A cessão de uso de parte da Praça Getúlio Vargas para a Fundação Renova ganhou repercussão na semana passada, após o vereador Paulinho Costa (PDT) divulgar um vídeo exaltando o que ele considerou como “conquista” para a comunidade do bairro de Lourdes, em Governador Valadares, onde fica a praça. O vídeo anunciava a construção do Museu da Cidade na praça e acabou sendo apagado do perfil do político após receber dezenas de críticas.
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No entanto, a assinatura do Termo de Parceria entre a Fundação Renova e a Prefeitura Municipal aconteceu bem antes, na tarde do dia 27 de outubro. À noite, foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM) a sanção do prefeito à Lei nº 7.450, de 14 de outubro de 2022, dispondo sobre a desafetação e a cessão de uso de bem público.
A iniciativa permite a construção do Centro de Informação Técnica (CIT-GV) na praça Getúlio Vargas pela Fundação Renova. As informações estão no site da Fundação Renova e não faz nenhuma referência sobre a construção do Museu da Cidade.
Procurada pela reportagem do O Olhar, a Fundação informou que o acordo prevê a implementação de um local destinado a comunicar e informar a população valadarense quanto aos aspectos ambientais, sociais e culturais do rompimento da barragem de Fundão, a reparação e o material produzido sobre esses temas na forma de pesquisas, relatórios técnicos e depoimentos.
Confirmou ainda que o CIT-GV ficará situado na rua Pedro Lessa. “A edificação faz parte do conjunto da praça Getúlio Vargas, no bairro de Lourdes”. O local, além de abrigar exposições, equipamentos interativos e outros recursos para contar a história do rio Doce e o trabalho de reparação, “também terá modernas instalações para acolher o Museu da Cidade e a história de Governador Valadares”, explicou o diretor-presidente da Fundação Renova, André de Freitas.
Comunidade é contra
A comunidade do bairro de Lourdes e região, desde que tomou conhecimento da cessão de 761,76m2 da área da praça Getúlio Vargas para construção do museu, iniciou um movimento de coleta de assinaturas para um abaixo-assinado contra a medida. O documento será encaminhado ao Executivo e Legislativo.
A principal queixa dos moradores é quanto à falta de diálogo do atual governo sobre a decisão de permitir a supressão da única área verde da região. Não só o Executivo, mas também os vereadores, representantes do povo, aprovaram a iniciativa sem se preocupar se o projeto atendia ou não os interesses da comunidade.
Para o morador do Lourdes, Epaminondas Bassi, não atende. “Não sou contra a construção de uma sede própria para o museu. Mas aqui não é o local adequado. A praça já perdeu espaço, tempos atrás, para a instalação de uma escola, daqui a pouco não teremos mais a praça. Existem outros locais na cidade”, argumenta.
Outra moradora da região, Maria Aparecida Silva, também lamenta os moradores não terem sido ouvidos. “Até onde sei ninguém aqui foi procurado, nem o presidente da associação. Foi uma decisão do governo, de cima pra baixo. A praça tem uma rotina própria, a comunidade usa muito esse espaço. Não pode de uma hora pra outra falar que vai construir um imóvel aqui, não é certo, não queremos. Tem outros lugares pra isso, não aqui”, critica.
De acordo com a empresária Dilma Oliveira de Souza, que encabeça o movimento de coleta de assinaturas contra a construção do museu na praça Getúlio Vargas, o documento será encaminhado ao Executivo e Legislativo. Se o impasse persistir, diz ela, a comunidade vai acionar o Ministério Público Estadual com o objetivo de garantir os interesses dos moradores.
Praça em situação de abandono
O abaixo-assinado contra a construção do Museu da Cidade na praça Getúlio Vargas, no bairro de Lourdes, também pede ao governo André Merlo melhorias no local. Há bancos e lixeiras quebradas, instalações pichadas, banheiros fechados para usuários da praça.