Valadares 80 anos: um pouco sobre os outros pioneiros

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antiga valadares
(Foto: Arquivo Museu da Cidade)

Nesta terça-feira, 30 de janeiro, Governador Valadares completa 80 anos de emancipação política. Ao longo dessas oito décadas, muitos foram os personagens que, de uma forma ou de outra, escreveram a história desta cidade.

A maioria deles ainda hoje permanece no anonimato para a maior parte da população.

Enquanto a trajetória de alguns pode ser encontrada nos museus e bibliotecas, o rastro de muitos só pode ser recuperado na voz de quem viu, viveu ou escutou ‘aquela época’.

São inúmeros os pioneiros anônimos ou até conhecidos, mas muitas vezes não reconhecidos de fato. É o caso do topógrafo Olympio de Freitas Caldas, que promoveu o levantamento topográfico e a planta oficial do logradouro distrital de Figueira do Rio Doce.

Contratado pela Câmara Municipal de Peçanha, em 1915, foi ele quem dimensionou, dirigiu e demarcou as ruas, avenidas, praças e lotes da futura Valadares.

Um serviço que levou anos para ser concluído, já que executado em mata virgem, e serviu como base do ordenamento urbano do município desde os primeiros loteamentos particulares, como os dos Cabral, Antônio Carapina, João Italiano e outros.

Valadares tem muitas dessas coisas que passam despercebidas, não só sobre pessoas, mas também lugares.

Como a badalada zona boêmia, nos arredores do Mercado Municipal, que atraía gente de todos os cantos do país e até gringos.

Hoje o local é associado a prostíbulo, violência, drogas. Mas nem sempre foi assim. No século passado, esse espaço em Valadares chegou a ser reduto preferencial de homens de todas as idades e classes sociais.

Dulce e Rosinha, empreendedoras da época, comandavam as duas principais casas e recebiam com certo glamour e sofisticação. Fazendeiros de gado e leite, produtores de café de Manhuaçu e região das vertentes faziam negócios nesses lugares.

“Foi um período muito interessante, as pessoas mais importantes da cidade e figurões de fora vinham pra cá procurar as belas mulheres que moravam na zona. Foi lá que conheci alguns vereadores, prefeitos, deputados e até alguns empresários americanos”, disse o gráfico e carnavalesco Enio Morais, que viveu parte dos seus 63 anos na vizinhança da zona boêmia.

Já o veterano Tobias de Oliveira, 80, lembrou que as casas eram elegantes e organizadas, as mulheres bonitas e a música atraía dançarinos como Martinho, “que dançava bem qualquer música” e Nonô, “outro pé de valsa”, completa.

Ele falou também que Dulce, Rosinha, Marilda e Rita Brocoió eram nomes com bastante projeção entre os homens. “Com certeza Valadares tinha a melhor zona boêmia do país”, afirma.

carro da serpente com marilda
Desfile de carnaval: Carro da Serpente com Marilda na boca da cobra (Foto: Arquivo Museu da Cidade)

Além disso, a zona boêmia, com sua efervescência musical e promíscua, foi presença marcante no carnaval da cidade, ajudando a elevar o nível da atração com seus carros alegóricos, com destaque para o Carro da Serpente.

Nele desfilava Marilda, “seminua”, na boca da serpente gigante. A imagem desse carro faz parte do acervo do museu da cidade. O bloco da zona boêmia era o destaque do desfile pelo brilho, ousadia e, sobretudo, pela beleza admirável das mulheres, sempre aplaudidas com entusiasmo.

O chargista Clóvis Costa vivenciou esse tempo áureo da infância até a idade adulta. Ele conta que muitas decisões políticas importantes para a cidade foram tomadas entre um drink e outro sob a penumbra da zona boêmia. “Ainda adolescente fui uma espécie de protegido e sempre conseguia entrar pra ver as meninas trocarem de roupa”, recorda.

Outros personagens das décadas de 70, 80 e 90 ganharam notoriedade na cidade pela simpatia ou pelo jeito exótico de se vestir ou falar e passaram a fazer parte do imaginário das gerações.

Como o Quebra-Queixo em sua bicicleta cargueira cheia de estilo, o Seu Ladislau do Doce que chegou a se candidatar a vereador, e o aspirante Murilo Figueiredo, o amolador de facas com sua bicicleta, roupa e capacete de astronauta.

Muitos desses anônimos pioneiros não aparecem nas histórias já contadas. Há muitos deles por aí ainda hoje, mas como os registros são praticamente inexistentes, por ora ficamos por aqui, com essa curta homenagem do O Olhar aos ‘outros pioneiros’. (Colaborou Walter Andrade)

 

 

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