Já estava indo dormir, quando resolvi dar uma olhada no trending topics do Twitter e vi que um dos assuntos mais comentados era: “é uma vergonha”.
Relutei, por um momento, a ver do que se tratava, por medo de dar de cara com mais uma patacoada do governo federal e ter meu sono comprometido por isso.
No entanto, vencido pela curiosidade, abri o tópico e tomei conhecimento do que acontecia no jogo do Atlético Mineiro, que viajou até a cidade de Barranquilla, na Colômbia, para enfrentar o América de Cali, pela Taça Libertadores da América.
A “vergonha”, replicada no Twitter, era atribuída à Conmebol, confederação responsável pela realização da Libertadores, porque ela se negou a cancelar a partida, diante das cenas lamentáveis que aconteceram.
A Colômbia vem passando por uma onda de protestos em massa, inicialmente contra uma proposta de reforma tributária no país, mas que se generalizou contra o governo, contra os excessos cometidos pela polícia durante as manifestações, atingindo também a realização de partidas de futebol.
Cartazes empunhados por colombianos diziam: “se não há paz, não há futebol”.
Ontem, no entorno do estádio Romélio Martinez, policiais jogaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes e acabou sendo levado pelo vento para dentro do campo. A partida foi interrompida diversas vezes, porque os jogadores tinham dificuldade de respirar.
Até o Hulk, com seus “super poderes”, se ajoelhou no meio do campo, sob o efeito do gás lacrimogêneo. Além de perder um gol cara a cara com o goleiro, por chutar fraquinho, nos acréscimos (de onze minutos!) do primeiro tempo.
O jogo continuou na segunda etapa, mesmo com a indignação nas redes sociais, as críticas dos comentaristas que cobriam a transmissão ao vivo e as queixas dos jogadores sobre o gás e as bombas que explodiam do lado de fora.
A decisão de prosseguir com a partida escancarou a indiferença das grandes confederações de futebol – com seus contratos e acordos milionários –, fazendo valer a lógica capitalista em detrimento à vida humana.
Contudo, pra sorte de todos nós que amamos o futebol, em meio a esse caos, apareceu – já no finalzinho da partida – aquele atrevido que sai do roteiro do futebol sério, engessado, e comete o disparate de driblar o adversário, deixando-o apenas com a visão privilegiada de um belo gol.
No trending topics, outro assunto ganhou relevância. “Que golaço” repercutiu no Twitter com milhares de postagens. E não foi só na internet. Hoje cedo, chegando no trabalho, ouvi alguns caras comentando a mesma coisa e um deles até imitou o malabarismo que deu alegria a um jogo com cenas tão tristes.
O jogo estava nos últimos e dolorosos minutos (seis de acréscimo) e a vitória parcial de dois a um garantia a classificação do Galo pra próxima fase. O América de Cali era todo ataque, no desespero de mudar o placar.
Depois de um passe errado do time colombiano, Diego Tardelli recuperou a bola na sua intermediária e arrancou em um contra-ataque fulminante. Junto com ele, seu companheiro de ataque, o chileno Vargas, e apenas um zagueiro adversário.
Tardelli quase errou o passe pro Vargas, a bola passou a centímetros do último beque, que só não a interceptou porque foi pego no contrapé.
Com isso, a bola veio mais aberta pro atacante chileno, que deu só um “totózinho”, passando a bola milimetricamente por cima do goleiro que havia mergulhado pra tentar a defesa.
Pra concluir, poderia ter deixado entrar, já saindo pro abraço, mas, com o quique da bola, preferiu se ajoelhar e finalizar de cabeça mesmo, completando o “lençol” no goleiro e balançando a rede pela última vez naquele cenário de guerra.
Que golaço!