Após rápida alteração em sua pauta, motivada pela combinação jazz, praça e povo, o Jornal de Bad está de volta. Seu nome remete ao álbum que me fez a cabeça nestes últimos tempos, fruto de e-mail’s que a autora destinava a seus amigos para noticiá-los da crise que afetava sua vida na transição dos vinte para os trinta.
Digressões à parte, coincidentemente, o nome também soa adequado a este espaço. Mas antes fosse uma newsletter afetiva. Aqui, infelizmente, a “bad” não tem nenhum conteúdo digno de apreço.
Então, por que noticiá-la?
Convenhamos, se a positividade tóxica é combatida por fantasiar a alienação da vida nesta sociedade, principalmente em um país dependente, cuja natureza é explorada à beça pelas multinacionais, a venda da cidade enquanto espetáculo não requer tratamento semelhante?
Na falta de charges, tirinhas e cartuns, gêneros textuais insuperáveis para tal finalidade, sigo exercitando a prática da escrita para fins pessoais, tematizando, vez ou outra, algum problema dentre tantos que acometem as nossas cidades.
A “bad” da vez é uma grave estimativa para a Região Intermediária de Governador Valadares, feita pelo Núcleo de Estudos Populacionais da Fundação João Pinheiro.
O IBGE denomina Região Intermediária (RGInt) de Governador Valadares um conjunto de 58 municípios de características demográficas semelhantes. Ela divide a mesorregião Vale do Rio Doce com a RGInt de Ipatinga, que de modo idêntico, abrange outros 44 municípios. A título de curiosidade: ao todo, 13 Regiões Intermediárias formam o estado.
A referida estimativa merece destaque, pois projeta a população desta região como a menor de Minas Gerais em 2040, isto é, daqui dezenove anos. A densidade dessa perda populacional chama bastante atenção:
Entre 2030 e 2040 a população da RGInt terá uma diminuição média de 0,15% ao ano e 57% dos municípios sofrerão perdas absolutas de população durante essa década, o que significa, para a RGInt como um todo, perda populacional em torno de 39 mil pessoas em relação a 2010 – FJP/NEP.
Se a produção artificial da cidade, “atrativa para o aporte de novos negócios e investimentos”, faz ela parecer um “lugar inovador, excitante, criativo, e seguro para viver, visitar, para jogar ou consumir”, a sua dinâmica demográfica, segundo o boletim, revela um município essencialmente expulsor de pessoas.
Entre 2005 a 2010, Governador Valadares já possuía o segundo pior saldo migratório entre os municípios brasileiros. No atual estado de coisas, em que a inflação de tudo afeta até o humor das pessoas nos supermercados, aquele que emigra tem ainda menos dúvidas quanto a essa decisão.
Em Alpercata, até o pão de queijo está sob ameaça. A dificuldade de uma padaria em reter funcionários treinados, a insuficiência de atletas para a formação de times de futebol amador, são alguns dos aspectos da vida afetados, como mostra reportagem veiculada na Folha de São Paulo.
No meu círculo social a migração passou a ser alvo da crítica de pessoas que sofreram redução na quantidade de seus respectivos “contatinhos” – pasmem! Para quem não sabe o que configura um “contatinho”: é uma gíria moderna, brasileira, usada para se referir àquela pessoa que você procura enquanto não conquista o desejado “crush”.
Por fim, o mais curioso. A migração recente, de tão intensa, passou a modificar a si mesma. Observa socióloga que estuda o fenômeno há mais de 20 anos, que nessa nova leva, é cada vez mais comum famílias emigrarem por completo e sem perspectiva de retorno. O que difere de quando o plano era ficar nos EUA por alguns anos e depois retornar ao Brasil para viver com o dinheiro que acumulou.
Com todos os membros de sua família já na condição de expatriados, o envio das famosas remessas para esta região, por parte do emigrante, também tende a diminuir, argumenta a pesquisadora.
Será o fim dos Valadólares?
“Nada do que se foi será, do mesmo jeito que já um dia …”