Não entendo festa com área vip sem open bar. Aliás, pra ser sincero, até entendo. Enquanto alguns pagam trinta, quarenta reais a mais no ingresso por três ou quatro metros a menos na fila da cerveja, outros ganham muita grana por oferecer essa exclusividade gourmet nos eventos.
O hétero top, de Stanley na mão e sapatênis no pé, é o tipo de otário que sempre vai pagar caro por essa experiência que, lá no fundo, oferece apenas distinção social. Afinal, do que adianta o kit ostentação, sem a pulseirinha verde neon colada no braço?
Mas, na falta da bebida liberada, fazem o que podem pra aproveitar o investimento. Já cansei de ver marmanjo, no Gevê Folia, descendo do camarote – com seu abadá com manga e cor diferente – só pra tentar a sorte na pista, depois de tomar fora de quase todas as patricinhas do Genoma e do Ibituruna.
O pior é que muitas vezes dava certo. O feioso da área vip virava um pegador na pipoca. Acredito que tenham sido essas minhas primeiras sensações de ódio de classe. “Cambada de playboy, fédaputa!”, pensava.
Exemplos não faltam. Os combos de whisky e Red Bull, na extinta Monalisa, e de vodka Absolut, no Boteco Federal, cumprem o papel de distinguir sua classe social pelas coisas que você consome. Ou, também, o quão idiota você consegue ser. Não ouvi só uma, ou duas vezes, história de maluco que passou o mês inteiro à base de miojo, depois de ter feito gracinha no rolê.
Mas não é só em festas que a dinâmica se desenvolve. Tem gente que paga caro pra ouvir música ruim de conhecido, sentado em cadeira desconfortável e pagando caro na breja e na comida que não vale a metade do preço.
Bar de postinho, maquiado de guarda-sol e que serve drink com guarda-chuvinha. Tudo pra deixar a experiência dos nobres frequentadores o mais “instagramável” possível.
Nesse segmento, a lista também é grande. Mas, o ponto em comum entre todos eles, é que duram tempo suficiente para serem esquecidos pela novidade da vez. “Um barzin topzera, Zé, que tá lotando pra caralho”, justifica meu amigo do copo Stanley, toda vez que me chama pra beber.
Respondo com a frase do cronista, Paulo Mendes Campos, que decorei especialmente pra esses momentos: “Esses bares podem merecer nosso entusiasmo, mas jamais merecerão nosso amor”, e acabo indo pagar caro na cerveja e no tira-gosto, sem conforto e ouvindo música ruim de gente que conheço.
Tá pra rolar um evento no Filadélfia, reduto da classe média valadarense, naquele mesmo pique ostentação que eu dizia lá no começo, com os velhos cercadinhos vips sem nada liberado e que agora já americanizaram de front stage.
Pra que tanta divisão, gente? Menos é Mais!
Aproveitando o embalo musical (pra quem sacou o trocadilho), parafraseio o mestre, Arlindo Cruz, pra homenagear um bar que, embora ainda não aceite pix e nem tenha o drink do momento, se bebe em copo americano e encanta por ser do jeitinho que é:
“O meu lugar. É cercado de luta e suor. Esperança num mundo melhor. E cerveja pra comemorar… O meu lugar. É sorriso é paz e prazer. O seu nome é doce dizer: BAR DO ICA, LÁ LAIÁ… BAR DO ICA, LÁ LAIÁ.”
E, pra não perder o gancho, um aviso: o Bar do Ica voltou a abrir aos domingos. Já podemos esperar alguma coisa de 2022.