Ensaiando uma crônica poética para o amanhecer de outono

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Ensaiando uma crônica poética para o amanhecer de outono
Foto: Welder Nunes de Souza

Uma mãe põe o ventre à disposição da vida, assim como a noite dá à luz o filho que vem ao mundo para encerrar o seu mistério. Eu falo do amanhecer, o sucessor do silêncio, que diariamente faz brotar a esperança nessa árvore genealógica do tempo. Ele é pai de todas as manhãs, que o retribuem em idêntica moeda, findando a sua breve existência, vingando a noite-mãe.

O privilégio desse anunciador habitual das coisas que estão por vir é o mesmo de quem chega cedo e se assenta na primeira fila para contemplar um magnífico espetáculo. Ele tem para si a sinfonia dos pássaros e de tantas outras aves, que cantam a cada novo dia que raia subliminarmente.

Nestes dias de outono –  fato que se agrava no inverno  –  a plateia que o prestigia é pequena. Recebê-lo com simpatia é um martírio para muitos, sentimento quase sempre explicado pelas longas jornadas, de telas e de trabalho, que consomem as nossas vidas.

Em tempos como estes, importa dizer que o amanhecer nunca deixou de nos encantar, nem mesmo quando acordou solitário. Em seu belo horizonte, não há espaço para a vaidade, não sendo motivo de inveja para ele o fato matinal posterior, que confere prestígio e vida longa às manhãs, até ao meio-dia.

O amanhecer não nos exige visualizações, definitivamente. E como prêmio, àqueles que o contemplam, ou melhor, que fazem questão de amanhecer em sua companhia, uma contrapartida da sabedoria popular é oferecida: “quem cedo se levanta, doença, pobreza e velhice espanta”!

Welder Nunes de Souza, aprendendo a amanhecer (com o outono), às 5h27, em 24 de maio de 2025, Jequitinhonha — MG.

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