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EM BUSCA DE ÁGUA, MORADORES DE XONIN DE CIMA TENTAM REATIVAR POÇO ANTIGO

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Jovens estudantes deixam de ir às aulas para tentar achar água em poço desativado. Foto: Fábio Monteiro

O garoto Caio Dias, 16, mora no Xonin de Cima, distrito de Governador Valadares. Liderança nata, ele é um dos estudantes que até terça-feira (24) estavam a dois dias sem ir à escola porque decidiram executar uma tarefa árdua: reativar um poço fechado desde 1983 e resolver o problema da falta de água que assola o distrito nos últimos meses.

Sem contar com equipamentos adequados, o grupo de moradores montou uma engenhoca formada por aros de bicicleta e cordas e estava pronta a roldana para puxar, manualmente, a terra do fundo do poço através de baldes.

Na manhã desta terça, eles disseram que faltavam ainda uns 4 metros para chegar até a água.

Moradores improvisam equipamento para tirar a terra do fundo do poço. Foto: Fábio Monteiro

O serviço está sendo executado pelos próprios moradores, que cansaram de esperar uma solução da Prefeitura de Governador Valadares.

Entre eles, jovens estudantes que deveriam estar na sala de aula, mas se colocaram em uma situação de risco, descendo e subindo um poço que beira uns 10 metros de profundidade, fazendo o papel que caberia ao poder público.

O Xonin de Cima nunca teve fartura de água, mas, nos últimos 60 dias, tem convivido com uma crise hídrica severa que começou a se desenhar há seis meses. O córrego que corta a cidade, chamado ‘Córrego do Xonin’, onde é feita a captação pela estação do Saae, está praticamente seco.

A situação só não é pior porque caminhões pipas do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) têm levado água constantemente ao distrito. Mas a quantidade não tem sido suficiente para abastecer toda a comunidade, além disso, a água não tem chegado nas casas na parte alta da localidade.

De acordo com um motorista de um caminhão pipa, cerca de sete caminhões todo dia vão e voltam do distrito, levando cada um aproximadamente 2,5 mil litros de água.

Um outro funcionário da autarquia comentou que a medida não resolve e que só gera custos. “Já tem uns seis meses que estamos nessa, o que se gasta todo dia com gasolina e diesel desses caminhões daria para abrir vários poços”, avalia.

É essa a reivindicação da comunidade, a perfuração de poços, que segundo populares, resolveria a escassez da água. Outra alternativa, de acordo com os moradores, seria captar a água em um córrego que fica no Bugre, distante cerca de 7 quilômetros do Xonin de Cima.

Uma das alternativas seria captar água de um córrego no Bugre, distante 7 km do Xonin. Foto: Fábio Monteiro

Enquanto o problema não é resolvido pelo governo atual, mulheres, homens e jovens estudantes do distrito se arriscam cavando terra em uma cisterna desativada há 36 anos, que também serviu como depósito de lixo, ou seja, manipulam terra misturada com materiais orgânicos, que poderia, inclusive, liberar gás tóxico.

“Esse poço por muitos anos serviu água para as pessoas daqui. Queremos reativar para amenizar a crise hídrica que vivemos. Um engenheiro ambiental vai fazer a análise da água e se não der para consumir, pelo menos vai dar para lavar a roupa, limpar a casa”, falou Caio Dias.

Estudante Caio Dias, de 16 anos, mostra abaixo-assinado pedindo solução para a falta de água. Foto: Fábio Monteiro

Sem aula

A falta de água reduziu a carga horária na Escola Estadual Marçal Ciríaco da Silva, em Xonin de Cima, que atende alunos dos anos iniciais e do ensino médio.

Sempre que falta água, são 305 estudantes dispensados às 9h30, antes da merenda escolar, já que não há condições de lavar as centenas de vasilhames utilizadas no preparo e na hora de servir a alimentação.

Sem chuva, o córrego do Xonin, local de captação de água, secou. Foto: Fábio Monteiro

Para a supervisora escolar Emerita Brandão, o Saae tem cooperado pouco. Ela explica que para conseguir água, a escola tem que ligar na autarquia e “esperar a boa vontade dela”, por isso o educandário está ficando sem água até três dias consecutivos, segundo a supervisora.

“O dia que não tem, os alunos são liberados mais cedo, já que é impossível atender mais de 300 alunos sem água. Então, infelizmente, o Saae não vem aqui todo dia, você tem que implorar pra ele vir”, completa.

Já o presidente da Associação dos Moradores do Xonin de Cima, Adelmo de Souza, afirma que pelo menos 10 caminhões pipas têm abastecido diariamente a ETA local para distribuição nas casas. Ainda assim, ele reconhece que o esforço não tem sido suficiente para garantir o consumo dos moradores.

Até o início da década de 80, o poço que a comunidade tenta reativar abastecia todo o distrito. Por causa de “briga política”, conta o morador Davino Tomaz de Lima, a cisterna foi desativada, e depois o local virou depósito de lixo da comunidade.

Mesmo diante da possibilidade de a água “não ser boa” para o consumo, o grupo está decidido a cavar o fundo do poço até que a água brote. Foi o que garantiu o estudante Carlos Daniel Félix Marinho, 18.”Eu não saio dali até conseguir encher esse poço”.

Carlos Daniel é outro estudante que tenta resolver falta de água na comunidade. Imagem: Fábio Monteiro

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