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MORADORES DA ILHA, EM VALADARES, DIZEM NÃO AO CARNAVAL DE RUA NO BAIRRO

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Morador da Ilha compareceu à reunião da Amai para dizer que não quer o carnaval de rua no bairro

Desde o final do mês de fevereiro, moradores da Ilha dos Araújos, em Governador Valadares, vêm manifestando, nas redes sociais, a insatisfação com a realização do carnaval de rua do bairro, puxado pelo tradicional Trupico do Lalá.

O bloco que mais arrasta foliões na cidade está programado para acontecer no próximo dia 28, num trecho da orla da Avenida Rio Doce, à direita de quem acessa o bairro pela ponte.

Este ano, porém, sob nova direção, a folia que sempre atraiu com marchinhas de carnaval, anunciou uma atração nacional, nada menos que Durval Lelys, ex-Asa de Águia e uma das estrelas do axé em Salvador.

O que era insatisfação virou polêmica e a comunidade começou a se articular  para impedir que a festa aconteça no bairro.

Na noite desta terça-feira (3), numa reunião promovida pela Associação dos Moradores e Amigos da Ilha (Amai) com os promotores do evento, o martelo foi batido: cerca de 150 moradores foram unânimes em afirmar que não querem o evento no local.

Entre os argumentos, foi apontada a descaracterização do bloco, que de manifestação cultural, sem fins lucrativos, aberto à população, vem, nesta 10ª edição, com um formato de festa privada e restrito aos foliões que pagarem o abadá.

Além do incômodo que anualmente os moradores são expostos, com a poluição sonora, a falta de policiamento, aumento da insegurança, interrupção do tráfego no local, sujeira na porta das casas, este ano parte da Avenida Rio Doce será interrompida, por pelo menos 8 horas, desta vez para atender a interesse individual, ou seja, a um grupo particular que atua com eventos.

E isso, a comunidade da Ilha, que sempre participou do carnaval de rua do bairro, mas que parte dela já vinha lutando contra a sua realização, devido ao grande crescimento do bloco, deixou claro, na noite de ontem, que não vai aceitar.

André Luís, que há 20 anos mora na Ilha, disse que “a despeito de toda organização detalhada pelos promotores do evento, a maioria não quer”. Ele pediu dados da empresa organizadora e afirmou que vai procurar a justiça se algum dano ocorrer em sua residência.

O médico e pastor da Igreja Batista Moriá, Rimack de Almeida, ressaltou a dificuldade que o morador enfrenta no dia da festa se precisar, por exemplo, de uma ambulância do Samu, e lembrou que “temos uma única entrada e saída no bairro”.

Para a jornalista Sayonara Calhau, “evento particular tem que ser em local particular”. Ela também criticou a comunidade não ter sido ouvida antes do carnaval ser autorizado: “isso é descer goela abaixo, temos que fazer valer a nossa voz e dizer não a esse evento”, conclamou.

sayonara calhau também é contra o carnaval de rua privatizado
“Temos que fazer valer a nossa voz e dizer não a este evento”, defendeu a jornalista Sayonara Calhau

O advogado Aloísio Gusmão, presidente da Aadvog (Associação dos Advogados de Governador Valadares), morador do bairro há 50 anos, frisou que sempre foi contra o carnaval de rua na Ilha por prever o crescimento do bloco.

“Hoje poderíamos já estar em nossas casas preocupados com o rio que está subindo, mas não, estamos aqui. Mas se a comunidade entender que é ‘não ao Trupico do Lalá na Ilha’ , vamos judicializar para garantir a escolha”, afirmou.

Outra moradora, Sayonara Simão, fez cobranças ao governo municipal, dizendo que o serviço público ainda não tinha nem lavado as ruas do bairro, mas já havia enviado os carnês de IPTU e TRS. “Será que a prefeitura está de acordo com esse evento? Acho um absurdo um representante do governo vir aqui e sentar com a gente depois de nem limpar a Ilha ainda”, criticou.

O empresário Robson, que segundo ele, representava os comerciantes do bairro, questionou quem iria pagar os prejuízos decorrentes do fechamento de bares, lanchonetes, pizzarias e outros negócios no local ou próximos ao local destinado ao carnaval.  E foi taxativo ao concluir: “aqui na Ilha não tem como”.

Quatro vereadores, três deles moradores da Ilha – Rosemary Mafra, Regino Cruz e Alê Ferraz -, também participaram da reunião e disseram ser contra a festa.

Vereadores que moram na Ilha também se posicionaram contra o carnaval no bairro

O secretário de Cultura Esporte, Lazer e Juventude, Carlos André Coelho Teixeira, esteve na reunião da Amai e relatou a dinâmica da organização e liberação de eventos em Valadares.

Organização

Um dos atuais diretores do Trupico do Lalá, Rafael Maia, detalhou toda a organização do carnaval de rua da Ilha e as medidas pensadas para diminuir ao máximo o impacto aos moradores.

Ele começou descartando alguns ‘boatos’ que circularam na internet, entre eles, garantiu que o bloco não foi vendido para a atual diretoria e também que nunca foi ventilada a possibilidade de fechar a entrada da Ilha no dia do evento.

Depois, informou que a folia vai acontecer no trecho da Avenida Rio Doce entre o número 215 até a Avenida Suaçuí. Falou que as calçadas das residências localizadas neste percurso serão “blindadas e preservadas”, com o apoio da Polícia Militar, e que as caixas de som serão dispostas do lado contrário às casas.

Para chegar ao trecho da avenida, os foliões que vêm do Centro da cidade terão que utilizar o lado direito da ponte, ficando a lateral esquerda liberada para transeuntes que não vão participar da folia.

O morador da Ilha e organizador do Trupico, Rafael Maia, detalhou as medidas para diminuir os impactos do evento, mas não convenceu

Para quem vai de carro, Rafael Maia falou que uma equipe na entrada da ponte vai orientar motoristas a estacionarem gratuitamente na área da Feira da Paz, que poderá comportar até 300 veículos.

O mote para convencer esses motoristas será o alerta de que policiais estarão fazendo blitz da lei seca na entrada e saída do bairro, disse Maia.

O diretor do Trupico também falou que serão instalados 120 banheiros químicos este ano, 90 a mais que em 2019, e que 380 pessoas estão escaladas para trabalhar no evento do dia 28 de março.

A festa está programada para começar às 14h, com a expectativa de até 15 mil foliões e será, segundo Maia, como sempre foi: ao ritmo das marchinhas, com a Vovozinha do Asfalto arrastando os foliões.

Isso até às 18h, quando Durval Lelys assume o comando da festa, com a mistura do rock com axé, até às 19h30, para, a partir daí, retornarem as marchinhas

Votação

Mesmo após Rafael Maia minimizar os problemas e transtornos, a comunidade da Ilha não ficou convencida e houve moradores apostando em um público de até 100 mil pessoas.  Ao final da reunião houve votação e a grande maioria dos presentes levantou o braço indicando ser contra o carnaval de rua no bairro este ano.

O presidente da Amai, Clero Castro, anunciou que a ata da reunião seria encaminhada nesta quarta-feira (4) para o governo municipal, informando a vontade dos moradores da Ilha, e encerrou o encontro.

Desta forma, a decisão está, agora, nas mãos do prefeito André Luiz Merlo (PSDB).

A comunidade da Ilha não quis saber de muito papo e a todo momento interrompia a fala de Rafael Maia. Ao final, votou pela não realização do carnaval de rua no bairro

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