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É o que, um dia, espero escrever de você

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É o que, um dia, espero escrever de você
Imagem: Internet

Quem me dera saber sobre todas as coisas. Não ficaria mais inquieto sobre aquilo que vejo desde a minha infância, até a este instante em que vivo em minha vida. Saberia colocar todos os pingos nos “is”, os verdadeiros motivos para sorrir, e nenhuma outra razão para sofrer. Tudo teria um sentido, nada mais seria invertido, conflito só para engradecer uma história para narrar. Como eu ia adorar ter toda essa sabedoria, que em mim jamais seria incontida, pois, ao ter todos os segredos do mundo, ofertaria sem pensar um segundo, todo o conhecimento para você viver. Aqui eu começo a escrever. E você, a me ler.

Quem me dera anotar cada resposta das perguntas propostas, ao longo da jornada de ser. Quem veio primeiro, depois um pouco, e nasceu de novo? Quem jamais poderia ir embora, ficar um pouco mais nesta hora, nenhum instante ausente, para saudade não ser? O que me faria rir, no descontrole que tenho aqui, de achar graça em tudo, de minuto a minuto, na companhia que busquei pra ter? Quem inventou tudo isso, a natureza e os rios, as águas e os mares, desertos de areia, solidão no peito não? Tudo isso eu anotaria, em letras nunca escondidas, talvez no mimetismo de uma poesia, para um romance se dar.

Poderia também, pensando bem, deixar dúvidas ao longo das notas, a cada página que denota, uma Aurora para recordar. Mas dúvidas deixaria não. Registraria realidades, algum dia na idade, quando assim eu estiver pronto. Quem me dera ter essa habilidade, de dizer verdades, compreensíveis a todo o mundo, significando assim um motivo para ser, fundamentos para jamais esquecer. Sei disso não, conheço poucas coisas, então, sendo eu um artífice das perguntas e um miserável na conclusão. Tenha pena não. Foi dito pelo coração, essas coisas sem explicação, linhas de uma crônica estabelecida. Uma rima que combina com a vida. Recorte de uma paixão.

A vida é razão e emoção. A vida é segredo e confissões. A vida são essas linhas escritas, e as que virão, as quais ainda sei não. Mas o que eu sei, pouco sei, é sobre nascer, chorar, andar e falar. Ainda tento repetir todos estes atos, aperfeiçoando com o tempo, a arte de dominar as lágrimas, a mágica de nascer de novo, a técnica de andar para frente, e jamais para trás. Falar continuo aprendendo, de forma mais recorrente, a tentativa de diminuir o som de meu timbre, intensificando as ondas do meu pensamento, reduzindo-o a um silêncio que esclarece. Nada que ensoberbe, longe disso é. É mais um aprendizado de viver, de amar o dia pra valer, mesmo quando a probabilidade diga o contrário, naquele momento em que tudo dá errado, como um tropeço no próprio sapato, ou uma despedida não querida que diz que é para sempre. Aqui tem que ser valente. Aqui tem que ser mansidão.

Quem me dera que tudo isso que provei, soube e saboreei, ao tempo voltasse, para que tudo eu fizesse de novo. Sim, eu faria tudo repetidamente, da mesma forma inocente, porque graça encontrei ali, errando na arte de melhorar. Não desprezaria o errar, pois, ao perfeito querer chegar, o encontro com o imperfeito sempre é. Imperfeito jamais é, constatei depois. Um atraso para um compromisso, resolve-se em um destino, um alguém que aqui conheceu. Uma porta que foi fechada, abriu-se em seguida uma rua larga, para amigos ali encontrar, rir e chorar com você. A corda do violão que arrebentou, na música que propôs tocar, não resolveu prosperar, missão que não era para você. Mas ao abraço ficou, de quem ao seu lado restou, testemunhando todas as cordas que se partiriam dali pra frente, compartilhando acordes melhores que dó maior, notas que a vida não faz esquecer. Quem me dera a tudo isso eu regressasse, a tudo isso eu voltasse a viver. Faria tudo sempre na mesma vez.

Quem me dera saber o segredo da sensação gostosa da surpresa de criança ao ver um presente. Criaria fórmulas matemáticas para que se perpetuasse nas escolas, o aprendizado da divina forma de ser. Uma alegria de viver, certamente forjada em algum Éden, um paraíso desses, construído pelos deuses. Os olhos arregalados, o sorriso que sai das linhas do rosto, ultrapassando suas fronteiras, na correria apressada que se dá, aceleração da felicidade, ao encontro do abraço dos pais, um lugar que melhor não há. Quem me dera saber como se dá a criação de borboletas no estômago, a sensação extraordinária de estar apaixonado, difícil descrição aqui fazer. Sei que é pra valer, aquele arrepio de pele, o disfarce dos atos, mãos inquietas que não se controlam ao imperativo sentimento. Como é bom viver isso. Fórmula sobre o assunto não sei, entrando mais uma vez nos mistérios de ser, mas os deuses devem saber. Ah, se eu soubesse todos esses enigmas. Eu os teria explicado a você.

Quem me dera eu ser um humano assim, cheio de dúvidas, razões, emoções, imperfeições para colecionar. Quem me dera eu ser um humano assim, com grandeza nas perguntas, mas pobre nas respostas. Pródigo no sentimento e econômico nas despedidas, sempre as trocando por mais um minutinho, vai?! Quem me dera eu ser um humano assim, que escreve para os outros, o que os outros imaginam sentir ou pensar, comungando nossas angústias, celebrando os prazeres, entregando a cada um o melhor de si. Não sei bem se é assim. Quem me dera eu ser um humano de fala clara, um vocabulário exato, a pronunciar dizeres sem confundir. Que graça teria aqui? Sei não, ora pois!

Quem me dera eu ser um humano que a tudo vê poesia, um mundo com mais fantasia, sem preocupações para na agenda, ou na mente, anotar. Quem me dera eu ser um humano assim, a revolucionar a ordem, a revogar as leis, e distribuir as riquezas do mundo, para festas intermináveis lembrarmos. Um anarquista eu seria, de comunista me acusariam, mas negacionista jamais. Uns diriam louco, talvez. Um Dom Quixote. Disso não me importo, e convido a todos para assumir tais postos, libertando-se de alguma prisão do gênero, nenhuma que vale a pena viver. Quem me dera eu fazer entender, que vida não é tão simples de viver, algo que sei bem escrever. Quem me dera a tudo isso entender. Sei que não seria eu aqui a escrever.

É isso que tenho para oferecer, depois de tanto falar, pensar, confundir e amar, chegar aqui e responder, sem mais esconder, que a vida é um mistério de ser. Mas isso você já sabia sem me ler. Contudo, antes de fechar tudo isso, de me despedir por ora, ao fim de combinar as letras para lhe convencer, lhe digo que toda a beleza da vida reside no mistério que a envolve e é. E ela é você! Sem mais indagações, sem mais dúvidas, o mistério da vida é tanto eu como você. Eu e você. A vida é o que está a acontecer. E ela é para discorrer, deixar-se levar, sem medo de errar ou sofrer. A vida é você que exige, nesta hora, sem mais demora, que a vá viver! É o que eu espero de você. É o que, um dia, espero escrever de você.

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