Relativismo cultural e o bullying

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Na concepção do poeta Ferreira Gullar “A arte existe porque a vida não basta”, fica incompleta e sem aquilo que a gente, na culinária mineira, usa sem moderação: tempero. Óscar Wilde disse no ensaio “A decadência da mentira” que “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Não por acaso as produções cinematográficas e televisivas se apoiam na famosa frase: “Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência”.

A vida no Brooklyn e no Colégio Corleone, escola fictícia do Sitcom “Todo Mundo Odeia o Chris” talvez seja um bom exemplo.  O escritor espanhol Antonio Muñoz Molina, já advertia que: “Uma gota de ficção mancha tudo de ficção” e é exatamente isso. A arte imitando a vida.

A série é baseada na vida real do ator Chris Rock e assim como no Brooklyn em qualquer escola aqui ou lá os grupos de alunos se separam por afinidade e com isso criam uma espécie de gueto ou tribos. O que une os alunos nesses guetos é sua preferência, a cor da pele e afinidade cultural. A história se torna um clichê replicado em doses contínuas e sistêmicas nas nossas escolas sem restrição de data, nem de século.

O grande desafio da sociedade sempre foi superar a incapacidade da maioria em respeitar e conviver com a diversidade cultural, étnica e racial. Essa incapacidade de superação e aceitação se torna agressão. Atualmente o termo é bullying. Mas já foi zoar, trote, mangar e outros tantos de adjetivos.

Geralmente são agressões verbais, físicas e psicológicas que humilham, intimidam e traumatizam a vítima. Os danos causados pelo bullying podem ser profundos, como a depressão, distúrbios comportamentais e até o suicídio. As vítimas são os negros, asiáticos, magros, gordos, nerds e outras dotadas de características impopulares pré-definidas pelos padrões impostos pela sociedade.

O etnocentrismo é um conceito antropológico utilizado para se referir à forma como se enxerga outra cultura e suas derivações. O sujeito vê o mundo tendo como base a sua própria cultura, desprezando as outras ou enxergando a sua como superior às demais. O conceito apresenta uma visão de mundo onde determinado grupo se vê como o centro de tudo, julgando os outros grupos a partir dos seus valores (costumes, cultura, hábitos, religião, idioma, entre outros).

O antropólogo social Roberto da Matta aborda a temática contrapondo os antagonismos sobre a aplicação cotidiana do termo. Ele pergunta: “você tem cultura? É rotina ouvirmos ou até afirmarmos que fulano não tem cultura, ou que cicrano tem cultura. Neste contexto a palavra cultura pode ser invocada para justificar superioridade ou inferioridade. Mas será que existem culturas superiores ou melhores que as outras? Se analisarmos do ponto de vista do senso comum, sim. Mas se fizermos uma análise racional ou filosófica, veremos que isto é mero contrassenso.

A sociedade alicerçada na divisão de classe sempre criou e criará meios para justificar a desigualdade de condições entre os membros da mesma e assim perpetuar seus valores e consequente existência. Cultura neste contexto não virou somente sinônimo de status, mas em ideologia para os que pensam em perpetuar a dominação do homem pelo homem.

 

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