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Bendita e beneditina cidade

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Imagem: Reprodução

O Porto de Dom Manoel, a poética Figueira do Rio Doce, a cidade que recebeu Benedito Valadares numa radiosa manhã de 1938 como registra a história.

Dr. Olympio de Freitas Caldas, o seminal engenheiro topógrafo, na cartografia e nas plantas, do Peçanha até a Figueira.

Cidade que Serra Lima traçou, que Padre João Verbeek abençoou e que Dona Zulmira forrou de bondade com seu coração generoso.

Bendita e beneditina cidade de um povo heroico que a tudo resiste.

Estouro de barragens, lama tóxica que envenena tua gente. Povo sedento de água no impossível reencontro com o teu rio mágico e misterioso.

O grito lancinante do Rio Doce, no lamento constante contra a ganância e o lucro que envenena tuas águas e o faz reagir como outrora no canto krenak.

O progresso estampado na Avenida Minas Gerais que se estende imponente sob a Ibituruna, painel de rocha granítica, montanha que só a ti Deus contemplou para guiar os pioneiros, proteger os povos da floresta, atalaia gigante que o advogado e poeta Siva Monteiro de Castro jurou que és capaz de “ouvir o canto dos astros”.

Bendida e beneditina cidade.

bendita e beneditina cidade
Foto: Reprodução/Internet

De Guilherme Giesbrecht abrindo estradas rumo ao Mucuri, da navegação do Rio Doce com o Juparanan, de Ceciliano Abel Almeida assentando os dormentes dos trilhos da Vitoria-Minas, progresso ainda tardio que invadiu teus sertões proibidos e tuas matas virgens.

Os primeiros lotes, os Cabral, o Antônio Carapina, o João Italiano, as casinholas que iam surgindo numeradas pelo primeiro censo do Joaquim Nery.

De Segismundo Costa varrendo os malfeitores. De Mário Rocha, o Pacificador, a vestindo de grinalda e véu como noiva-cidade.

Os capitães do mato Pedro Ferreira e Altino Machado colocando pra correr a bandidagem do antigo degredo. Raymundo Albergaria, o pajé morubixaba fumando o cachimbo com todas as tribos, coadjuvado pelo Comendador Seleme Hilel.

Ladislau Sales ampliando caminhos. Dilermando Melo bebendo a inspiração do dia na passarela da avenida para o tema da crônica diária no DRD.

A alegria contagiante de teu povo nos carnavais de todos os tempos. Do Dr. Arnóbio Pitanga e Ivo de Tassis, as fantasias do Chico Melo nos bailes do Minas, do Nonô da Garrafa até o Trupico do Lalá.

O SIR, iniciais do pioneiro cultural Sotero Ignácio Ramos, o cinema, o escurinho, as telas desvendando maravilhas ao desatino da rapaziada.

O MIT, a Telefônica, a Associação Comercial. Os construtores de teu progresso. Lincoln Byrro, Armando Vieira, Laércio Byrro, Antonio Rodrigues Coelho, o Talmir com a prodigiosa inteligência. O Dr. Hermírio Gomes, o pioneiro do SESP e mais tarde o magnífico prefeito que vestiu a cidade de cores e galas. Oswaldo Alcântara e o sonho da industrialização, um visionário na tarefa de tentar sempre apalpar as estrelas.

Aurita Machado e Cirene Albergaria, Marcha da Família com Deus pela Liberdade, grito de fé e esperança elevado aos céus na imagem da Santa no Alto da Ibituruna.

Parajara e Tedesco sussurrando nas redações, sob a vigília cívica do Chico Teixeira. Osman Monteiro, Casca Grossa, Alírio Dutra, Jota Braz, Maninho, Odilon Lagares, a palavra e a música transmitindo ao mesmo tempo realidade nua e paz na força do teu rádio.

João Dornelas no seu alto falante informando todas as horas e minutos da cidade, inclusive a hora derradeira dos mortais.

O vozeirão do Humberto Campos no Diacolor Jornal dos cinemas de então.

O impecável Edson Gualberto, o nosso Chateaubriand, o capitão da comunicação.

O Lotinha, o Edmar Campelo, os irmãos Ivaldo Tassis e Ivanor, o DRD no café da manhã nosso de cada dia.

Pedro Tassis e Luiz Couto nas articulações políticas do uisque amigo no Realminas e nas deliciosas tertúlias regadas ao pé de porco do Bar da Titia.

O Indio’s e o Dom Camilo fervilhando nas noites quentes, ao som do sax mavioso de Raff Zaydan e da voz cálida do Titino Soares.

Os Fire Boys, Os Escorpiões, o Casa Nova, Tião e Lúcio, Adão O’Hara, Rita de Cássia, Ítalo Ayala, João Bocão, teus músicos, novos bárbaros que nos embalavam nas noites dos barzinhos da Exposição.

O sorvete e a paquera no Pio XII. A música do Guay encantando a alma, o hino que o Velho Rosa dedicou ao teu time querido, o Democrata do Jota e do Pão Veio.

O Bar do Ari Perereca e o Sivinha com a inseparável cuba libre e os discos de rock, blues, jazz.

Jorge Zambom agitando a broadway valadarense na Bárbara Heliodora. JB, Pedrão, Whiskadão, primeira discotheque.

O publicitário Carlos Medina, voraz criador de mundos e de coisas na planície valadarense: o voo livre na Ibituruna, sonho de Ícaro do Pepê, que um dia foi tragado pelas montanhas e pelos ventos. Henry Maksoud na cidade.

Zé Altino Machado, intelectual, nosso globe-trotter e nosso Indiana Jones que um dia resolveu rasgar a barriga da selva Amazônica.

Tempos de feerie e de agito na Princesa do Vale. Tempos do Teatro Atiaia. Os festivais de jazz da Núbia Brandão no Imaculada. Efervescência cultural na planície tórrida.

Raimundo Rezende e Ronaldo Perim, tempos em que tuas ruas se engalanaram, forradas pelo bloquete “uni stein”. Cidade Dique. Cidade Intermediária, o progresso avassalador chegando em todos os quadrantes.

As barraquinhas da Catedral de Santo Antônio, festa ecumênica de tua gente, fé e religiosidade.

Governador Valadares, “altiva e meiga, a sonhar conquistas” como cantou o professor Antônio Aubin, na letra de teu hino.

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