Foram quase 17 horas de viagem para matar uma saudade que já durava mais de 10 anos. O tempo de separação, nem mãe e muito menos filhos conseguem lembrar.
Mas era o suficiente para que a vontade se unisse à ansiedade que precedeu o reencontro de dona Maria Lúcia Ferreira de Freitas, 59, com os filhos Johnny de Freitas Márvila, 28, e Maicon Edson Márvila Luiz Santos, 26, ambos residentes no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro.
Os dois saíram do Rio, com um primo, pouco depois da meia noite em um veículo pequeno, rumo a Valadares. A viagem, que costuma durar pouco mais de 9 horas, durou quase 17 horas. Quase nada para quem não se via há mais de 10 anos.
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Em um colchão com as roupas de cama muito bem arrumadas, sentada ao lado de uma cachorrinha chamada por ela de “Amarelinha”, e que vinha sendo companhia diária, dona Maria Lúcia aguardava ansiosamente pela chegada dos filhos.
Com o cabelo cortado, penteado novo e as unhas pintadas, trabalho feito pela cabeleireira Magna Nascimento Santos, a agora ex-moradora de rua não conseguia esconder a felicidade por estar prestes a reencontrar os filhos.
Magna contou que na calçada da rua Lincoln Byrro, dona Maria Lúcia se alojava há pelo menos seis anos. “Desde então eu sempre cuido do cabelo dela, quando está grande. Faço escova e ainda tem a nossa colega que faz as unhas dela”, disse a cabeleireira, lembrando que este último foi especial. “Vamos sentir falta dela”, concluiu.
Veja reencontro dos filhos com a mãe:
O reencontro
Junto com dona Maria Lúcia estavam alguns integrantes do projeto GV Invisível, grupo responsável pela descoberta feita pelos filhos. Já eram quase 17 horas quando o veículo em que estavam virou a esquina da avenida JK, estacionando na rua Lincoln Byrro.
Dona Maria Lúcia correu ao encontro dos filhos e os recebeu com um forte abraço. O momento provocou emoção nas dezenas de pessoas que aguardavam, junto com a mulher, a chegada dos rapazes.
Depois de muito abraçar e beijar a mãe, Johnny contou que há mais de 10 anos não tinham notícias da mãe. Segundo eles, os parentes diziam que ela havia morrido. “Mas, por dentro, a gente sentia que ela estava viva. Até que minha namorada procurou e conseguiu encontrar a postagem feita pelo GV Invisível. Por dentro a gente sabia que ela estava viva”, disse o jovem.
Maicon afirmou que eles sentiam muita falta da mãe e que nunca perderam a esperança de reencontrá-la. “Agora ela não vai fugir mais”, brincou o jovem, dizendo que iam descansar um pouco, talvez até conhecer um pouco da cidade, antes de irem embora para o Rio de Janeiro.
A alegria estava estampada no rosto de dona Maria Lúcia e ela mal conseguia se expressar. “Agora é muita alegria. Estou muito contente. Minha cabeça está até melhorando”, disse ela enquanto abraçava um dos filhos. Veja abaixo:
GV Invisível
O reencontro de dona Maria Lúcia com os filhos só aconteceu graças ao trabalho do projeto GV Invisível, que busca chamar a atenção da sociedade para pessoas em situação de rua.
Em um dos trabalhos feitos, o grupo fotografou dona Maria Lúcia e postou nos perfis do Instagram e Facebook. Geralmente, as pessoas são fotografadas e contam um pouco da sua história. E foi numa dessas postagens que a namorada de Johnny conseguiu localizar a mulher, que morava na calçada da rua Lincoln Byrro, entre a rua Treze de Maio e a avenida JK.
“A gente fica até sem palavras num momento como esse. Este é o objetivo do projeto GV Invisível, ajudar as pessoas a se tornarem visíveis. E a gente vê a realização desse sonho em tão pouco tempo. Pra gente está sendo incrível. Tudo o que a gente fez, se desgastou, está valendo mais que a pena e estamos muito agradecidos por este momento”, afirmou o coordenador do grupo, Vinícius Miranda.
Para conhecer o projeto GV Invisível, basta acessar o Facebook ou o Instagram do projeto. Quem quiser ajudar, também pode fazer contato com o grupo pelas redes sociais.
Instagram: https://www.instagram.com/gvinvisivel/
Facebook: https://www.facebook.com/invisivelgv
