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Memórias

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Imagem: Divulgação

Sim, estou de volta. Algum tempo distante das letras, ao que me permitiu a deixa, de dizer que ocupado estava em outros afazeres. Dia de pagamento, um pouco de tormento, trabalho pro patrão, para a patroa, mais que boa, faço meu comentário, elogio que se diga. Delicadeza de quem aprendeu um pouco com a vida, em muitas outras idas, de existências que completo agora. Aniversário que se comemora, Esposa que me lembra ao lado do Menino meu. Potchucko, esta criança esperta, não esqueceu.

Mas digo logo que a ideia de hoje é ser nostálgico pra valer. Ah, alguém há de me socorrer, nas memórias que vou contar, no caminho que precisei fazer antes de voltar para casa e celebrar minhas voltas ao Sol. Coça suas mãos, segura as ondas de suas emoções, que rios serão rápidos em desaguar em oceanos de lembranças, águas que nunca fogem de mim. Sou canceriano, sim, constelação que me rege.

Dei um beijo na amada e fui buscar morada longe de casa e dentro do meu ser. Nos passos de minha vida, encontrei tanta coisa, como trombei hoje ao andar no asfalto. Dei um salto ao ver uma pessoa, tristonha em seus pesares, no que aproximei e perguntei: o que há contigo, companheiro? Em poucas palavras, ele desceu suas águas, trazendo memórias de uma parceria, amor de verdade, que agora se foi. Eu perguntei, pois, como isso poderia deixar de ser, uma vez que, quando amor é, nada se desfaz. Ele sorriu para mim, marcou seu semblante de negação, inocência minha, dizer isso agora pela manhã. Preferiu o silêncio para curar sua dor, mesmo que isso não escondesse seu furor de, desesperadamente, fugir dali e encontrar-se com ela. Ah, como eu queria expressar a ele que era só festa, um truque da peça, a atriz dos sentimentos dele. Ela era o palco para ele, foi o que eu pensei, e ele o que ficava após os aplausos. Deixei-o descansar em suas memórias e um abraço registrei. Continuei…

Na direção de meu destino tive uma memória assim também. Muitos palcos abandonei sem atuar. Outros despediram-se de mim sem autógrafo, restando o monólogo em meu interior do ímpeto e tempestuoso que gostaria de viver. Anos pueris, juvenis, quem nunca passou por isso, adolescência não teve. Quiçá ainda vivo a minha, na síndrome de Peter Pan, de ficar no afã de amar a novidade de se apaixonar simplesmente. Voto no treze, vermelho de uma só vez e grito Galo ao alvorecer, ao entardecer e ao anoitecer, em todos os belos horizontes. Paixão demais, sô! Ah, eu fico contente, como na Aurora de um livro, uma Isabela bela encontrar, Coroada que será, ao coração rubro, lado esquerdo do peito. Bon Jovi entenderá. Não sei se a geração Z compreenderá. Memórias estas que não saem de mim.

Um tanto de andar tive, sem aplicativo moderno para contar, pois, de contabilidade a vida já faz muito, porque se preocupar com esse assunto. Prefiro ver a beleza das coisas, meninos no chão, garotas nos muros, e sentimentos atravessados. Eu fiz esse compasso, de entender melhor a leitura dos olhos na direção de mim. Falo mais com eles do que com os verbos, e nem um pouco eu sossego, enquanto não tenho a resposta das retinas delas. Das querelas, aquieta dúvida, pão de queijo no forno, café no bule, para mineirizar a tranquilidade. Porém eu sei, que um grude é fixar lentes nas pessoas e no mundo. Olhar diz demais, li isso de uma astuta e aprendi a lição sobre as janelas da alma. Pedi calma e continuei meu itinerário para um lugar que não sei onde fica, labirinto que é a mente. Inesperado é o que me anima. Seu sorriso, então, que alegria!

Perto da esquina, logo após a avenida, defrontei-me com uma lembrança minha. No ambiente de minha mente, pensei ter visto uma ilusão, a projetar uma emoção, dos tempos antigos de quando eu era Quixote. Ainda sou, eu sei, mas aproveitei para deixar aqui a descrição. No tecido que se desvelou a mim, uma boa tarde se fez e a pergunta de como a vida ia. Pensei em dar uma resposta inteligente, coisa para impressionar, mas nenhum recurso veio a não ser continuar a viver a quixotez e tremer. Na tez de minha pele, arrepio de saudade veio, na poética ritmada de falar como o tempo não passou desde ontem. Pra mim, foi ontem. Idade sei que passou, estou contornando o Cosmos, nessa dança maluca dos anos. Dei a rubrica trivial, de dizer que tudo estava normal, como as estações do clima e as notícias no jornal. Ela nem deu a rima, acreditando desconfiada, de que tudo o que eu dizia era verdade. Deu seu adeus mais uma vez. E eu caminhei nos porquês. Às vezes, o Mineiro perde o trem, pensei.

Esse negócio no peito da gente não para de bater, vivacidade de lembrar como é estar no teatro da existência. Eu tenho paciência, espero a lotação e o Lula ganhar, na minha mansidão diante da gritaria sem sentido. Prefiro ser amigo, do tempo e dos insensatos, a continuar no abraço, a amizade a gravar mais uma memória em mim. Rudeza quero não, te dou um riso sem noção, para nós dois rirmos juntos a minha história que teve mais fins do que inícios. Ah, pare de chorar, falei só para contrariar, de dizer como as coisas são tão bonitas na vida, mesmo quando não parece assim. Razão que não explica, matemática que não fecha a conta, de encontros e desencontros desse mundo redondo que insiste em girar. A Menina ao lado, bem mais jovem do que eu como sempre diz, ouviu e começou a cantarolar. E eu, em minhas caixas de saudades, fiquei a observar.

Já era um pouco tarde na vida e no dia e resolvi voltar pra casa. Era meu aniversário, Patroa e Potchucko me esperavam, além da Maternidade que jamais abandona a gente. Vi a padaria, a confeitaria, e levei guloseimas que deixam os anos mais doces. Alegrei-me um pouco, deixei o passado de novo, para estabelecer-me no presente e viver o sorriso dela. Voltei para ela, na morada que encontrei, a paz dos dias que deixo aqui ao escrever. Comprei o doce, o pão de batata, algo mais que agrada a namorada e o menino que pede açucarado sem papel. Cheguei em casa e em mim, e sei que não é o fim, do presente que costura o futuro a todo instante. Parabéns foram o que eles disseram sim, entre confissões que guardo dentro de mim, na memória do dia que, ficou, enfim. Olhei para trás, não esqueci o relógio e nem minhas caminhadas, mas no meu solilóquio, discursei no silêncio, palavras que deixo nesse momento para, a ti, registrar tuas memórias também. Não desanime agora, nem vem! A vida é um livro que se segue página a página, e do qual ninguém sabe o final. O bom é não ter final, a trama que se denota…

Sem enrolar, afinal, digo logo a vocês o que bradei em meu interior e me despertou de vez. Assim foi meu dia, meu aniversário e minha cena, na alma jamais pequena, Pessoa. Isto foi o que ressoou dentro de mim e ficou. Sou. Palavras gravadas em mim ao que revelo a ti ao me despedir assim…

Doce e chocolate e um abraço na tarde. Memória gostosa é aquela que lhe traz saudades.”

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