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O eterno buscar

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Imagem: Eternidade, de Ismael Nery

Nos caminhos tortuosos do divã, tropecei numa memória da infância: desejava que caísse do céu um livro com respostas às perguntas que já me atinavam a consciência de menino… De onde viemos? Para onde vamos? … Criança lúdica, acostumada à fantasia e apegada à imaginação, suspeitava que o Criador fosse capaz de melhores narrativas do que as apresentadas a mim como verdades absolutas. As prosas e poemas das séries iniciais me interessavam bem mais que as letras miúdas da escola dominical.

Como muitos de pouca idade, tentei conformar a realidade com minhas próprias mãos. Talvez, na inconsciência do pensamento, acreditasse que entendendo o mundo conseguiria entender a mim mesmo. Doce ilusão. “Ainda não estamos habituados com o mundo; nascer é muito comprido”, disse Murilo Mendes a uma versão menos recente do “eu” que agora escreve, na época cansado de procurar suas respostas.

Em meio a desatinos da vida adulta, outro poeta — o Quintana — me apresentou nova perspectiva: “O mistério está é na tua vida! E é um sonho louco esse nosso mundo”. Passei, então, a me enveredar pelo caminho inverso. Quem sabe, entendendo a mim mesmo entenderia também o mundo?! Comecei por esmiuçar meus entulhos e escavar minhas ruínas. Perdi-me muitas vezes à medida que me encontrava. Tantas voltas e voltas diante do analista, tantas idas e vindas em meus próprios abismos, e as incertezas apenas mudaram de forma, me apresentando a outras perguntas.

Ainda resistente às tradicionais leituras da alma, esbarrei, por assim dizer, nas ideias de dois personagens esquecidos da História: um padre e um pintor. Teilhard de Chardin, exilado pela Igreja Católica por sua ousada tentativa de conciliar ciência e teologia, reforçou minhas impressões infantis: “Na escala do cosmos, só o fantástico tem condição de ser verdadeiro”. E Ismael Nery, que buscou retratar a essência espiritual do ser humano em suas obras de arte, disse num dos poucos versos pincelados por ele: “Sou o gérmen de um Deus, toda a gente o é também”; me mostrando um ponto de partida, do qual teci rimas autorais:

AO CRIADOR

Percebo no átomo sua gênese
Nesse ponto inicial da criação
Por linhas tortas e coisas feias
O belo e o sublime têm em Ti
um embrião
Mas porque tanta dor e iniquidade?
Se de Ti só consideram o que é santo
Como perguntou Gomes de Barros:
“Quem foi temperar o choro e
acabou salgando o pranto?”

Impassível a certas demandas do ego, ousei mergulhos mais profundos. Enfrentei, com boa dose de coragem, antigas desconfianças para procurar em palavras ainda mais antigas um alívio, um conforto, um alento; e acabei por encontrar a singela certeza de que a busca, a eterna busca, pode sim valer a pena: “Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido”, me avisou um tal Lucas do Novo Testamento.

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