainda por cima, compartilhado com outro órgão da própria Renova?”, perguntou.

Harley ainda fez várias sugestões de locais para abrigar uma eventual nova sede do museu, como as instalações do Fórum, na avenida Brasil, no Centro, que passará a ocupar o prédio que está sendo construído no bairro Vila Bretas pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (JMG).

“Inclusive um ponto histórico, onde funcionou a primeira Estação Ferroviária de Valadares”, ressaltou.

O que é o CIT

O Centro de Informações Técnicas (CIT) é um espaço que a Fundação Renova deverá constituir nas cidades de Valadares, Mariana e Linhares, em cumprimento a acordo judicial.

A finalidade do centro é dispor informações sobre o crime ambiental provocado pela Samarco (Vale-BHP Billinton) e o processo de reparação e compensação que a fundação realiza na região.

Para construir o espaço, a Renova procurou a Prefeitura de Governador Valadares para um convênio em que o município disponibilizaria a área e, em contrapartida, um outro equipamento público seria construído no mesmo local pela empresa.

A gestão André Merlo definiu, então, sem consultar a população valadarense, pela construção da sede do Museu da Cidade na praça Getúlio Vargas.

Segundo matéria veiculada pela prefeitura, a escolha da praça para abrigar o CIT e museu se deu pela sua “excelente localização, próxima ao centro de cidade, em um bairro acolhedor e com ruas planas e arborizadas”.

Já o secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, Kevin Figueiredo, frisou que “em um imóvel alugado o museu acaba não tendo o espaço necessário e adequado para que ele possa ser bem visitado, com acessibilidade, e para fazer o armazenamento correto de todo o nosso acervo”.

O espaço alugado que o secretário se refere tem aproximadamente 480 metros quadrados e nele funciona somente o museu. A construção na praça terá 299 metros quadrados para acolher o CIT e o Museu da Cidade.

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